Sonho dos superbancos europeus está cada vez mais distante
O sistema bancário da Europa está mais fragmentado — não menos — 10 anos após a crise da dívida soberana que abalou suas estruturas
Ligia Tuon
Publicado em 23 de fevereiro de 2020 às 09h00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2020 às 09h00.
Muitos líderes de bancos em apuros na Europa concordam que a solução é um movimento de consolidação que criaria superbancos transcontinentais. Esta solução, no estilo adotado pelos americanos, está cada vez mais distante.
O sistema bancário da Europa está mais fragmentado — não menos — 10 anos após a crise da dívida soberana que abalou suas estruturas. Embora aceitem algumas fusões domésticas, os políticos resistem à ideia de junções maiores.
Os efeitos ficam nítidos nos empréstimos transnacionais: os empréstimos em aberto de bancos da França, Alemanha, Holanda e Reino Unido estão US$ 1 trilhão menores nos chamados países periféricos — Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália — do que antes da crise, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS).
O recuo começou logo após a crise financeira global de 2008. Enquanto salvavam seus bancos, governos da União Europeia exigiram que os empréstimos futuros se concentrassem no território nacional. A fragmentação piorou após o resgate da Grécia pelos parceiros de bloco da UE em 2010, seguido de problemas na Espanha e Itália. A chamada união bancária, um projeto da UE para criar um sistema financeiro unificado, ainda não chegou à metade do processo de conclusão.
“O sangramento parou, mas o sangue não foi recuperado”, explicou Jan Schildbach, pesquisador-chefe para bancos e mercados financeiros no Deutsche Bank em Frankfurt. “Nós não vimos a restauração da confiança no sistema bancário da região. Isso impediu o fluxo de capital para os países periféricos.”
As taxas de juros oferecem mais evidências de que a meta de um banco pan-europeu está longe do alcance. Tomadores de empréstimos nas quatro maiores economias do continente pagam significativamente menos que nos países periféricos.
Em um dos três pilares da iniciativa da união bancária do bloco, o Banco Central Europeu tornou-se o principal regulador de mais de 100 dos maiores bancos da UE em 2014. O segundo pilar, um mecanismo de resolução unificado para cuidar de bancos enfraquecidos, entrou em vigor em 2016. Não houve acordo sobre como implementar a etapa final, um programa centralizado de garantia de depósitos.
Apesar de ter se tornado um supervisor de bancos centrais, o BCE não substituiu reguladores locais nem tirou poder dos governos nacionais, que ainda se recusam a permitir que os bancos sob sua autoridade quebrem ou sejam substituídos por instituições de outros países.
Embora o BCE tenha manifestado apoio a fusões transnacionais, os políticos não olham favoravelmente para essas combinações, especialmente se forem forçados a abrir mão de seus campeões nacionais.
Em 2017, quando o BCE designou um pequeno banco espanhol e dois italianos como “quebrando ou provavelmente a caminho de quebrar”, o governo da Itália orquestrou um resgate de 17 bilhões de euros (US$ 18,3 bilhões). No ano passado, a Alemanha rejeitou uma oferta privada por uma fatia no Norddeutsche Landesbank-Girozentrale em favor de um resgate estatal de 3 bilhões de euros. A Espanha foi a exceção. O país concordou com a prescrição do BCE e permitiu que os credores de seu banco falido amargassem perdas em uma fusão com um rival maior, que foi organizada pelo BCE.