Questão Macro: morosidade em Brasília freia onda otimista do mercado
Possível melhora no emprego pode não compensar ausência do auxílio emergencial já a partir de janeiro, e 1 triº pode decepcionar as expectativas
Fabiane Stefano
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 15h09.
A eleição de Joe Biden nos EUA e as notícias promissoras sobre as vacinas contra o coronavírus puxaram o otimismo do mercado, impulsinando o Ibovespa e derrubando o o dólar. Mas com os republicanos possivelmente ainda no controle do senado americano e com a morosidade de Brasília em avançar em qualquer pauta, esse otimismo tem data de validade?
"Passado esse processo global muito forte de aversão ao risco que vivemos até poucos dias atrás, o vetor externo começa a dimiuir um pouco sua influência e os vetores domésticos voltam a ser o ponto principal da nossa agenda", explica o economista Arthur Mota, da Exame Research, no Questão Macro. Todas as quartas, às 13h30, o programa discute os principais assuntos do cenário macroeconômico.
Economista do BTG Pactual Digital, o economista Álvaro Frasson concorda com Mota. Para ele, não ter uma perspectiva clara de quando votações importantes acontecerão no congresso, como a PEC Emergencial e a Lei de Diretrizes Orçamentárias, podem estar cansando não apenas o mercado, mas também as agências de rating - trazendo volatilidade à economia brasileira no curto prazo e acabando com a atual onda de otimismo.
"A cada semana com novos embates públicos em Brasília, a perspectiva de curto prazo fica ainda mais perigosa. E é possível que vivamos essa volatilidade até o fim do ano", analisou Frasson. "Precisamos entender as perspectivas sobre as pautas fiscais. Se houver um reajuste negativo das agências de rating, o risco país sobe e o real vai desvalorizar ainda mais."
A dupla de economistas lembra ainda que uma possível vacina é a única possilidade de alavancar a confiança das pessoas em sair de casa para trabalhar e consumir - e, consequentemente, aumentar a confiança dos empregadores e iniciar uma redução do desemprego. Mas o fim do auxílio emergencial já em dezembro ainda é um fator de preocupação.
"Há muitas incertezas no cenário pra que possamos dizer que essa melhora no emprego vai compensar a ausência do auxílio emergencial já a partir de janeiro", explica Mota. "O primeiro trimestre no Brasil pode decepcionar as expectativas de crescimento"