Economia

Três meses de deflação não preocupam economistas

Para analistas, terceira queda consecutiva do IGP-DI não representa demanda reprimida, nem retração econômica pois resulta, especialmente, da valorização do real

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h41.

Pelo terceiro mês consecutivo, a economia brasileira registra uma queda nos preços. A deflação poderia sinalizar problemas para a indústria e o comércio, como a redução da demanda ou o achatamento das margens de vendas. Poderia, mas não representa. A redução de 0,40% nos preços em julho, apontada pelo Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), apenas reflete o resultado da valorização do real, que ajudou a cortar os preços no atacado. "As três deflações não indicam demanda reprimida, nem recessão econômica. Pelo contrário, os indicadores de atividade ainda são favoráveis", diz o economista Raphael Castro, da consultoria LCA. Em junho, o IGP-DI registrou 0,45% e, em maio, 0,25%.

Sandra Utsumi, economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), concorda com Raphael Castro. "O que pesou na deflação foi o câmbio, que influenciou os preços no atacado", afirma. Segundo os economistas, o IGP-DI, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um indicador mais sensível às flutuações cambiais do que outras referências de inflação, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza oficialmente as metas do governo.

A desvalorização do dólar frente ao real barateou as commodities agrícolas e industriais nos últimos meses e afetou, diretamente, o Índice de Preços por Atacado (IPA), sensível à moeda estrangeira. Em julho, o IPA recuou 0,69%, contra 0,78% em junho e 0,98% em maio. Além do dólar, o IPA foi afetado pela entrada da safra de cana-de-açúcar no mercado em junho, que reduziu o preço do álcool combustível.

Componentes do índice

O IGP-DI é composto por três índices IPA, preços ao consumidor (IPC); e custos da construção (INCC). O IPA é o que apresenta maior peso na composição final do IGP (60%), seguido pelo IPC (30%) e INCC (10%). Por isso, as quedas no atacado, motivadas pelo câmbio, foram o principal fator para as deflações do IGP-DI nos últimos três meses. Os outros componentes apresentaram variações positivas neste período com exceção de um ligeiro recuo de 0,05% no IPC de junho.

Em julho, o núcleo do IPC (indicador que desconsidera as maiores variações de preços) subiu 0,30%. Trata-se da menor variação desde outubro de 2000, de acordo com a FGV. Para Sandra, do BES, a deflação no atacado está ajudando a conter os preços na ponta do consumo. "Se não fosse a deflação dos produtos agrícolas, o IPC seria maior, devido ao reajuste de tarifas públicas", diz. O item alimentação, por exemplo, registrou queda de 0,64% para o consumidor, em julho. Já as tarifas de telefonia fixa subiram 4,25%.

Expectativas

Os analistas não esperam novas deflações nos próximos meses, mas apostam em resultados moderados para o IGP. O BES, por exemplo, estima um IGP-DI de 0,18% em agosto. Para o acumulado do ano, o banco projeta 3,76%. Já a LCA estima que o indicador feche o ano entre 3,6% e 3,7%. "O índice só voltará a apresentar taxas mensais próximas a 0,50% a partir de setembro ou outubro", diz Sandra, do BES.

Para Castro, da LCA, a taxa de câmbio relativamente estável até dezembro tenderá a reduzir as deflações de preços industriais e agrícolas. A consultoria projeta uma taxa de 2,55 reais por dólar para o final do ano. Apesar de ser maior que a média de 2,35 reais dos últimos dias, a desvalorização não impactará fortemente os preços no atacado, porque as empresas costumam utilizar taxas de câmbio médias nos contratos e protegidas por mecanismos como o hedge e o swap. "Esses instrumentos vão amenizar as flutuações", diz Castro.

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