Recessão global prolongada é provável, diz Fórum Econômico Mundial
Com a crise do coronavírus, metade dos gerentes de risco estimam altos níveis de desemprego, particularmente entre os jovens
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de maio de 2020 às 08h33.
Última atualização em 19 de maio de 2020 às 09h53.
A pandemia de coronavírus terá efeitos duradouros, pois o alto desemprego afeta a confiança do consumidor, a desigualdade e o bem-estar, e desafia a eficácia dos sistemas de proteção social. "Com pressões significativas sobre emprego e educação - mais de 1,6 bilhão de estudantes perderam a escolaridade durante a pandemia -, estamos enfrentando o risco de outra geração perdida", avaliou o Diretor de Risco do grupo, Zurich Insurance Group, Peter Giger.
A partir de Zurique, na Suíça, ele participou de uma teleconferência realizada nesta terça-feira, 19, pelo Fórum Econômico Mundial para divulgar o relatório "Covid-19 Risks Outlook: Um mapeamento preliminar e suas implicações", publicado hoje. A empresa é uma das patrocinadoras do documento.
Durante a apresentação, Giger comentou que as pessoas têm visto mais o céu azul porque as emissões de carbono caíram 80% no início do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Ele recomendou também mais atenção com as ações de desmatamento no mundo e salientou que o planeta continua a se aquecer. "As decisões tomadas agora determinarão como esses riscos ou oportunidades ocorrerão", disse.
Riscos
O temor com o aumento do desemprego e mudanças profundas na cadeia produtiva tende a subir na lista de riscos apontados pelo levantamento realizado sistematicamente pelo Fórum Econômico Mundial, na avaliação da sua diretora administrativa, Saadia Zahidi. Na teleconferência, ela disse que as preocupações para a próxima década apontadas em janeiro por 350 profissionais de risco seniores já passam por transformação e tendem a mudar ainda mais depois da covid-19.
A partir de Genebra, Saadia avaliou que, dado o cenário global, essas mudanças não são surpreendentes. "Claro que isso tudo virá à tona nos próximos meses", previu. Para ela, o momento também é de ampliar as ações para que se reconstrua um mundo melhor a partir da pandemia. Uma boa oportunidade, de acordo com a diretora, é dar mais estímulos verdes à economia.
Saadia afirmou que está mais preocupada com o que acontecerá no médio prazo, em relação aos riscos apontados pela pesquisa. Ela comentou, também, que a crise mostrou que profissões muito pouco valorizadas até o momento acabaram se tornando essenciais, como a de enfermeiros e professores, por exemplo.
"Mesmo antes da crise da covid-19, as organizações enfrentavam um cenário de risco global altamente complexo e interconectado", comentou John Doyle, presidente e CEO da Marsh, que é uma das empresas que contribuíram para a confecção do "Covid-19 Risks Outlook: Um mapeamento preliminar e suas implicações".
Segundo Doyle, desde ameaças cibernéticas a cadeias de suprimentos e passando pelo bem-estar de seus funcionários, as empresas agora repensam muitas das estruturas nas quais antes confiavam. "Para criar condições para uma recuperação mais rápida e um futuro mais resiliente, os governos e o setor privado precisam trabalhar juntos de maneira mais eficaz. Juntamente com os grandes investimentos para melhorar os sistemas, a infraestrutura e a tecnologia da saúde, um dos resultados dessa crise deve ser que as sociedades se tornem mais resistentes e capazes de suportar pandemias futuras e outros grandes choques", considerou.
Protecionismo
Na mesma conferência, o diretor Executivo da Marsh & McLennan, Richard Smith-Bingham, previu que reações de protecionismo devem acelerar com a covid-19. Ele lembrou que meses antes da pandemia o mundo assistia a uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas maiores potências econômicas do mundo, e também o processo de separação do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit. "São coisas que vão acelerar com a covid-19", salientou.
Já a reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Ngaire Woods, chamou a atenção para a construção que o mundo fará de suas economias após a crise. Ela avaliou, por exemplo, ser fundamental dar apoio a empresas e países com ratings baixos de crédito. "Se não fizermos isso, o resultado será ainda mais negativo", projetou.
A reitora comentou que um aprendizado que o mundo tem recebido da covid-19 é a possibilidade de reunião de pessoas que estão longe umas das outras por meio de teleconferências, como a que foi organizada pelo Fórum. "Eventos como este, por vídeo, mostram como as pessoas podem colaborar umas com as outras mesmo estando distante. Esta é uma grande oportunidade para o setor público em torno do globo", apontou.