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Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2009 às 18h46.
O impacto da crise sobre a renda das famílias e o ritmo com que mundo sairá dela são duas das questões que mais preocupam os homens de negócios que participaram, nesta segunda-feira (11/5), do EXAME Fórum, em São Paulo. O evento reuniu, pela primeira vez no Brasil, três nobéis de Economia para discutir a grave crise que sacode o mundo desde meados de 2007.
Veja, a seguir, a avaliação dos executivos presentes ao Fórum sobre as apresentações de Joseph Stiglitz, Edward Prescott e Robert Mundell, além da do ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto.
Gustavo Marin Garat, presidente do Citibank no Brasil
É interessante observar as diferenças entre as visões de [Joseph] Stiglitz e de [Edward] Prescott, principalmente em relação a perspectivas de recuperação da economia mundial. Não me atreveria a tentar prever a velocidade com que isso vai acontecer. Mas, analisando os dados trazidos, podemos ver que houve, sim, um impacto muito grande na riqueza dos países que foi sinalizado muito claramente pelos dois.
Prescott sinalizou de uma forma mais grave, pois mediu os impactos por meio do PIB. Provavelmente a recuperação da perda da riqueza vai levar um tempo. Essa é a aposta de um milhão de dólares: com que velocidade essa perda que ocorreu com os consumidores, em especial com as famílias americanas, vai ser sanada e vai impactar na recuperação da demanda.
Quanto a queda da riqueza das famílias americanas influencia na demanda agregada do México e como isso vai ser refletido no resto do mundo. Isso supondo que, nos últimos anos, o propulsor da economia mundial foi a demanda americana. Foram retomados temas amplamente debatidos com a crise de forma bem aprofundada. Me pergunto até que ponto essa lentidão da recuperação da demanda americana vai impactar no crescimento da economia do mundo.
Antônio Carlos Valente, presidente da Telefônica
Acho que, ao longo dos últimos anos, o Brasil agiu corretamente, se fortaleceu. Não é à toa que hoje é considerado um dos atores propulsores da recuperação. Tornou sua economia e sua indústria mais competitiva, com políticas macroeconômicas responsáveis, com melhoria em infraestrutura – e, nesse ponto, acredito que a telecomunicação tem uma importância extremamente relevante nisso. O Brasil tem itens de exportação muito amplos e um conjunto de mercados amplo e por isso está sofrendo com a crise de maneira menos intensa que outras economias do mundo.
O que esperamos é que, no novo sistema de governança, o Brasil possa contribuir com suas experiências e equívocos passados e que consigamos ter um novo conjunto de políticas que fomente o comércio, a transparência e que produza efeitos benéficos e globais o mais rápido possível.
Apesar da visão de [Joseph] Stiglitz, nossa obrigação é mantermos o otimismo. Acho que cabe encararmos todas as preocupações sob o aspecto de alerta e trabalharmos para que isso não se concretize. E realmente espero que tenhamos iniciado um processo, ainda que gradualmente lento, de recuperação da economia brasileira e que isso ocorra nos outros países do mundo. Agora, o processo de seleção de nossos projetos é muito mais rigoroso, mas estamos mantendo nossas previsões de investimentos.
Cledorvino Belini, presidente da Fiat no Brasil
O Brasil está em posição privilegiada. Juntamente com a China, tem condições de se sair melhor na crie que os demais países. Esse trimestre deve ser bom, porque o trimestre passado foi muito ruim. Ainda há espaço para uma redução maior de juros, o que fortaleceria o mercado interno e permitiriauma recuperação mais rápida. O Estado, como destacou Delfim Netto, é peça fundamental nesse cenário, não pode errar a medida e tem que agir no momento certo.
O setor automotivo foi duramente impactado no mundo inteiro, no Brasil também. Mas no Brasil o problema foi contornado pela rápida interferência do Estado, tanto pela injeção de crédito, como pela redução do IPI. Isso, aliado à redução dos juros, está fazendo com que o país tenha uma indústria automobilística em boas condições.