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Zoellick afirma acreditar no livre-comércio. Será?

A julgar pela conversa do embaixador e representante de comércio americano Robert Zoellick, a onda protecionista que assola o mundo não transformou o liberalismo em causa perdida. "Acredito piamente no livre-comércio", afirmou Zoellick em uma conversa privada com jornalistas nesta quarta-feira (13/03) em São Paulo. Difícil mesmo é saber o sentido exato da expressão livre-comércio […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h21.

A julgar pela conversa do embaixador e representante de comércio americano Robert Zoellick, a onda protecionista que assola o mundo não transformou o liberalismo em causa perdida. "Acredito piamente no livre-comércio", afirmou Zoellick em uma conversa privada com jornalistas nesta quarta-feira (13/03) em São Paulo. Difícil mesmo é saber o sentido exato da expressão livre-comércio que sai da boca dele. Basta dar uma olhada no panorama. Será que, depois de tarifas de até 30% sobre o aço importado para os Estados Unidos, dos empecilhos regulatórios criados às importações agrícolas e de uma irrupção de barreiras e restrições retaliatórias de toda sorte pelo mundo, dá para acreditar em uma negociação justa de acordos como Alca que, a valer o próprio nome, deveriam fazer exatamente o contrário?

"Nas negociações da Alca e de outros acordos de livre-comércio com os Estados Unidos, absolutamente tudo está na mesa", afirmou Zoellick. "O Brasil tem uma equipe de negociadores extremamente capaz e acho risível qualquer insinuação de que eles não sejam duros o bastante." Embora, até o momento, a prática do governo republicano tenha sido bem diferente do discurso liberal, Zoellick procura transmitir a impressão de que o seu país apenas lidera uma corrida pela liberalização em que é preciso, em alguns momentos, tomar a dianteira com atitudes unilaterais como as barreiras ao aço. Eis os argumentos dele:

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Sobre as tarifas: "As barreiras à importação do aço são um processo temporário. Não se trata de um passe livre para a indústria. Eles terão de se adaptar e de se tornar mais competitivos, porque daqui a três anos, não haverá mais proteção para quem não estiver com tudo em ordem e, de acordo com as regras da OMC, os outros países terão o direito de retaliar".

Sobre a indústria siderúrgica: "Não acredito que gastar 50 bilhões de dólares de dinheiro público para reerguer a siderurgia americana fosse a solução. A Europa fez isso e foi um dos piores desastres de política industrial. Foi o envolvimento do governo no setor que gerou toda a ineficiência que precisamos combater. As barreiras são hoje provavelmente a melhor coisa que poderia acontecer para dar tempo para a siderurgia americana. Eles perderam 640 000 empregos desde 1994 e precisam de tempo para se modernizar".

Sobre agricultura: "O Brasil é um país muito competitivo nesse setor. Na Organização Mundial do Comércio, os Estados Unidos serão provavelmente o fiel da balança na questão agrícola. E aí há setores na sociedade americana que aceitam competir, e outros que querem proteção. Claro que podemos abrir exceções às nossas restrições ( há 521 produtos agrícolas que os Estados Unidos consideram sensíveis e que estão sujeitos a tais restrições ), mas exigimos um cuidadoso processo de justificativa. Não tiramos nada da mesa de negociações da Alca."

Sobre propriedade intelectual: "Enquanto a indústria farmacêutica pedia que lutássemos a todo custo contra a quebra de patentes, tomamos a decisão oposta. Discuti o assunto pessoalmente em Doha com os ministros Celso Lafer e José Serra e depois fui eu mesmo dizer às empresas americanas que havia um ponto legítimo em questão. Se as leis não permitissem que os países lidassem com pandemias como a da Aids, então elas não sobreviveriam. Se a política comercial não estiver alinhada com os valores sociais, é ela quem vai perder. E nós, da representação comercial, não somos meros porta-vozes dos interesses das multinacionais".

Sobre o Brasil: "Houve uma transformação substancial do país e acredito que ele esteja se movendo na direção correta. Vim aqui especialmente para encorajar isso, para demonstrar o meu respeito e para ver como o caminho brasileiro deve ser mantido. Se o Brasil quiser se tornar mais competitivo, é preciso continuar nessa mesma direção. Há problemas com alfândegas, portos, entrega just-in-time. A reforma comercial é apenas um pedaço de um pacote geral de reformas que o país atravessa. Nesse ano eleitoral, foi importante ouvir a opinião de todos os partidos no Congresso e ver que, assim como nós nos Estados Unidos, também há no Brasil um debate vigoroso sobre as vantagens e desvantangens do livre-comércio. Nos Estados Unidos, também é difícil convencer as empresas locais das vantagens de uma maior abertura comercial".

Sobre retaliações: "Transmiti ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao ministro Celso Lafer nossos esforços para prestar uma atenção especial ao caso brasileiro. Eles certamente perceberam isso. Se houver retaliação, isso poderia transmitir uma impressão errada e dar um sinal de instabilidade a investidores e a quem faz negócios no Brasil."

Sobre as negociações da Alca: "Não há nenhuma escassez de países que chegam aos Estados Unidos pedindo acordos de livre-comércio. Eu pessoalmente tenho mais pedidos desse tipo do que posso tratar. O Brasil e os Estados Unidos partilham a presidência da negociação que levará à Alca. Acreditamos no livre-comércio e esperamos que vocês possam trabalhar conosco para chegarmos l".

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