Projetos aprovados pela Câmara na semana têm impacto de quase R$ 200 bi
O resultado primário do governo deve fechar 2020 com um déficit histórico de R$ 787,5 bilhões, segundo projeções do ministério da Economia
Bloomberg
Publicado em 25 de julho de 2020 às 08h00.
Dois projetos aprovados na Câmara dos Deputados nesta semana abrem caminho para mais repasses de recursos para estados e municípios e pioram o cenário fiscal para a União, com impacto de quase R$ 200 bilhões.
A Câmara aprovou em dois turnos na noite de terça-feira a proposta de emenda constitucional (PEC) que torna permanente o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e aumenta gradualmente de 10% para 23% a fatia com a qual a União tem que arcar nesse fundo.
Nesse caso, o impacto é R$ 190 bilhões em dez anos, segundo estimativas do Ministério da Economia.
O texto ainda tem que ser analisado pelo Senado. Embora os recursos para o Fundeb estejam excluídos da regra do teto de gastos, eles têm impacto sobre o resultado primário, que fechará 2020 com um déficit histórico de R$ 787,5 bilhões, segundo projeções do ministério da Economia.
Durante a tramitação da PEC, o Ministério da Economia tentou destinar uma parte dos recursos do Fundeb para o novo programa social que está sendo preparado pela área econômica, o Renda Brasil, mas a ideia foi rejeitada pelos parlamentares. Apesar do impacto, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a aprovação do texto em transmissão por redes sociais: “Eu queria dar 200% (para o Fundeb), mas não tenho dinheiro. Foi negociado e passou para 23%, em comum acordo.”
Outra proposta aprovada pela Câmara nesta quarta-feira prorroga por quatro meses os repasses de recursos da União para governadores e prefeitos como forma de compensar perdas nos fundos de participação de estados e municípios provocadas pela crise econômica decorrente do novo coronavírus.
A medida original previa um repasse de R$ 16 bilhões até o final de julho. Mas o relator, deputado Hildo Rocha (MDB-MA), prorrogou o prazo de pagamento até novembro.
A União já repassou o equivalente a R$ 9,86 bilhões até 18 de julho. O restante do dinheiro, R$ 6,14 bilhões, poderá ser transferido até novembro. O relator também havia incluído na proposta um repasse de R$ 4 bilhões para auxílio emergencial ao setor de transportes, mas a ideia acabou sendo retirada para ser discutida em separado nas próximas semanas.
Estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Economia aponta que governadores perderam R$ 7,1 bilhões em receitas até junho em 2020 na comparação com 2019. No entanto, a ajuda financeira da União para esses entes, considerando repasses e suspensão de dívidas, entre março e junho, é superior a esse montante, chegando a R$ 15,3 bilhões.
O Ministério da Economia não respondeu a pedido de comentário.