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Quanto a guerra afeta o Brasil?

Conflito no Iraque pode prejudicar menos o país do que outros emergentes

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h43.

Os Estados Unidos devem declarar guerra ao Iraque ainda este mês. Ou seja: nos próximos dias, é possível que mais de 200 000 soldados americanos invadam o território do Iraque. Parece pouco, mas nunca é demais lembrar que os tambores de guerra vão soar em um país com conflitos étnicos e tribais, no coração do problemático Oriente Médio e, ainda por cima, assentado em bilhões de barris de petróleo. Receita para um cenário de crise no mercado internacional, retração dos investidores e efeitos colaterais mais do que perversos para os países emergentes.

O mercado financeiro já vem exibindo os sinais dessa tensão há tempos, desde o início do ano. As bolsas nos países desenvolvidos registram baixa atrás de baixa. Os investidores se retraem, os bancos emprestam menos dinheiro para os países emergentes. Há mais. Temerosos do impacto da guerra sobre a economia americana, os agentes econômicos vendem dólares e compram euros, levando a moeda americana a recordes de baixa frente à nova moeda européia.

O cenário externo está ruim e nada indica que vá melhorar no curto prazo. Como explicar, então, que os ativos brasileiros negociados lá fora venham subindo há mais de duas semanas? E onde está a causa da queda do dólar, que fechou em sua segunda baixa consecutiva? Na quarta-feira, a moeda americana fechou em seu menor nível desde o dia 21 de janeiro a 3,468 reais, com queda de 0,5%. Além da perspectiva de boas exportações, a notícia de uma captação internacional extremamente barata de recursos do Unibanco, que levantou 125 milhões de dólares por seis meses pagando 5,125% ao ano animou o mercado. "Uma taxa tão baixa vai estimular outros bancos a trazer mais dinheiro, aliviando a pressão de alta no dólar", diz um profissional do mercado de câmbio.

Essa lufada de otimismo que vem perdurando desde o início de março pode ser creditada a uma visão positiva dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, aliada a sinais de solidez da economia local. "Os investidores estrangeiros estavam atribuindo um risco excessivo ao Brasil no fim do ano passado", diz Nicola Tingas, economista-chefe do banco alemão West LB no Brasil. "Essa opinião vem sendo corrigida lenta, mas constantemente."

O parâmetro usado por Tingas para medir essa percepção é o índice EMBI+, que calcula a remuneração dos títulos brasileiros negociados no exterior. Os juros pagos por esses papéis no mercado secundário são comparados com a remuneração de títulos do Tesouro americano com prazos equivalentes. Em novembro, após a eleição e antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o EMBI+ estava perto de 1 800 pontos-base (centésimos de ponto percentual). É um nível elevado, que indica juros de 18% ao ano acima dos juros americanos. Nos últimos anos, esse prêmio oscilou entre 800 e 900 pontos-base, e nesta quarta-feira, o EMBI+ fechou a 1.121 pontos, uma queda de 1,2% em relação à terça-feira.

É provável que o risco suba pontualmente com o disparar do primeiro tiro no Iraque. No entanto, na avaliação de Tingas, o Brasil tem condições de ser menos prejudicado que outros países emergentes com a confirmação do conflito. Há quatro grandes mercados emergentes que disputam o dinheiro dos investidores americanos: Brasil, Rússia, México e Turquia.

Dois deles serão mais prejudicados pela guerra. A Turquia, pela proximidade geográfica do conflito. E o México, que está umbilicalmente ligado ao destino da economia americana e deverá ser penalizado com o esfriamento das atividades ao norte do Rio Grande.

Restam Rússia e Brasil. "A convicção do mercado lá fora é que não há muito mais prêmio de risco a ser buscado na Rússia", diz o economista. Resta, portanto, o Brasil. Para Tingas, o mercado internacional está gradualmente retornando a uma apreciação correta do risco Brasil. "Se não houver derrapadas no cenário interno, esse risco pode voltar a 700 ou 800 pontos nos próximos seis ou nove meses", diz Tingas. "Só é necessário que o Brasil encaminhe e consiga entregar um cronograma aceitável de reformas."

O problema é exatamente esse: se o Brasil terá condições de entregar um cardápio aceitável de mudanças que desperte a gula dos investidores internacionais. Nesse aspecto, as demoras na tramitação interna das reformas serão mais danosos que a esperada retração dos investimentos internacionais por causa da guerra. "Nesse sentido, o [deputado petista João Batista] Babá me preocupa mais que o George Bush", diz Tingas. "Se a oposição dentro do PT travar as reformas será difícil atrair recursos, mesmo que os investidores internacionais considerem o Brasil a melhor opção entre os emergentes."

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