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Preferência por sigilo torna dinheiro vivo sagrado na Suíça

Os suíços têm uma inclinação pelo dinheiro vivo mesmo quando há opções eletrônicas disponíveis

Franco suíço: os cidadãos muitas vezes apreciam a privacidade não rastreável conferida por notas e moedas (graffoto8/Thinkstock)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2016 às 18h51.

Manuel Brandenberg, um parlamentar do cantão suíço de Zug, adora dinheiro.

Tanto que em uma oportunidade ele surpreendeu um funcionário municipal ao pagar seus impostos com um maço de dinheiro.

Essa crença no papel-moeda é compartilhada por muitos de seus compatriotas, que têm uma inclinação pelo dinheiro vivo mesmo quando há opções eletrônicas disponíveis.

Em um país cujos gestores de recursos prosperaram graças ao sigilo bancário, os cidadãos muitas vezes apreciam a privacidade não rastreável conferida por notas e moedas.

“Dinheiro é propriedade e dinheiro é liberdade”, disse Brandenberg, 44, advogado e membro do Partido Popular Suíço, de orientação nacionalista. “Ele empodera o indivíduo porque é uma riqueza tangível”.

O sentimento dele ilustra as emoções que estão em jogo em um momento em que a Suíça revela a primeira reformulação de seu papel-moeda em uma geração.

Há mais de uma década no processo de elaboração, as notas melhoraram os recursos de segurança e têm um novo desenho, mas as mudanças param por aí.

Ao contrário de seus vizinhos, os suíços não têm planos de reconsiderar os valores das notas -- 10, 20, 50, 100 e 200 francos. Nem mesmo a mais valiosa, de 1.000 francos (US$ 1.040).

Predileção por notas

Para evitar que seu país percorra o mesmo caminho da zona do euro, onde as autoridades cogitam tirar de circulação a nota de 500 euros (US$ 567) para combater o crime, Brandenberg propôs consagrar as denominações atuais em lei nacional. A emissão, atualmente, fica a cargo do Banco Nacional Suíço, que apresentará sua nova nota de 50 francos em Berna, na quarta-feira.

“Queremos garantir que o dinheiro continue circulando”, diz Brandenberg. “Se estiver amparado por lei será mais difícil mudar isso”.

O vice-ministro da economia da Áustria defendeu em fevereiro uma medida similar para preservar a nota de 500 euros, uma evidência de como o argumento pela privacidade ressoa por toda a Europa germanófona. Essa iniciativa contrasta com a de outros países, como a Suécia, onde o dinheiro vivo está desaparecendo.

A predileção por notas e moedas é evidente nas ruas de Zurique, onde diversos estabelecimentos não aceitam cartões -- entre eles a pizzaria Belcafé de Bellevue, um movimentado pólo de transporte do centro da cidade.

“Eu sempre pago tudo em dinheiro porque isso me permite manter um melhor controle sobre minhas finanças”, disse o mecânico Flamur Halili, de 22 anos, que esperava na fila para comprar um sanduíche de rosbife na rua Bahnhofstrasse.

“Com dinheiro vivo você não consegue fazer dívidas”.

Dados nacionais confirmam essa preferência. Na Suíça, o valor das transações com cartões em relação à produção econômica foi de aproximadamente um terço da registrada no Reino Unido ou no Canadá, segundo dados selecionados de 2014 do Banco de Compensações Internacionais -- mesmo que os terminais de pagamentos sejam quase igualmente predominantes. Cerca de 20 por cento das compras -- incluindo por joias caras-- foram pagas em dinheiro, disse a então ministra das finanças Eveline Widmer-Schlumpf ao parlamento em 2014.

Embora Natalie Rickli, 39, membro do Partido Popular Suíço e uma das parlamentares mais ativas do país nas redes sociais, admita pagar contas on-line por conveniência, ela não se mostrou convencida quando indagada se o Banco Central deveria rever os valores das notas que imprime para impedir os criminosos de portarem grandes montantes em dinheiro vivo.

“Não há motivo para mudar as coisas”, disse Rickli. “Eu não quero que o Estado saiba quem vai para tais restaurantes. Isso não é da conta do governo”.

Nem todos concordam com ela. Cedric Wermuth, de 30 anos, deputado do Partido Social Democrata na legislatura federal, diz que 1.000 francos é um “número absurdamente alto” para uma nota de dinheiro.

“Nunca na minha vida eu paguei 500 francos em dinheiro”, diz ele. “A demanda para reprimir transações dúbias em dinheiro é totalmente legítima”.

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Manuel Brandenberg, um parlamentar do cantão suíço de Zug, adora dinheiro.

Tanto que em uma oportunidade ele surpreendeu um funcionário municipal ao pagar seus impostos com um maço de dinheiro.

Essa crença no papel-moeda é compartilhada por muitos de seus compatriotas, que têm uma inclinação pelo dinheiro vivo mesmo quando há opções eletrônicas disponíveis.

Em um país cujos gestores de recursos prosperaram graças ao sigilo bancário, os cidadãos muitas vezes apreciam a privacidade não rastreável conferida por notas e moedas.

“Dinheiro é propriedade e dinheiro é liberdade”, disse Brandenberg, 44, advogado e membro do Partido Popular Suíço, de orientação nacionalista. “Ele empodera o indivíduo porque é uma riqueza tangível”.

O sentimento dele ilustra as emoções que estão em jogo em um momento em que a Suíça revela a primeira reformulação de seu papel-moeda em uma geração.

Há mais de uma década no processo de elaboração, as notas melhoraram os recursos de segurança e têm um novo desenho, mas as mudanças param por aí.

Ao contrário de seus vizinhos, os suíços não têm planos de reconsiderar os valores das notas -- 10, 20, 50, 100 e 200 francos. Nem mesmo a mais valiosa, de 1.000 francos (US$ 1.040).

Predileção por notas

Para evitar que seu país percorra o mesmo caminho da zona do euro, onde as autoridades cogitam tirar de circulação a nota de 500 euros (US$ 567) para combater o crime, Brandenberg propôs consagrar as denominações atuais em lei nacional. A emissão, atualmente, fica a cargo do Banco Nacional Suíço, que apresentará sua nova nota de 50 francos em Berna, na quarta-feira.

“Queremos garantir que o dinheiro continue circulando”, diz Brandenberg. “Se estiver amparado por lei será mais difícil mudar isso”.

O vice-ministro da economia da Áustria defendeu em fevereiro uma medida similar para preservar a nota de 500 euros, uma evidência de como o argumento pela privacidade ressoa por toda a Europa germanófona. Essa iniciativa contrasta com a de outros países, como a Suécia, onde o dinheiro vivo está desaparecendo.

A predileção por notas e moedas é evidente nas ruas de Zurique, onde diversos estabelecimentos não aceitam cartões -- entre eles a pizzaria Belcafé de Bellevue, um movimentado pólo de transporte do centro da cidade.

“Eu sempre pago tudo em dinheiro porque isso me permite manter um melhor controle sobre minhas finanças”, disse o mecânico Flamur Halili, de 22 anos, que esperava na fila para comprar um sanduíche de rosbife na rua Bahnhofstrasse.

“Com dinheiro vivo você não consegue fazer dívidas”.

Dados nacionais confirmam essa preferência. Na Suíça, o valor das transações com cartões em relação à produção econômica foi de aproximadamente um terço da registrada no Reino Unido ou no Canadá, segundo dados selecionados de 2014 do Banco de Compensações Internacionais -- mesmo que os terminais de pagamentos sejam quase igualmente predominantes. Cerca de 20 por cento das compras -- incluindo por joias caras-- foram pagas em dinheiro, disse a então ministra das finanças Eveline Widmer-Schlumpf ao parlamento em 2014.

Embora Natalie Rickli, 39, membro do Partido Popular Suíço e uma das parlamentares mais ativas do país nas redes sociais, admita pagar contas on-line por conveniência, ela não se mostrou convencida quando indagada se o Banco Central deveria rever os valores das notas que imprime para impedir os criminosos de portarem grandes montantes em dinheiro vivo.

“Não há motivo para mudar as coisas”, disse Rickli. “Eu não quero que o Estado saiba quem vai para tais restaurantes. Isso não é da conta do governo”.

Nem todos concordam com ela. Cedric Wermuth, de 30 anos, deputado do Partido Social Democrata na legislatura federal, diz que 1.000 francos é um “número absurdamente alto” para uma nota de dinheiro.

“Nunca na minha vida eu paguei 500 francos em dinheiro”, diz ele. “A demanda para reprimir transações dúbias em dinheiro é totalmente legítima”.

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