Economia

Venezuela tem 20 toneladas de ouro prontas para partir. Rússia vai levar?

Afirmação de deputado venezuelano gerou especulações e avião da Rússia, aliada do regime de Maduro, pousou no país na segunda-feira

O presidente Nicolas Maduro com barras de ouro durante encontro com ministros em 22/03/2018 (Marco Bello/Reuters)

O presidente Nicolas Maduro com barras de ouro durante encontro com ministros em 22/03/2018 (Marco Bello/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 15h43.

Última atualização em 31 de janeiro de 2019 às 15h54.

O deputado venezuelano José Guerra lançou uma bomba no Twitter na terça-feira: o Boeing 777 russo que havia aterrissado em Caracas na véspera chegou para transportar em sigilo 20 toneladas de ouro dos cofres do banco central do país.

A afirmação gerou uma onda de especulação e indignação nas redes sociais. Indagado como sabia a respeito, Guerra não apresentou evidências.

Será apenas mais um comentário estranho de um parlamentar tentando chamar a atenção para a situação difícil de uma Venezuela devastada pela crise? Talvez não.

Por um lado, Guerra é ex-economista do banco central e continua em contato com antigos colegas de lá. Por outro, uma pessoa com conhecimento direto do assunto disse à Bloomberg News na terça-feira que 20 toneladas de ouro haviam sido separadas para embarque no banco central.

Avaliado em US$ 840 milhões, o ouro representa cerca de 20 por cento das reservas venezuelanas do metal, disse a pessoa. Ela não forneceu mais informações sobre os planos para estas barras.

O autoritário presidente Nicolás Maduro está perdendo o controle das já escassas finanças e reservas do país devido às sanções dos EUA, e por isso virou questão fundamental saber quem pode colocar as mãos no total estimado de 200 toneladas de ouro do país guardadas internamente e no exterior.

O país deve bilhões a seus protetores Rússia e China e aos detentores de bônus, e também precisa de moeda forte para comprar alimentos para seu povo faminto.

A Venezuela tenta ampliar suas reservas de ouro há anos incentivando a mineração e colocando o Exército no comando de vastos territórios que produzem o metal precioso. A processadora de ouro estatal Minerven funde o minério para transformá-lo em barras, que são transportadas para bases aéreas no entorno de Caracas por aeronaves militares. Soldados descarregam o metal com regularidade em veículos blindados com destino ao banco central e a outras partes.

Os EUA vêm trabalhando para colocar o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que afirma ser o presidente legítimo do país, no comando das finanças venezuelanas, e também para privar o regime.

Na semana passada, o Banco da Inglaterra negou o pedido de altos funcionários do governo de Maduro para retirar US$ 1,2 bilhão em ouro armazenado lá depois que importantes autoridades dos EUA, como o secretário de Estado, Michael Pompeo, e o conselheiro de segurança nacional, John Bolton, pressionaram seus homólogos britânicos a cortar o acesso do regime aos ativos mantidos no exterior.

Na segunda-feira, um avião pertencente à Nordwind Airlines, uma popular operadora russa de voos fretados com sede em Moscou, pousou no aeroporto internacional próximo a Caracas, segundo o website de monitoramento de voos FlightRadar24. Um porta-voz da Nordwind preferiu não comentar, na quarta-feira, qual é a finalidade do voo.

O ministro de Economia e Finanças, Simón Zerpa, preferiu não fazer comentários sobre o ouro do país e disse também que não havia nenhum avião russo no Aeroporto Internacional Simón Bolívar.

“Vou começar a trazer aviões russos e turcos toda semana, assim todos ficam com medo”, disse.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia não tem informações sobre o jato fretado, informou a porta-voz Maria Zakharova em mensagem, na quarta-feira. Não há planos de evacuação de russos na Venezuela, disse ela.

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