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"Só na 2ª metade da década teremos ritmo pré-covid", afirma Mario Mesquita

Para o segundo trimestre, o economista-chefe do Itaú Unibanco espera queda de 10,6% do produto interno bruto e, com isso, o ano encerra com recuo de 4,5%

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco. Março de 2018 (Sarah Pabst/Bloomberg)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de maio de 2020 às 10h46.

Apesar de o primeiro trimestre ter sentido pouco a crise econômica decorrente da pandemia, dado que a quarentena começou apenas no fim de março, o período concentrou alguns dos piores dias de atividade econômica que o País deverá registrar no ano. "Em termos de PIB, o pior momento será o segundo trimestre. Em termos de atividade diária, o fundo do poço foi no fim de março e início de abril", diz o economista-chefe do Itaú Unibanco , Mario Mesquita.

Segundo ele, é preciso aguardar o resultado do segundo trimestre para confirmar a magnitude da recessão de 2020 - o Itaú projeta -4,5%. Para se recuperar dessa queda histórica, serão necessários anos, acrescenta. "Para atingir o nível que chegaria sem a pandemia, mantendo a trajetória de crescimento que tínhamos, provavelmente só na segunda metade da década", afirma. A seguir, trechos da entrevista.

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Com exceção da última quinzena de março, a economia funcionou normalmente no primeiro trimestre. Essa queda de 1,5% no período significa que a atividade já estava em desaceleração ou ela é relativa a esses últimos 15 dias de março mesmo?

É difícil dizer. A gente começou a calcular o indicador de atividade diária no início da quarentena. Os indicadores que tínhamos até março apontavam para um crescimento modesto, em torno de zero, um pouquinho positivo. A economia não estava acelerando muito, mas, de fato, teve um baque forte a partir da segunda quinzena de março. O resultado veio em linha com o esperado. Acho que terá muito mais debate sobre o segundo trimestre, que vai ser decisivo para o PIB do ano.

Não dá então para dizer que a queda de 1,5% está em linha com a retração esperada para 2020? Precisamos esperar o segundo trimestre?

Com certeza. Para o segundo trimestre, a gente espera queda de 10,6% e, com isso, fechamos o ano com -4,5%. Mas outras instituições estão projetando queda de 15%. Aí, a queda no ano fica na faixa de 6% ou 7%. Todos os trimestres contam, mas a informação do segundo trimestre vai ser muito importante, dado que a gente espera que, no terceiro trimestre, estejamos saindo do distanciamento social.

Qual o impacto da crise política na economia?

Tudo que traz incerteza é ruim para a atividade econômica. Instabilidade política, na medida em que torna o futuro da agenda de reformas e da condução das políticas econômicas mais incerto, também atrapalha a retomada.

Os Estados Unidos e a Europa estão com pacotes fiscais para impulsionar a recuperação econômica. Esse caminho é viável para o Brasil?

A gente já vai ter um déficit primário neste ano superior a 10% do PIB. Acho que o espaço fiscal está sendo usado. Na verdade, a gente nem tinha espaço. Mas me parece que, no Brasil, o peso da retomada ainda recai sobre a política monetária. A política monetária e o crédito serão os instrumentos para a recuperação. Segundo nosso indicador de atividade diária, o fundo do poço foi na virada de março para abril. Desde aí, a atividade veio se recuperando com idas e vindas. O indicador era 100 antes da crise. No pior momento, caiu para 55 e, agora, tem oscilado entre 65 e 75. Então, já houve uma recuperação. Para ter uma recuperação mais consistente, precisamos superar o distanciamento social, que, por sua vez, requer que a gente vire a curva da pandemia.

O número de novos casos de covid-19 ainda é crescente. A atividade diária não pode, portanto, voltar ao fundo do poço?

Essa é uma preocupação. Mas achamos que, em termos de PIB, o pior momento será o segundo trimestre. Em termos de atividade diária, o fundo do poço foi no fim de março e início de abril.

Quanto tempo o País deve levar para voltar ao nível pré-pandemia?

Ao nível pré-covid, a expectativa é que volte em meados de 2022. Agora, para atingir o nível que chegaria sem a pandemia, mantendo a trajetória de crescimento que tínhamos, provavelmente só na segunda metade da década. Pode acontecer algum choque positivo, que a economia comece a crescer mais, as reformas comecem a ter mais efeito. Mas, olhando tendência, com certeza não antes de 2022, 2023, provavelmente depois disso.

Qual é o cenário para o mercado de trabalho?

A taxa de desemprego vai subestimar a real deterioração do mercado de trabalho, porque, para a pessoa contar como desempregada, ela tem de estar procurando emprego. No momento em que você tem regras de distanciamento social, muita gente não consegue procurar emprego. Esse contingente não vai aparecer na estatística. O desemprego provavelmente vai continuar subindo até, talvez, a metade ou o fim do terceiro trimestre.

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