A estratégia do iFood para a redução de plástico nos restaurantes começa pela marmita
Pesquisa da empresa mostra que as "quentinhas" são a maior fonte de plástico nas entregas. Em entrevista à EXAME, André Borges, diretor de sustentabilidade do iFood, detalha o plano
Repórter de ESG
Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 07h10.
Última atualização em 29 de janeiro de 2024 às 15h35.
“Você quer talheres e canudos plásticos no seu pedido?”, a pergunta no aplicativo de entregas iFood ao final de uma compra é um dos exemplos de ações para a redução de uso de plástico na companhia e nos parceiros. Segundo André Borges, diretor de sustentabilidade do iFood , 80% dos clientes optam por não receber canudos e talheres. Isto é, uma economia de 1.800 toneladas de plástico em circulação desde 2020. Com outras iniciativas da plataforma interna chamada Amigos da Natureza, em 2023, o iFood reduziu o uso de plástico em 556,5 toneladas – o que corresponde a cerca de 92 caminhões de dois eixos.
Além de evitar o uso, o Ifood tenta substituir o plástico por outros materiais. “Apostamos muito em papel para trazer uma alternativa ao plástico. Pensando nisso, investimos na startup growPack, que busca desenvolver moldes e embalagens à base de palha de milho”, afirma Borges.
Mais de um milhão de reais foram investidos em projetos de materiais alternativos. A ideia agora é conseguir escalar o uso para que o preço diminua e se torne mais atrativo para os restaurantes parceiros. “Tentamos entender qual é o nosso papel para fornecer embalagens que sejam economicamente competitivas para os restaurantes”.
Quando, em 2021, o iFood rodou uma pesquisa sobre a natureza dos pedidos para entender de onde vinha a maior quantidade de plástico, um dos questionamentos foi: “Dos pedidos feitos, quantos por cento contam com plástico nas embalagens e quantos deles têm materiais biodegradáveis?”. Na época, 30% dos pedidos faziam uso de plástico e isopor. Hoje, 24% dos pedidos contam com componentes plásticos nas entregas.
A pesquisa concluiu que as três culinárias com mais uso de plástico, no período, eram: Comida brasileira – ou seja, as famosas marmitas – com 4,7 mil toneladas de plástico (26% do total de plástico do iFood), seguido de lanches, com 3 mil toneladas (14% do total) e comida asiática, com 2,6 mil toneladas de plástico (cerca de 14% do total).
Desde então, os restaurantes que não enviam plástico ou só enviam quando solicitado têm uma marcação especial: um selo verde, para que o consumidor possa entender que aquela opção é mais sustentável.
Em novembro de 2023, o iFood incluiu uma tag na avaliação da entrega pela qual o consumidor informa se a entrega contou com uma embalagem sustentável, como aquelas embalagens 100% recicláveis (livres de plástico), biodegradáveis e/ou compostáveis e retornáveis. A ausência pode ser marcada como uma avaliação negativa pelo cliente.
“Agora vamos voltar e trabalhar com esses dados e mostrar para o restaurante que essa é uma demanda que vai mexer na avaliação, que os clientes estão preocupados e olham para isso”, diz Borges.
Além disso, o iFood tem a meta de compensar as emissões de CO2 daquilo que não for possível reduzir o uso. Em 2023, toda a emissão de carbono do negócio foi compensada por meio do programa Reverte, e a empresa tem a expectativa de zerar a poluição plástica.
A conta deve incluir toda a operação, como as motocicletas à combustão, responsáveis pela maior parte das entregas. “Cerca de 98% do que o iFood emite nos escopos 1, 2 e 3 são provenientes das entregas”, diz Borges.
Desde 2020, apenas 8% das entregas são feitas por modais limpos, como bicicleta, mas a companhia tem a meta de até o final de 2025 alcançar o marco de 50%.
Hoje, 23% das entregas que são de responsabilidade do iFood são feitas dessa maneira. “Só comprar créditos não é o que vai resolver o problema, precisamos de ações para reduzir efetivamente as emissões de carbono”, afirma Borges.
Metas de sustentabilidade do iFood para 2024
Além das questões de plástico, para este ano, o iFood quer ter uma linha sustentável completa para oferecer às três frentes culinárias que mais usam plástico e emitem carbono. “Vamos oferecer embalagens a preços competitivos para os restaurantes”, afirma Borges.
“Além disso, queremos gerar entregas limpas. Temos uma parceria com a Tembici e estamos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Distrito Federal, Recife e Salvador com quase 20 milhões de entregas feitas com bicicletas e bicicletas elétricas desde 2021”. O iFood ainda tem a ambição de avançar a discussão sobre o uso de motos elétricas.
Parcerias com ONGs
As ONGs parceiras são escolhidas por três pilares de atuação: educação, meio ambiente e inclusão. “As ONGs do aplicativo circulam de alguma maneira nessas três vertentes, tem a SOS Mata Atlântica que é uma parceira super conhecida de meio ambiente. Temos parceria com a Todos Pela Educação e tem outras organizações que vão entrar na parte de inclusão da cidadania, como a Gerando Falcões e a CUFA (Central Única das Favelas)”, diz Borges.
De acordo com o diretor, o iFood já arrecadou para o SOS Mata Atlântica mais de um milhão de reais desde 2022. Agora, a empresa está com uma campanha em parceria para a recuperação de uma área degradada no interior de São Paulo por meio do plantio das árvores até 2028. Hoje, a companhia tem parceria com mais de 10 ONGs e, em 2023, foram doados R$ 4.204.199 para as parceiras.