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Emprego de escritório será automatizado, diz VP da maior empresa do ramo

Em entrevista para EXAME, Anubhav Saxena cita finanças, saúde, varejo, mídia como setores onde trabalho será radicalmente modificado

Anubhav Saxena, vice-presidente executivo da Automation Anywhere (Automation Anywhere/Divulgação)

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de maio de 2018 às 08h00.

Última atualização em 12 de maio de 2018 às 08h00.

São Paulo - "O que estamos automatizando agora não é mais o trabalhador de fábrica, é o de escritório".

A frase é de Anubhav Saxena, vice-presidente executivo da Automation Anywhere, empresa líder mundial em tecnologia em software para automação de processos.

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Nesta semana, eles anunciaram oficialmente o início de suas operações no Brasil por meio de seu representante, a SmartForce.

"O Brasil está de 2 a 2 anos e meio atrasado em relação aos países mais desenvolvidos nessa área. Mas adotar lentamente não é problema", diz ele.

A empresa tem Google, Cisco, Siemens e GM entre seus clientes e Deloitte, KMPG e Accenture entre seus parceiros.

Em São Paulo, Saxena conversou com EXAME sobre o futuro do mercado de trabalho e dos processos de produção em meio à quarta revolução industrial:

EXAME - A tecnologia sempre foi parte do processo produtivo, mas agora se fala em uma revolução. O que há de novo?

Anubhav Saxena - Quanto mais velha a indústria, mais ela demorou para se automatizar. Em 1900, 96% dos empregados nos Estados Unidos eram na agricultura. Em 2000, eram 4%, mas produzindo muito mais por causa da automação. A mesma coisa aconteceu em têxteis, automóveis, etc.

Na agricultura, estavam sendo superadas as limitações físicas dos humanos e animais. Em têxteis, você estava automatizando a linha de produção; era a eficiência.

O que estamos automatizando agora não é mais o trabalhador de fábrica, é o de escritório, e o negócio para negócio. Por isso é diferente.

Outro exemplo é o atendimento de voz: quando você ligava pedindo ajuda, era um humano, depois virou uma máquina com respostas automáticas via comando. Agora, a própria tecnologia da informação está passando pela automação, o que exige um processamento muito mais alto.

Isso significa automatizar digitação, movimento do mouse, julgamento e tomada de decisões - o que é muito humano. Os mesmos sistemas que automatizavam tarefas antes hoje precisam ser automatizados.

E quão avançado está o Brasil neste processo?

Do ponto de vista de adoção da tecnologia, o Brasil está de 2 a 2 anos e meio atrasado em relação aos países mais desenvolvidos nessa área. Mas adotar lentamente não é problema, porque você não precisa fazer os erros que os outros fizeram: pode pular etapas.

Minha visão é que o Brasil vai fazer isso muito rápido. Para nós, é um mercado estratégico: uma das maiores economias do mundo, com grande população, alto nível de industrialização, pessoas que olham adiante e onde o uso da tecnologia teve um grande salto nos últimos anos.  Vai avançar rápido, como vimos em outros economias.

Onde são os maiores ganhos potenciais em produtividade?

Bancos e serviços financeiros têm o maior legado [métodos antigos], o que não deve ser um fardo – é onde será o maior ganho de eficiência. Telecomunicações, manufatura, cuidados de saúde, varejo, mídia – todas terão altos ganhos de produtividade.

Os lugares com softwares que precisam ser integrados, processos que não conversam entre si, e uma força de trabalho que faz coisas repetitivas com pouco conhecimento serão mais impactados e mais rápido.

60% dos trabalhadores no mundo fazem a mesma coisa sempre, o que será automatizado primeiro. Processos de recursos humanos, de setor financeiro, administrativo e legal: todos serão automatizados.

Em termos de setores e processos, essa tecnologia é agnóstica: por isso a aplicabilidade é mais alta do que qualquer outra.

Há estimativas de queaté metade dos empregos nos EUAeEuropaestariam em risco. O que você acha destes números, que assustam muita gente?

O desemprego em todos os países está em uma baixa histórica apesar da automação ocorrida em tantos setores ao longo dos anos. As pessoas começam a olhar para os empregos do futuro e a serem treinadas para eles e não acho que conosco será diferente.

Nos milhares de clientes que usam nosso software em mais de 100 países, nenhum emprego foi perdido. As pessoas foram redirecionadas para fazer coisas melhores: focaram em ganhos maiores de produtividade e eficiência. Os bots não estão lá para substituir, estão para aumentar.

Mesmo que o nível geral de emprego se sustente, não serão os mesmos cargos. Quais serão eles?

Quando começamos, criamos 7 empregos na companhia que não existiam antes: como arquiteto da empresa digital do futuro, desenvolvedor de bots, etc. Precisamos de 100 mil pessoas nesses papéis neste ano; em 3 anos precisaremos de meio milhão. Isso é criação de empregos.

Mas será que meio milhão estará no lugar de uma perda de dois milhões? Não sei a resposta. Por um tempo haverá perda temporária de empregos; toda tecnologia causou isso.

Quando os sistemas automáticos de resposta de voz surgiram, quando a Microsoft lançou o Office, quando lançaram o iPhone, muitos perderam empregos. Mas eu e você os adotamos, e queremos que o custo de serviço seja baixo.

Quem promove perda de empregos não é a tecnologia, são os humanos que não querem retroceder. Bots estão aqui para ajudar, mas os empregos do futuro vão mudar; os cargos que meus filhos terão ainda nem foram criados. Mas essa é a beleza desse mundo; continua a mudar.

Sua visão é a do setor privado, mas como o setor público deve reagir?

Além de ser o maior consumidor de automação, como deve ser, o setor público tem responsabilidade com o cidadão que paga impostos. Correio, cuidados de saúde, sistemas de transporte e imigração, impostos e serviços financeiros deveriam ser altamente automatizados.

Os governos estão lidando com um legado maior e mais população do que qualquer empresa do setor privado, e veja os problemas. Nenhum cidadão em nenhuma parte do mundo diz que ama seu governo. Veja o Brasil: nos dois dias que estive aqui, quando falam da eleição neste ano é “Deus me livre”.

Por que isso? Porque o setor público não investiu o suficiente em automação; fui para Singapura, onde tocam o país como uma empresa, e nem lá estão felizes. Esperamos que o governo brasileiro, e também o americano, prestem atenção nisso.

Os EUA estão criando barreiras de importação para bens intermediários porque não querem taxar bens finais que ficariam mais caros para o consumidor. Se o seu objetivo é acelerar a automação, não é um obstáculo?

Para o tanto de automação a ser feito, nem arranhamos a superfície. Honestamente, em termos de regulação, tarifas etc ainda não temos um assento na mesa; algum dia teremos.

Na época da Segunda Guerra Mundial, muitos estavam sem emprego e os EUA, olhando pro futuro, investiram muito em estradas e ferrovias. Isso fez com que ele fosse bem-sucedido, porque há muito pouca fricção para transferir bens, conhecimentos, ideias, pessoas.

Acreditamos que somos o sistema de estradas e transporte e quando toda essa base digital estiver criada, e as regras e regulações tiverem que mudar, esperamos estar na mesa para as discussões.

Exemplo: as regras de hoje foram feitas para humanos: quando vou num banco, um funcionário faz o cheque e o outro verifica; quem faz não pode verificar. O bot faz os dois, mas a regulação diz que precisam ser dois.

Há aquele famosa frase de Robert Solow, prêmio Nobel de Economia, de que os computadores estão em todos os lugares, menos nas estatísticas de produtividade. É uma questão de medição estatística?

Computadores parecem ter automatizado tudo, mas não aumentaram a própria produtividade. É isso que queremos atacar.

Humanos foram criados para fazer coisas grandes, não copiar e extrair isso ou aquilo. Terá gente que vai dizer que não quer. Quando os motores a vapor vieram, as pessoas começaram a jogar pedras neles. Haverá quem resiste à mudança, assim como os que a adotam e os que lideram a mudança. Mas a produtividade vai subir, sem dúvida.

Teremos 3 milhões de bots implantados até 2020 e 25 milhões até 2025. A mudança já está sendo feita e veio para ficar. É a quarta revolução industrial.

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