TCU vê fraude na renovação das concessões de rodovias
Governo publicou uma medida provisória para permitir manobra de renovação, mas TCU já viu indícios de fraude
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 10h44.
Brasília - Cinco dias depois de o governo publicar uma medida provisória para permitir a renovação antecipada das concessões de rodovias, o Tribunal de Contas da União ( TCU ) votará em plenário processo no qual conclui ser "fraude" a mera hipótese de aventar esse tipo de prorrogação.
Em voto que será apresentado nesta quarta-feira, 30, na corte, o ministro Walton Alencar - relator do processo que trata da renovação antecipada de contrato da concessionária que atua na estrada Rio-Petrópolis - aponta uma série de irregularidades cometidas pelo Ministério dos Transportes e pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ele sugere multas a vários diretores da agência reguladora.
O contrato da Concer, que detém a exploração da concessão da BR-040 do trecho Juiz de Fora (MG) - Petrópolis (RJ) pelo prazo de 25 anos, tem previsão de acabar em 2021.
A construção da Nova Subida da Serra, entre os municípios de Duque de Caxias e Petrópolis, constava do Programa de Exploração Rodoviária (PER) como obrigação da concessionária.
Não havia, porém, projeto ou orçamento para a obra, apenas dotação estimada em R$ 80 milhões a preços de 1995.
Mesmo assim, em 2011, a ANTT aprovou o projeto da obra. Depois de quase um ano, a Concer assinou um termo aditivo com a agência, no valor total de R$ 1,325 bilhão, a ser pago com recursos públicos ou por meio da prorrogação do contrato pelo prazo de 17 anos e meio.
A análise da unidade técnica do TCU e do Ministério Público com o tribunal concluiu que não houve nem sequer previsão de orçamento para quitar a dívida, além de a possibilidade de prorrogação não estar prevista no contrato original.
"Não há no contrato, nem no edital, previsão para a prorrogação pretendida, nem há, no processo de celebração do 12.º termo aditivo, nenhuma justificativa para a inserção dessa cláusula, restando plenamente configurada a irregularidade", declara o ministro em seu voto, conforme relatório ao qual o jornal "O Estado de S. Paulo" teve acesso.
"Considero, portanto, fraude aos termos do contrato e do edital a mera hipótese de aventar a prorrogação, absolutamente inviável ética e juridicamente, por lesiva ao Erário e ao interesse público."
Depois de ouvir as explicações da ANTT, o ministro propôs multa individual de R$ 54 mil, o máximo previsto nos normativos do TCU, a diversos diretores da agência, entre eles o diretor-geral, Jorge Luiz Bastos, a ex-diretora Natália Marcassa (atual subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil). Walton pede, ainda, que o desconto seja feito no contracheque dos responsáveis.
O governo vem defendendo a renovação antecipada do contrato como forma de retomar investimentos. Procurados pela reportagem, os diretores não se posicionaram até o fechamento desta matéria.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.