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Reconciliação ocidental será vital depois da guerra, diz Ricúpero

De acordo com o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, o embaixador brasileiro Rubens Ricúpero, há duas coisas importantes a dizer sobre as conseqüências negativas da guerra para o Brasil. Primeiro, que elas já aconteceram desde que se tornou claro que a guerra era inevitável. O preço do petróleo disparou, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h07.

De acordo com o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, o embaixador brasileiro Rubens Ricúpero, há duas coisas importantes a dizer sobre as conseqüências negativas da guerra para o Brasil. Primeiro, que elas já aconteceram desde que se tornou claro que a guerra era inevitável. O preço do petróleo disparou, intensificou-se a desaceleração na Europa e no Japão, e isso tornou mais complicada a recuperação americana, com reflexos sobre o mundo. A segunda questão crucial, entre tantos pontos de interrogação, é saber em que medida o pós-guerra vai permitir uma reconciliação rápida dentro da Aliança Ocidental, entre França e Alemanha, de um lado, e Estados Unidos e Reino Unido, de outro.

"Isso vai ser ver muito depressa", diz Ricúpero. "Em primeiro lugar, na reconstrução do Iraque. Há notícias de que franceses e alemães têm interesse em participar da reconstrução do Iraque. Até que ponto vai haver de fato uma atitude responsável de não deixar a emoção e os ressentimentos prevalecerem? Isso vai ser visto logo, porque vai haver uma reunião do Grupo dos 8 em Evian, na França, no início junho." Na opinião do embaixador, só há dois cenários: "Ou eles se entendem logo e essa reunião de chefes de Estado em Evian vai ser uma oportunidade de reconciliação, ou eles não se entendem e aí pode haver todos os cenários possíveis, até mesmo um boicote aos americanos".

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Ricúpero afirma que o enfraquecimento do dólar encareceu as importações americanas e, portanto, causa prejuízo para quem vende para os Estados Unidos. Outro efeito negativo pode ser o aumento da aversão ao risco, um grande problema para países que, como o Brasil, dependem tão fortemente dos humores do capital externo.

A se confirmar que a guerra será relativamente breve, sem muita destruição, esses efeitos tendem a desaparecer. Pode ser até que haja uma recuperação rápida da confiança na economia americana. Mas, afirma Ricúpero, é muito difícil fazer qualquer previsão, mesmo diante das evidências de um combalido exército iraquiano: "Se o Iraque foi incapaz de oferecer resistência aos Estados Unidos na guerra do Golfo (houve apenas 166 baixas do lado americano), imagine a situação agora depois de tantos anos de embargo ao Iraque".

Se a guerra for mesmo rápida, sem danos às instalações petrolíferas, é possível que a situação volte à normalidade rapidamente. Se, além disso, houver uma reconciliação rápida na Aliança Ocidental, isso tende não só a melhorar as chances da economia mundial, mas também a melhorar o clima das negociações comerciais na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio. "Se não houver melhoria do ânimo, pode-se esperar uma situação muito complicada, mas, como a rodada só terminará no ano que vem, ainda há tempo", afirma o embaixador.

Se, por outro lado, não houver reconciliação, isso poderá ter um efeito grave sobre a reunião decisiva da OMC programada para Cancún em setembro. Ela é crucial porque decidirá o que se vai negociar, de fato, na agricultura. "Por isso, o mais importante é saber se vai ser possível uma reconciliação rápida agora, em abril, maio e junho", diz Ricúpero.

O embaixador também minimizou a importância que qualquer posição brasileira possa ter no cenário internacional. Eis o que ele afirma a esse respeito: "Sinceramente, o pessoal aí tende a dar um valor talvez mais do que justificável a essa questão. Em primeiro lugar, o Brasil não é membro do Conselho de Segurança, não teve direito a voto, como Chile e México, nem tem peso específico militar ou de produção de petróleo que possa afetar essa questão diretamente. É claro que, para nós, as posições brasileiras têm um certo relevo, mas não ouvi nenhuma menção em jornal algum. Não digo isso com nenhum menosprezo, mas o Brasil é totalmente ignorado. Há um certo exagero em achar que as pessoas estão prestando atenção. Mesmo que a posição brasileira não tenha agradado, não terá maiores conseqüências".

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