Economia

Preço em leilão de energia decepciona geradoras

Para os analistas, valores abaixo do esperado podem comprometer novos investimentos, mas Dilma Rousseff, ministra das Minas e Energia, considerou o leilão um "sucesso"

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h03.

O primeiro leilão de energia elétrica realizado com as regras do novo modelo para o setor terminou com preços muito abaixo dos estimados pelo mercado. O preço médio dos contratos foi de 57,51 reais por megawatt-hora (MWh) para energia entregue a partir de 2005, de 67,33 reais para 2006 e de 75,46 reais para 2007. Os contratos, que serão assinados com prazos de oito anos, estendem-se respectivamente até 2013, 2014 e 2015. Os valores estipulados para os contratos de 2005 ficaram cerca de 6% abaixo dos valores atuais. O preço médio da energia contratada hoje é de 61 reais o MWh.

Numa avaliação preliminar feita por analistas que acompanharam o pregão, a queda vertiginosa ocorreu porque há sobra de energia e empresas com grandes excedentes preferiram contratar o maior volume possível. Quem não conseguiu vender no leilão terá de esperar um novo pregão no primeiro semestre do ano que vem ou tentar vender no mercado livre, onde as oportunidades já estão muito reduzidas. Para o mercado, não há muito o que comemorar, principalmente porque os preços negociados podem comprometer investimentos futuros em novas usinas hidrelétricas. Cada empresa tem sua planilha de custo e sabe até aonde pode ir, diz Ayres Mascarenhas, superintendente de Relações Institucionais da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). "Mas um preço médio abaixo de 70 reais reduz a geração de caixa e compromete a realização de novos investimentos."

No novo modelo, o Ministério de Minas e Energia (MME) fixa um teto para os lances e as concorrentes fazem sua ofertas prevalecendo sempre o menor valor. Às vésperas do leilão, alguns executivos e analistas estimavam que o teto para o lance inicial poderia ficar em 100 reais, mas o MME abriu o pregão com 80 reais. O valor excluiu logo de saída as térmicas, cujos custos são superiores.

Participaram do leilão 18 geradores, entre elas Furnas e Chesf, que tinham muita energia excedente, e as privadas Duke Energy, Tractebel. e Light. As ofertas das vendedoras levaram em conta as projeções de consumo apresentadas por 35 distribuidoras, que foram representadas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), responsável pela organização e realização do leilão. Cerca de 96 da demanda de energia foi suprida pelo pregão.

Os baixos valores influenciaram o volume financeiro negociado. Pelas estimativas preliminares da CCEE, ao longo de oito anos serão movimentados cerca de 72 bilhões de reais. O mercado chegou a projetar um volume financeiro de 120 bilhões de reais. A Tec (comercializadora da Tractebel) e a Breitener abandonaram o leilão por considerar o preço depreciado. A CGTEE, empresa de geração térmica, errou um lance na primeira rodada e teve de sair do pregão.

A espiral de queda dos valores foi mal recebida pelo mercado de ações, que passou a projetar redução na receita das geradoras que participavam do leilão. Os donos das ações decidiram vender e provocaram a queda na cotação dos papéis das principais empresas do setor. Só a ação da Eletrobrás despencou quase 10%. "Os preços ao longo do leilão sinalizaram que investimentos já feitos não serão remunerados de forma conveniente", disse Claudio Sales, presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica (CBEE).

Num balanço feito logo após o encerramento do leilão, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, comemorou o resultado. "O leilão foi um sucesso e o consumidor saiu ganhando." Segundo Dilma, os valores negociados então dentro dos patamares do mercado e não vão comprometer o leilão de energia nova, que ocorre no ano que vem. Quanto à reação do mercado e à queda no preço das ações das elétricas, Dilma acredita numa reversão das expectativas. O mercado é um termômetro mas de curto prazo, disse. "Na nossa avaliação, a tendência da Eletrobrás não é de perda, mas de ganho financeiro em relação à situação anterior." Furnas, por exemplo, tinha cerca de 2 000 megawatts sem contrato e conseguiu vender tudo.

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