Proposta no Congresso pode reduzir dívida em até R$ 100 bi
Convergência entre taxa de mercado e taxa usada pelo BNDES para conceder empréstimos diminuiria peso de subsídios implícitos, diz estudo do Insper
João Pedro Caleiro
Publicado em 17 de agosto de 2017 às 15h48.
Última atualização em 17 de agosto de 2017 às 16h49.
São Paulo - Uma proposta para reduzir o subsídio implícito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES ) tem o potencial de reduzir sensivelmente a dívida do governo federal.
A conclusão é de um estudo recente de Marco Bonomo, coordenador do Centro de Finanças do Insper , com Luis Bento e Paulo Ribeiro.
A taxa de juros usada pelo BNDES para emprestar para as empresas é chamada de TJLP (taxa de juros de longo prazo) e está atualmente em 7% ao ano.
Mas o governo, ao pegar dinheiro emprestado no mercado, paga juros atrelados à Selic, atualmente em 9,25% ao ano.
Isso significa que quando o Tesouro e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) repassam recursos ao BNDES, o governo aumenta sua dívida por causa desse custo implícito que não entra no Orçamento.
No esquema atual, esses subsídios implícitos devem custar R$ 279 bilhões até 2060, cerca de 6,37% da dívida total. Se a TJLP sobe e/ou se a Selic cai, a janela entre as duas taxas diminui e esse custo cai.
Mas se em um período de um ano as duas taxas convergissem para o mesmo patamar, o subsídio implícito cairia para R$ 176 bilhões, uma diferença de cerca de R$ 100 bilhões, diz o estudo.
O tema é tratado pela MP 777/2017, que elimina a TJLP e cria a TLP (Taxa de Longo Prazo), calculada pela inflação ao longo do contrato somada pela taxa real de juros dada por uma nota do Tesouro Nacional (NTN-B) com vencimento de cinco anos. A mudança só valeria para novos empréstimos.
A MP 777 foi apresentada ontem (16) na Comissão Especial Mista e a votação do seu parecer está marcada para a próxima terça-feira (22).
Segundo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), a ideia é que também no dia 22 ela seja enviada para o plenário da Câmara para depois ser votada no Senado até o dia 30. A MP perde validade no dia 06 de setembro.
Uma das vantagens do projeto, se aprovado, é que ele aumentaria a potência da política monetária, já que ao subir ou cortar a Selic, o governo passaria a afetar diretamente uma parcela maior do crédito.
Empresários afirmam que haverá aumento no custo do crédito e com isso queda do investimento, e alguns economistas apontam falhas formais no seu desenho e amarras legais para sua implementação.
Isso não significa que o governo abrirá mão da possibilidade de financiar diretamente a produção, e sim que isso terá que ser designado claramente no Orçamento.
O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), por exemplo, desembolsou cerca de R$ 45 bilhões em subsídios explícitos entre 2007 a 2016.