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Setores sustentados em crédito crescem mais que os em renda

Consumo das famílias apresentou alta nominal de 10,7% no primeiro trimestre, mas expansão foi maior nos segmentos apoiados no crédito

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h00.

A economia brasileira está cada vez mais dependente do crédito para continuar em expansão, segundo mostram diversos indicadores de consumo e renda. Enquanto os segmentos mais dependentes da renda do consumidor cresceram abaixo da média nacional, no primeiro trimestre, os setores apoiados tradicionalmente no financiamento decolaram.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o faturamento nominal do comércio varejista subiu 12,8% no primeiro trimestre. As categorias que mais dependem da renda, porém, registraram um desempenho abaixo da média. É o caso dos hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, grupo que cresceu 7,95%; e dos artigos farmacêuticos e de perfumaria, com alta de 7,8%.

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Do outro lado, móveis e eletrodomésticos, categoria que tradicionalmente se baseia no crédito, avançaram 24,7%. Outro setor, o de equipamentos para informática, comunicação e escritório, fechou o trimestre 18,7% maior. Já o segmento de tecidos, vestuário e calçados é considerado intermediário nesta escala, dependendo tanto da renda quanto do crediário. O resultado é que seu crescimento ficou bem próximo ao da média nacional: 12,16%.

Renda versus crédito

Para os especialistas, a análise desses dados mostra claramente que a expansão econômica é sustentada pelos financiamentos. "O que está sustentando o comércio, de fato, é o crédito e não o nível de renda", afirma Fernanda Della Rosa, diretora da assessoria econômica da Federação de Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio).

Entre janeiro e março, o consumo das famílias somou 252,506 bilhões de reais um crescimento nominal de 10,7% em relação a igual período do ano passado, de acordo com o IBGE. Não é possível atribuir esse resultado apenas à expansão da renda, no período, já que a massa salarial cresceu apenas 5,9% - 3,9% devido à ampliação do contingente ocupado e 2% à recuperação de renda. Nos últimos 12 meses encerrados em março, o consumo das famílias cresceu 4,4%, impulsionado pela massa salarial maior (5,7%) e, sobretudo, pelas operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas, que avançaram 26,1%, segundo o IBGE.

Saturação

A expansão do crédito não é, propriamente, um problema. Enquanto países desenvolvidos, como os Estados Unidos, apresentam uma taxa de crédito equivalente a 100% ou mais de seu Produto Interno Bruto (PIB), no Brasil, essa proporção está ao redor de 28%. O ponto preocupante, de acordo com os especialistas, é justamente o contrário o rápido limite de endividamento das famílias brasileiras, que contam apenas com uma pequena parcela de seus rendimentos disponível para contrair dívidas.

De acordo com o Programa de Administração em Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA), no primeiro trimestre, apenas 9,66% da renda familiar mensal dos brasileiros estava livre para compras programadas, como as de bens duráveis e semiduráveis, que requerem financiamento.

Segundo a última pesquisa de intenção de consumo da FIA, os consumidores de baixa renda estão dando sinais de que chegaram ao seu limite de endividamento. "Provavelmente, essas pessoas já comprometeram toda a sua renda livre", diz Claudio Felisoni de Angelo, coordenador da pesquisa. Um sinal é o aumento da inadimplência, segundo Felisoni. Com isso, o crédito, que sustentou parcela importante da expansão do país até agora, pode perder sua capacidade de ajudar a economia nos próximos meses. "As perspectivas para o segundo semestre não são favoráveis", diz Felisoni.

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