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Ultrapassada, agricultura atual pode nos destruir, diz Alvin Toffler

Para o futurólogo americano, é preciso promover uma nova revolução no campo, se o mundo quiser alimentar bem a todos

Toffler: agricultura é a mesma há 200 anos (--- [])
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h20.

O futurólogo americano acredita que só uma revolução tecnológica na agricultura poderá ampliar a capacidade de produção de alimentos no mundo. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida a EXAME.

EXAME - As Organizações das Nações Unidas projetam uma população mundial de cerca de 8,5 bilhões de pessoas até 2030. Se hoje já existem dificuldades de abastecimento, como alimentar todas essas pessoas no futuro?
Alvin Toffler - Embora eu duvide um pouco das estatísticas da ONU, existe claro um grande aumento da população. E o problema é que a agricultura de hoje foi moldada para uma era industrial. Ainda é feita uma agricultura primitiva em muitos lugares no mundo. Existem milhões de produtores pobres cultivando alimentos do mesmo jeito que seus ancestrais faziam milhares de anos atrás. Isso é ridículo.

EXAME - Parte da população dos países em desenvolvimento está comendo mais e melhor em função do aumento de renda. A crise dos alimentos não seria um reflexo da prosperidade conquistada nesses lugares?
Toffler - Claro que sim. Mas nós sabemos que existem ainda milhões de pessoas que passam fome. Nós não podemos aumentar a população mundial, alimentando todos bem e cuidando de todas as crianças, com a tecnologia que temos hoje. A tecnologia de hoje está atrás das nossas necessidades. A maior parte da tecnologia utilizada na agricultura mundial hoje ainda é da era industrial. Embora os agricultores saibam quando uma tempestade virá ou quando a seca irá chegar, eles na verdade conhecem apenas uma fração do que eles poderiam ou deveriam saber. E isso ajudará a mantê-los pobres. Mesmo os fazendeiros mais preparados nos países ricos desperdiçam trabalho, energia, fertilizantes e ainda causam sérios problemas ambientais. E esse é o mundo do passado.

EXAME - Mas como lidar com as resistências em relação a tecnologias como, por exemplo, os transgênicos?
Toffler - É óbvio que os transgênicos envolvem um processo perigoso. Mas lidamos todos os dias com vários processos perigosos para a sobrevivência das pessoas. E acho que tentar brecá-los é totalmente absurdo. Acho que os transgênicos são suficientemente seguros para as pessoas. Mas eles seriam apenas uma parte dessa revolução.

EXAME - Ainda assim as pessoas têm medo de comida high-tech.
Toffler -
As resistências ocorrem em dois níveis. Um deles vem dos próprios produtores que têm medo de testar algo novo. Eles são muito conservadores. A razão é óbvia, afinal eles têm muito a perder. Se eles falharem, eles podem morrer. Outro nível de resistência vem dos ambientalistas .

EXAME - Nos anos 60, a Revolução Verde iniciou uma série de avanços com fertilizantes, defensivos, sementes melhoradas que geraram um grande aumento da produção agrícola. O senhor. acha que aquilo foi só o começo?
Toffler - Nós não vimos nada. Estamos apenas no começo. O que fazemos hoje é ultrapassado. E mesmo onde se pratica a mais avançada agricultura, creio ser primitiva diante do que vamos ver. Precisamos cruzar as tecnologias que existem hoje no mundo e aplicá-las para a agricultura. Imaginar que vamos comer as mesmas coisas, que teremos os mesmos recursos naturais ou utilizaremos a mesma tecnologia é incorreto. É claro que isso não resolve o problema de crianças que estão com fome hoje. E precisamos fazer algo a respeito.

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Assista à reportagem de EXAME sobre a inflação dos alimentos no mundo, com entrevistas exclusivas do futurólogo Alvin Toffler; e dos ex-ministros Roberto Rodrigues e Rubens Ricupero ( clique aqui ).

EXAME - O senhor acha que essa crise dos alimentos pode ser uma oportunidade para a agricultura?
Toffler - Existem dois problemas. Um é o que vamos fazer, pois as pessoas precisam de comida. E isso certamente irá recair sobre governos e empresas. Mas isso não muda o longo prazo. E o que parece é que só conseguiremos mudar esse retrato através de uma grande explosão tecnológica que altere o padrão de produção. Temos de olhar para o que está ocorrendo em diferentes segmentos de pesquisa - e não só a pesquisa agrícola. Avanços obtidos com pesquisas militares tiveram grande sucesso na aplicação civil. Talvez da combinação de pesquisas em áreas improváveis virão soluções realmente novas. As populações não vão ser destruídas por novas tecnologias - mas sim pelas velhas tecnologias. É a agricultura de ontem que é mais perigosa que a de manhã, porque ela não está obviamente dando conta das necessidades de comida.

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