BlackRock: parem de achar que proteger floresta reduz rentabilidade
Para a maior gestora do mundo, o combate às mudanças climáticas trará benefícios econômicos que superam qualquer prejuízo com as perdas de alguns setores
Rodrigo Caetano
Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 10h25.
Não faz muito tempo, a poluição era encarada como um sinal de desenvolvimento econômico. Quanto mais fumaça saísse das fábricas, maior era a produção e o retorno ao acionista. Afinal, o único propósito de uma empresa seria dar lucro e remunerar seus investidores. No final de 2019, a ideia do retorno ao acionista caiu por terra, quando o Business Roundtable, grupo que reúne os CEOs das maiores empresas americanas, lançou uma carta rechaçando o conceito. Nesta quinta-feira, 26, foi a vez da poluição como sinal de desenvolvimento ser sumariamente cancelada pela maior gestora de ativos do mundo, a BlackRock .
Um estudo publicado pelo BlackRock Investment Institute (BII), braço de pesquisas econômicas da gestora, aponta que proteger o meio ambiente, além de não atrapalhar em nada o desenvolvimento, tem o potencial de gerar ganhos chineses para a economia, da ordem de 25%. Em resumo, o que a BlackRock diz é que o senso comum, compartilhado até por ambientalistas, de que o combate às mudanças climáticas tem um custo para a sociedade, é uma falácia. E que os investidores deveriam abraçar a transição para a economia de baixo carbono o mais rápido possível.
“Risco climático é risco de investimento, no entanto, há oportunidades significativas na transição para uma economia carbono zero”, afirmou Jean Boivin, líder do BII. “Quantificando essas oportunidades, podemos construir portfólios que se beneficiam dessa transição, o que faz parte da nossa responsabilidade fiduciária com os clientes.”
Retorno esperado
Os dados divulgados, na realidade, fazem parte do novo Capital Market Assumptions (CMA) da BlackRock, documento que reúne as expectativas de longo prazo das gestoras. O BII considera que a maioria das projeções econômicas ainda não consideram os custos potenciais de danos estruturais provocados pelas mudanças climáticas. Também deixam de fora os benefícios da transição dos combustíveis fósseis para as energias renováveis e os efeitos de novas políticas públicas associadas com as metas do Acordo de Paris.
Ao incorporar esses fatores nas suas projeções, a BlackRock chega ao porcentual de 25% de ganhos relativos a ações de prevenção contra mudanças climáticas, nas próximas duas décadas.
Vencedores e perdedores
Como em qualquer mudança desse calibre, a transição para a economia de baixo carbono irá produzir vencedores e perdedores. “Embora a transição energética promoverá crescimento econômico de forma geral, alguns setores estão mais bem posicionados”, disse Simona Paravani-Mellinghoff, CIO da divisão de soluções multi-asset da BlackRock. “Esperamos que o capital flua para ativos mais sustentáveis, que apresentarão melhor desempenho, separando os líderes dos retardatários.”
Entre os setores beneficiados estão os e tecnologia e de saúde, em função da baixa exposição a riscos climáticos. Já as empresas de energia não renovável e de serviços públicos devem sofrer.
Mercados emergentes
Nessa nova configuração econômica, mercados emergentes também apresentam maiores riscos. O CMA da BlackRock indica uma preferência por equities de países desenvolvidos, em detrimento das dívidas de maior retorno dos países em desenvolvimento. Melhor alinhamento com a transição climática, mercados de tecnologia e saúde mais avançados, menos vulnerabilidade aos riscos da transição energética e intensidade de carbono reduzida são os motivos apontados. A BlackRock tem sob sua gestão mais de 8 trilhões de dólares. Agora os investidores, e os políticos, sabem para onde esse dinheiro não vai. Resta a decisão de comprar ou apostar contra.