Por que o Itaú espera um dólar a R$ 4,15 no final de 2020 e 2021
Situação do câmbio vai se amenizar em parte com a aceleração da economia brasileira, dizem economistas do banco
João Pedro Caleiro
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 15h03.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2020 às 15h18.
São Paulo - O dólar chegou aos R$ 4,37 na manhã desta quarta-feira (19), um novo recorde nominal, mas a previsão do Itaú é que a moeda deve recuar um pouco e terminar 2020 e 2021 cotada em R$ 4,15.
O pico recente atinge vários países emergentes e está ligado principalmente a fatores externos, como a aversão ao risco no mercado diante da epidemia do coronavírus.
A queda no crescimento da China, nosso maior parceiro comercial, afeta diretamente as exportações brasileiras e também o preço das commodities que o Brasil exporta, como minério de ferro e soja.
Já o fato da Selic estar em patamar historicamente baixo reduz o diferencial entre o juro brasileiro e o americano, o que tira a atratividade do país para o capital estrangeiro.
Julia Gottlieb, economista do Itaú, mostra que o câmbio está muito relacionado com o fluxo de capitais, que teve recorde negativo em 2019.
Além disso, o início do ano trouxe um balde de água fria do lado doméstico, com a divulgação de dados decepcionantes nos setores de indústria, serviços e comércio referentes ao final do ano passado.
Crescimento
A aposta do Itaú é que a situação do câmbio vai se amenizar em parte com a aceleração da economia brasileira, do patamar de 1,1% nos últimos três anos para 2,2% em 2020 e 3% em 2021.
"Vemos um fluxo de capitais mais abundante acompanhando a retomada gradual do crescimento e compensando, em partes, o efeito do juro mais baixo", diz Gottlieb.
Tem virado praxe, desde o fim da recessão, o corte ao longo do ano das projeções de crescimento. O movimento está se repetindo neste início de 2020, mas o Itaú manteve sua projeção.
Um dos motivos é que o "efeito carregamento", de crescimento levado de um ano para o outro, está maior do que no início da retomada, e outro é a alta sustentada do consumo. Para manter a expansão na casa dos 2%, no entanto, teria de haver uma contínua expansão também do crédito.
"A boa notícia é que a gente já viu um crescimento do crédito ao consumo rodando em torno de 10% no ano passado, é preciso continuar nesse rimo", diz Mesquita.
Um fator importante para sustentar esse movimento é a formalização do trabalho, já que são os empregados formais que conseguem tomar crédito.
O Itaú vê sinais deste movimento de formalização escondido na taxa de desemprego, que deve cair lentamente. Ela fechou 2019 em 11,6% e deve ficar em 11% no final de 2020, segundo o banco.
"Para o desemprego cair mais rápido, a economia precisaria estar crescendo mais rápido", diz Luka Barbosa, economista do Itaú.
2010 foi o único ano no qual o desemprego caiu mais de um ponto percentual, mas a economia brasileira estava crescendo 7,5%.
Entre os riscos no horizonte está um possível agravamento do coronavírus e também questões domésticas que retardem a agenda, incluindo problemas com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a articulação do governo.
"Qualquer coisa que ameace o progresso dessa agenda vai gerar uma reação negativa dos mercados", diz Mesquita.