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De política a futebol: Nate Silver ensina a reduzir erros em previsões

Estatístico mais famoso do mundo diz que imensidão de dados tornou as previsões mais difíceis

SELEÇÃO FEMININA: Nate Silver dá 3% de chances de título na Copa do Mundo, e previu derrota para Austrália / REUTERS/Jean-Paul Pelissier
CR

Carolina Riveira

Publicado em 13 de junho de 2019 às 18h32.

Última atualização em 9 de agosto de 2020 às 00h36.

Quanto mais dados, mais informação e menor a chance de errar. Parece uma afirmação lógica, mas é exatamente o contrário do que pensa o estatístico americano Nate Silver, que ficou famoso em 2008 ao acertar as previsões para 49 dos 50 estados americanos nas eleições presidenciais. “Quanto mais dados se tem, há mais espaço para interpretar os resultados de formas diferentes”, explica Silver.

Em passagem pelo Brasil para participar do evento CIAB Febraban nesta quinta-feira, 13, o estatístico palestrou aos participantes do evento sobre por que as previsões falham e formas para se aproximar da perfeição na complicada arte de prever o futuro.

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O próprio Silver sentiu na pele a dificuldade das estatísticas . Nas eleições de 2016 que levaram à vitória do presidente americano Donald Trump, Silver tinha a previsão mais “otimista” para Trump dentre as pesquisas: entre 28 e 29% de chances de vitória para o republicano, ante estimativas como 18% do jornal The New York Times ou apenas 1% da conceituada Universidade Princeton.

A vitória de Trump contra a democrata Hillary Clinton naquele ano foi contra todas as estatísticas, incluindo as de Silver. Passados dois anos daquela eleição, a imprensa e o mundo passaram a olhar com um pouco mais de ceticismo para previsões, mas Silver parece não se importar com o fato de não ter acertado naquele pleito. “Demos ao Trump a mesma chance que a própria campanha dele o deu”, diz.

Silver afirmou que a grande quantidade de dados — ou, pior ainda, uma grande quantidade de eleitores em constante mudança, no caso da política — também faz com que o número de possibilidades de uma combinação chegue à casa dos bilhões ou trilhões, fazendo que somente os dados não sejam suficientes para previsões corretas.

Não é uma desculpa pelos erros, mas uma constatação. Autor do livro “O sinal e o ruído – por que tantas previsões falham e outras não”, publicado em 2012 e com uma nova edição em 2015, Silver apontou alguns fatores que podem fazer as estatísticas e previsões serem sempre mais precisas.

Em seu site de previsões, o FiveThirtyEight, Silver faz análises que vão de eleições e aprovação de políticos mundo afora a esportes, uma de suas paixões. Ele afirma que o ceticismo é sempre necessário, e que, para além disso, cada fato novo pode mudar a análise anterior.

Usando como exemplo a própria NBA, liga de basquete americana e que tem nesta quinta-feira outra rodada das finais entre Golden State Warriors e Toronto Raptors, Silver aponta como as previsões mudaram em questão de semanas após uma lesão que tirou o craque do Warriors, Kevin Durant, das finais, e fez o Raptors ir de menos de 20% para mais de 50% de chance de vitória.

“Não dá para prever toda a incerteza do mundo, não dá para prever se um jogador de basquete vai se machucar, ou o que os eleitores indecisos vão decidir no último minuto. Mas dá para diminuir a vergonha”, brinca.

Tentando mais e errando menos

O que fazer, então, em um mundo que se torna cada vez mais cheio de dados e imprevisível? Neste caso, a matemática não resolverá o problema sozinha, e precisa da ajuda de outras ciências, de expertise sobre o tema e, claro, de erros e acertos. No caso da política, entender outros fatores, como o contexto cultural, social e ideológico dos eleitores, além da situação da economia, pode ser um auxílio valioso à análise de grandes gigabytes de dados.

Por isso, outro ponto crucial, na visão do fundador do FiveThirtyEight, é a diversidade nas equipes. A lição pode ser valiosa também para os negócios: seja para acertar uma previsão ou criar o produto correto para seus clientes, os gestores devem buscar “pessoas que pensem de formas diferentes, venham de backgrounds diferentes e tragam coisas diferentes para a mesa, e não clones que façam todos a mesma coisa”, afirma Silver.

“Não importa o quão inteligente o seu time seja, você nunca conseguirá se ajustar às circunstâncias sem um time diverso”, diz.

Na mesma linha, times com independência, capazes de questionar e chegar à melhor solução, e descentralizados, com visões de diferentes lugares, ajudam a entender melhor as probabilidades — na estatística ou nos negócios.

O que esperar das eleições americanas

E quem vencerá as eleições americanas de 2020? A aprovação de Trump, segundo o FiveThirtyEight, segue estável acima dos 40% há meses, e a economia também vai bem, com baixa taxa de desemprego. Silver lembra que os Estados Unidos têm apenas dois partidos competitivos (Republicano e Democrata), ao contrário do que vem acontecendo no resto do mundo, onde surgem novas legendas e candidatos de terceira via.

Além disso, o alto nível de partidarismo é parcialmente responsável pelos números estáveis de Trump, com pouca gente mudando de ideia sobre suas posições e perfis de eleitorado bastante definidos para cada partido. No geral, Silver aponta que elites, pessoas com maior escolaridade e grandes metrópoles seguem votando nos democratas, e grande parte da classe trabalhadora e menos escolarizada está votando nos republicanos.

“De certa forma, isso faz as eleições americanas mais previsíveis”, diz. O FiveThirtyEight, por enquanto, dá a Trump entre 47% e 53% de chances de vitória. Ou seja: 100% em cima do muro, mas vá lá.

É impossível saber o que vai mudar no cenário político americano até novembro de 2020, quando acontecem as eleições. Mas, ao menos nos esportes, Silver colocou nesta quinta-feira um novo acerto no currículo: a derrota da seleção feminina de futebol do Brasil para a Austrália, por 3×2 (de virada), na Copa do Mundo de futebol feminino.

O FiveThirtyEight vem fazendo previsões sobre a Copa feminina, e dá ao Brasil apenas 3% de chances de vencer a competição. (O favorito é a seleção dos Estados Unidos, que tem 23% chance de vitória, seguida da França, com 21%, segundo a equipe de Silver.)

Prever o time masculino do Brasil, contudo, é mais difícil: na Copa de 2018, o time era o favorito ao título segundo as previsões de Silver (e do restante dos especialistas esportivos, estatísticos ou não), mas caiu nas quartas-de-final após derrota para a Bélgica.

Mas até esse erro pode conter informações importantes para as próximas análises. “O Brasil tem um histórico de ter performance pior do que as previsões”, brinca Silver. Na próxima previsão sobre o time masculino de futebol, o estatístico, com certeza, levará esse histórico em conta.

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