Economia

Política italiana ressuscita fantasma da crise da dívida na Europa

A terceira maior economia da zona do euro espera a formação de um governo pelo atual primeiro ministro, enquanto partidos pedem novas eleições

Com a instabilidade política, o prêmio de risco cresceu na Itália, arrastando também Espanha, Portugal e Grécia (Italian Presidential Press Office/Reuters)

Com a instabilidade política, o prêmio de risco cresceu na Itália, arrastando também Espanha, Portugal e Grécia (Italian Presidential Press Office/Reuters)

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AFP

Publicado em 29 de maio de 2018 às 14h57.

A crise política na Itália trouxe de volta, nas últimas horas, o fantasma de uma nova crise da dívida nos países do sul da Europa, com bolsas nervosas e prêmios de risco em alta.

A terceira maior economia da zona do euro está imersa na incerteza, à espera da formação de um governo por parte do economista Carlo Cottarelli, que os partidos antissistema anunciaram que rejeitaram para convocar novas eleições o quanto antes.

Diante desta situação, o prêmio de risco cresceu significativamente na Itália, arrastando também seus vizinhos do sul - Espanha, Portugal e Grécia.

As bolsas europeias também sofreram quedas. No fechamento desta terça-feira, a Bolsa de Milão recuou 2,65%, a de Madri, 2,49%, a de Paris, 1,29%, Londres, 1,26%, e Frankfurt, 1,53%.

Embora a crise da dívida que começou em 2009 seja considerada concluída, a situação política na Itália traz más recordações para os investidores.

"Hoje estamos observando um autêntico fenômeno de pânico na Itália, bem como um pequeno contágio sobre os demais países, que começa a ser inquietante", disse à AFP Gilles Pradere, diretor de mercado da dívida da RAM Active Investments, com sede em Genebra.

Os investidores estão preocupados com o resultado de novas eleições na Itália, que poderiam ser convocadas no fim deste ano ou no começo de 2019 e levar os eurocéticos ao poder.

"A probabilidade de voltar à situação inicial, com uma reunião de extremos" políticos, reforça os temores "sobre a permanência da Itália da zona do euro", disse à AFP Jean-François Robin, especialista do mercado de títulos da Natixis.

Além disso, "as eleições poderiam acontecer no mesmo momento em que o BCE (Banco Central Europeu) dá fim ao seu programa de 'quantiative easing'", ou seja, de compra de ativos, o que aumentaria a desconfiança dos investidores, disse Antonio Cesarano, diretor de estratégia global da Intermonte.

Risco político

Os mercados também estão observando a situação política na Espanha, onde os socialistas apresentaram nesta sexta-feira uma moção de censura para tentar derrubar o governo do conservador Mariano Rajoy, envolvido em um caso de corrupção.

"Não há nenhum risco de que um partido com uma ideologia similar à que vemos na Itália (antissistema) chegue ao poder" na Espanha, garante Antonio Sales, analista da XTB Broker.

De acordo com especialistas, a economia espanhola sofria nesta terça principalmente com o contágio da Itália.

"Também é preciso levar em conta o fato de que os mercados tinham subido muito (nas últimas semanas), a seus níveis mais altos", lembrou Núria Álvarez, analista da Renta 4.

"Estamos em uma crise muito italiana, muito mais que em 2011-2012, agora são os problemas italianos que se propagam às dívidas de outros países, quando a economia vai bem", disse Robin.

"A Itália desata um risco político sobre a zona do euro, já não é um risco financeiro ou bancário", acrescentou.

Desde 2011, "a Europa executou diversos instrumentos para evitar um contágio rápido", disse Pradere. Por ora, "a economia opera de forma relativamente normal", segundo ele.

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