Economia

Relação de pecuaristas e distribuidores sofre informalidade

Falta de contratos formais entre produtores e frigoríficos mostrou-se um fator de ineficiência deste negócio

Gado para corte em fazenda: faltam garantias nas transações entre pecuaristas e frigoríficos (Cláudio Rossi)

Gado para corte em fazenda: faltam garantias nas transações entre pecuaristas e frigoríficos (Cláudio Rossi)

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Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2012 às 14h29.

São Paulo - As transações comerciais entre pecuaristas e frigoríficos demonstraram elevado grau de informalidade, segundo o estudo Falhas de coordenação em sistemas agroindustriais complexos: uma aplicação na agroindústria da carne bovina, da engenheira agrônoma Silvia M.Q. Caleman. A pesquisa apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP mostra que isso é nocivo para o estabelecimento do agronegócio no Brasil. “O debate do que gera ineficiência é muito complexo, mas o que pode-se dizer é que a transmissão de incentivos para os produtores de carne no Brasil é falha.”

Um sistema agroindustrial complexo corresponde a uma rede de processos que relacionam etapas distintas de produção e distribuição. Silvia procurou investigar o que gerava ineficiência na cadeia produtiva da carne bovina, especificamente entre a criação de gado e venda para frigoríficos. Esta escolha foi feita devido à competitividade internacional da carne brasileira e a importância deste mercado para a economia. O País possui um rebanho bovino de mais de 200 milhões de cabeças segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e é líder nas exportações de carne desde 2004 segundo a Associação Brasileira de Criadores (ABC).

Ensaios

A pesquisa pode ser dividida em duas partes: na primeira, foi realizada uma avaliação teórica, na qual há seis grandes tópicos descrevendo a natureza das falhas em sistemas agroindustriais. Este ensaio não identifica a análise para o mercado produtor de carnes. Segundo a autora, se trata de um olhar teórico sobre os problemas que diminuem a eficiência de sistemas produtivos, no qual ela propõe um modelo de “Teoria das Falhas”.

Na segunda parte, Silvia fez dois ensaios empíricos, numa tentativa de “entender nuances do mundo real” conforme suas palavras. Um deles investigou aspectos institucionais nos quais são estudadas as interferências legais e políticas deste negócio, além da regulamentação da área agroindustrial e o envolvimento de organizações de pecuaristas e produtores.

O outro ensaio avaliava aspectos informacionais do fluxo de produção. Para desenvolver essa parte, Silvia aplicou questionários e entrevistou pessoas envolvidas no ciclo de produção e venda da carne bovina. Nas perguntas levantou, além de dados socioeconômicos dos produtores, as forma com que as negociações com os frigoríficos se articulam e quais os principais problemas apontados.

O maior problema citado foi a informalidade do contrato entre os produtores pecuaristas e os distribuidores do produto. A pesquisadora percebeu que a ausência de garantias nas transações entre os pecuaristas e os frigoríficos representa instabilidade para os acordos comerciais. Esta instabilidade abre espaço, inclusive, para o não pagamento pelo gado fornecido. Para proteger-se da informalidade e da consequente falta de garantia, a pesquisa aponta para a relevância das ações coletivas dos pecuaristas como mecanismo de proteção para as pendências contratuais entre a indústria frigorífica e os fornecedores.

Esta pesquisa, defendida em 2010 sob sob orientação do professor Decio Zylbersztajn, da FEA, ganhou o Prêmio Capes de Tese 2011, na categoria Administração, Ciências Contábeis e Turismo.

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