Candidatos formam fila para entrar em um centro de empregos em Sintra, Portugal: taxa de desemprego atigiu um recorde de 18% (Mario Proenca/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2013 às 18h06.
Lisboa - A Europa esperava que Portugal cumprisse as medidas de austeridade prescritas em seu pacote de resgate financeiro, se graduasse no ano que vem e seguisse o exemplo da Irlanda em uma bem-sucedida recuperação da crise econômica.
Em vez disso, a crise política fez com que seu programa saísse do eixo e Portugal está começando a se parecer mais com a Grécia.
Dois ministros portugueses renunciaram, causando turbulência política e, além disso, cortes de gastos e aumentos de impostos contribuíram para a pior crise econômica desde os anos 1970 e a elevada taxa de desemprego recorde, de 18 por cento.
"A esperança era que Portugal, por ser o segundo país a deixar um programa depois da Irlanda, mostrasse que a cura funciona, que os países podem se recuperar", disse Guntram Wolff, diretor da Bruegel, influente instituição de Bruxelas.
"Se isso não acontece, o apetite de todas as partes para promover um outro programa não será muito grande." A crise começou com a renúncia do ministro das Finanças Vitor Gaspar, que endossou o plano de ajuste, mas disse não contar com apoios.
Depois, o ministro de Relações Exteriores, Paulo Portas, renunciou em protesto contra as medidas de austeridade, desencadeando o temor de que ele retiraria seu partido, o CDS-PP, da coalizão no poder, no qual é minoritário, deixando o governo sem sua maioria no Parlamento.
Portas se irritou com a nomeação da secretária do Tesouro, Maria Luis Albuquerque para o lugar de Gaspar, já que isso significava que ela daria continuidade às políticas de austeridade dele.
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tentou, então, consertar a situação promovendo Portas a vice-premiê e deixando-o com a incumbência de coordenar a política econômica.
Mas a crise tomou um novo rumo quando o presidente do país, Aníbal Cavaco Silva, se recusou na semana passada a aceitar o plano do primeiro-ministro e, em vez disso, pediu que fosse feito um amplo acordo político entre os principais partidos para respaldar o pacote de resgate até o seu término, em meados de 2014.
Ladeira Abaixo
O presidente quer que o principal grupo oposicionista, os socialistas, seja incluído no acordo. Os três partidos iniciaram conversações e prometem conclui-las até domingo.
"Os políticos portugueses, do presidente para baixo, estão tratando a saída do senhor Gaspar, o arquiteto das reformas estruturais e fiscais exigidas pela troika, como um sinal verde para um debate público sobre o programa de resgate", disse o diretor-gerente da Spiro Sovereign Strategy, Nicolas Spiro.
"A percepção é de que Lisboa está dando as costas para as reformas econômicas. Portugal está deslizando por uma ladeira escorregadia." A próxima avaliação regular da economia pela "troika", formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, já foi adiada por seis semanas por causa da crise.