Economia

Rio aposta em Pan para virar pólo esportivo e expandir turismo

Cidade torce para que legado dos jogos seja sua transformação em sede de grandes campeonatos internacionais e impulsione a receita do turismo

Corrida aérea no Rio: 1 milhão de pessoas (--- [])

Corrida aérea no Rio: 1 milhão de pessoas (--- [])

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h20.

Sob a poeira das obras de quadras, piscinas, pistas e arquibancadas desde que foi eleito sede dos Jogos Pan-Americanos, em 2002, o Rio de Janeiro está ansioso para encerrar o trabalho dos operários. Não só porque restam cerca de dois meses para o início das competições, mas também porque o resultado de todo o trabalho - complexos preparados para receber competições internacionais de natação, atletismo, futebol, entre outros - será uma herança dos jogos que a cidade já incorporou à sua estratégia de atração de visitantes: a de se vender como pólo de esportes e turismo da América do Sul.

 Governos federal, estadual e municipal se uniram em um investimento de 3 bilhões de reais para equipar a cidade a tempo da chegada dos 8.500 esportistas e oficiais que participarão do Pan, de olho no retorno financeiro que conseguirão com esse esforço. Só durante os 17 dias dos jogos, marcados para 13 a 29 de julho, o Rio deve receber uma receita extra de quase 700 milhões de dólares, graças à esperada enxurrada de cerca de 600 mil turistas, 30% deles estrangeiros. É pouco menos do que os 700 mil foliões paulistas, franceses, baianos, gaúchos, alemães e de tantas outras procedências que lotam a cidade no Carnaval. Esse é o impacto direto de receber um evento como os Jogos Pan-Americanos. O indireto ainda não pode ser mensurado, mas está na cabeça de todos que trabalham em alguma atividade ligada ao turismo: os dólares que o Rio pode conquistar se mostrar que sabe receber uma competição internacional de alto nível. Os equipamentos que ficarão como legado após o Pan, como o complexo do Maracanã recuperado, o novo estádio de futebol e atletismo João Havelange e uma Arena Multiuso em Jacarepaguá, credenciarão o Rio e o Brasil, na opinião do Comitê Organizador dos Jogos, a entrarem na briga por campeonatos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, capazes de dar visibilidade mundial à cidade-sede.

Não que o Rio já não tenha no currículo eventos internacionais de grande repercussão. A Red Bull Air Race, corrida aérea realizada em abril, foi transmitida para 80 países, segundo a secretaria de Esportes e Lazer do Rio, e reuniu 1 milhão de espectadores na praia de Botafogo - um público impressionante se comparado aos 2 milhões de pessoas que comparecem ao tradicionalíssimo Réveillon de Copacabana. Também campeonatos mundiais de vôlei de praia e futebol de areia preenchem o calendário esportivo, mas grande parte dos eventos chega ao Rio atraída apenas pela imagem de cidade maravilhosa. Com os investimentos do Pan, os cariocas agora pretendem se vender como os mais bem preparados para o esporte em toda a América do Sul. "Nós estávamos há quase 50 anos sem a construção de grandes equipamentos esportivos. Hoje não tem nada igual ao estádio João Havelange para o atletismo ou ao parque aquático Maria Lenk na América do Sul", diz o secretário municipal de Esportes e Lazer, Gustavo Cintra. "Depois do Pan o Rio fica nivelado com as cidades americanas e canadenses".

Turismo como troféu

Na corrida por eventos esportivos, o Rio vem gradativamente conquistando vitórias. De 2001 a 2004, a cidade recebia, em média, 40 competições por ano. Esse número saltou para 90 eventos em 2005 e 108 em 2006, fomentado pelo apoio do Comitê Olímpico Brasileiro, que pretendia dar experiência à cidade antes do Pan. Em 2007, serão mais de 100 competições, sem contar as que integram os jogos Pan-Americanos, que terão 44 modalidades. De olho na exposição mundial do Rio e do Brasil, a indústria do turismo também comemora esse crescimento. "O Pan já vem expondo e fixando no mercado internacional a capacidade do Rio de Janeiro e do Brasil de captar, organizar e realizar grandes eventos esportivos. Um exemplo é a captação que fizemos para o Mundial de Judô, que será realizado em setembro de 2007", afirma a ministra do Turismo, Marta Suplicy. "Esperamos uma presença maciça de visitantes das três Américas e formadores de opinião de importantes mercados emissores para o Brasil".

A massa de turistas esperada no Rio de Janeiro deve lotar os 27 mil quartos da rede hoteleira da capital fluminense durante os jogos, que serão realizados em julho, mês de ocupação média de 61% nos hotéis. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih-RJ), foi necessário investir 1,5 bilhão de reais para treinar funcionários e criar 3 mil novos quartos em cinco anos, compromisso assumido com a prefeitura. A recompensa deve vir no faturamento, em curto e longo prazos. Durante os 17 dias de competição dos Jogos Pan-Americanos, a expectativa é que a receita cresça cerca de 50% e supere os 100 milhões de reais. "Depois dos jogos devemos continuar com um aumento de 20% na demanda", afirma Alfredo Lopes, presidente da Abih-RJ. Mostra do otimismo do setor é a Windsor, dona de 8 hotéis no Rio. A rede conseguiu emplacar a sua unidade na Barra da Tijuca como hospedagem oficial das delegações do Pan e agora corre para terminar um novo empreendimento no centro da cidade, o Windsor Odeon, até 15 de junho, a tempo dos jogos. A expectativa é de que o novo hotel consiga lotar 100% de seus 180 quartos no período da competição, cobrando uma diária média de 180 reais. A boa ocupação deve se repetir daqui para a frente a cada novo evento que desembarcar no Rio, segundo o gerente de marketing da rede, Paulo Marcos: "A herança física das obras do Pan vão deixar a cidade numa posição melhor para sediar futuros torneios e eventos esportivos".

No setor de viagens aéreas, os operadores crêem que o Pan pode trazer um aumento de até 15% na demanda durante os jogos em julho na comparação com o mesmo período do ano passado. Além disso, as agências, responsáveis por entre 83% e 85% das vendas de passagens aéreas, apostam que o fortalecimento da estrutura esportiva do Rio vai ajudar a impulsionar o mercado de eventos, que atualmente representa 15% da receita total de viagens. "O Rio de Janeiro está começando a aparecer mais nos calendários de eventos e a resgatar os vôos internacionais", diz Luiz Strauss, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens do Rio de Janeiro, que cita a United Airlines como exemplo. A americana decidiu abrir uma nova rota temporária entre Rio e Washington, nos Estados Unidos, entre outubro de 2007 e março de 2008, alta estação no hemisfério sul. Nesta semana, a Copa Airlines anunciou um novo vôo entre Rio e Panamá a partir de junho. As empresas aéreas brasileiras, por sua vez, também acreditam que o legado do Pan incrementará o fluxo de turistas entre o Brasil e outros países - mas querem elas próprias ocupar esse espaço. "Perdemos 26% de participação no mercado internacional com a decadência da Varig. O Pan pode ajudar se passar uma imagem positiva", afirma Ronaldo Jenkins, diretor-técnico do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias.

Infra-estrutura

Mas há quem espere mais do que os 3 bilhões de reais investidos nas obras para comemorar o efeito do Pan. Ainda que prevejam uma alta de 30% na procura durante os jogos, os bares e restaurantes do Rio não apostam que o retorno financeiro continuará após a competição. "Para nós não deve haver impacto posterior. Não foi feito nenhum investimento na cidade para receber o turista de forma perene, como em infra-estrutura e reurbanização", diz Rodrigo Aquim, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro. Lopes, da Abih-RJ, diz que a capital fluminense precisa também de uma solução urgente para a ligação entre a zona sul e o resto da cidade, enquanto Strauss, da Abav sugere uma melhor sinalização para os turistas.

Na visão de quem estuda a evolução do turismo, a carência de infra-estrutura não deve ser colocada na conta do Pan. "O Rio precisa de transporte, segurança, mas não podemos achar que os jogos Pan-Americanos vão resolver esse tipo de problema", afirma Luiz Gustavo Barbosa, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados em Turismo e Hotelaria da Fundação Getúlio Vargas. Segundo Barbosa, o Rio já possui uma tradição em competições esportivas, e a boa organização do Pan pode ser uma bandeira interessante para quem quer receber mais torneios. "Acredito que todo grande evento deixa um legado econômico e social, e, no caso do Pan, todas essas obras servirão não somente para a competição, mas sim para a sociedade em longo prazo".

 

 

Brasil tem muito a ganhar com o Pan, diz Marta Suplicy

Em entrevista a EXAME, a ministra do Turismo diz quais os benefícios que os jogos Pan-Americanos trarão aos brasileiros

EXAME - Qual a expectativa de retorno dos jogos?

Marta Suplicy - Há muitos ganhos com a realização do evento para o Rio de Janeiro e para o Brasil. O aumento do fluxo de turistas, durante e após os jogos, resultará na ampliação dos serviços turísticos, esportivos e de lazer na cidade e, consequentemente, gerará empregos em diversas áreas, principalmente no setor do turismo.

Temos investimentos ligados à organização dos jogos e também ganhos com a entrada de turistas no tempo de duração do evento. Eles gastam e geram efeito multiplicador. Os investimentos realizados em função do atendimento das demandas geradas pelos jogos englobam, por exemplo, a ampliação da rede hoteleira.Quanto à geração de empregos, diretos ou indiretos, as ações do turismo, que estão sendo implementadas, contribuirão para o desenvolvimento local, gerando inúmeras oportunidades de inclusão de jovens no processo de adequação e profissionalização dos serviços turísticos fluminense. Nesse sentido, entendemos que as ações têm caráter permanente e que serão notadas durante e após a realização dos Jogos.

EXAME - Como o ministério está trabalhando para promover a participação do Rio nos jogos?

Marta - Foram estabelecidas estratégias de divulgação do evento no continente americano. Fizemos a nomeação de atletas conceituados como "Embaixadores dos Jogos Rio 2007" no país. Paralelamente às nomeações, foram realizadas coletivas de imprensa com a participação de integrantes dos comitês olímpicos e de representações diplomáticas brasileiras. Nas feiras internacionais, fizemos a divulgação com a distribuição de brindes.

EXAME - Como o investimento na infra-estrutura do Pan pode ajudar a receber turistas no futuro?

Marta - O Ministério do Turismo está desenvolvendo, desde 2003, ações que visam à preparação da cidade do Rio de Janeiro para receber os Jogos Pan-americanos. Um bom exemplo e que ficará como legado para a cidade é a reforma, ampliação e as melhorias no aeroporto Santos Dumont, no qual estamos investindo R$ 107 milhões. Outras ações, com investimentos que totalizam R$ 10 milhões estão sendo executadas com vários parceiros como a Prefeitura do Rio de Janeiro, Senai, Senac e Anatel.

 

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