Política econômica global à espera de próximo passo da China
Economistas do Goldman Sachs, UBS e BNP Paribas esperam mais medidas de flexibilização à frente, diante da expectativa do PIB mais fraco em três décadas
Ligia Tuon
Publicado em 18 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2020 às 11h22.
A direção a ser tomada por muitos dos bancos centrais e governos globais agora depende de uma pergunta: como o governo chinês reagirá ao choque econômico causado pelo coronavírus ?
O Politburo da elite do Partido Comunista pediu ao país que cumpra suas metas econômicas este ano, um imperativo que pode abalar a recente relutância do governo em oferecer estímulos em larga escala.
Se isso se traduzir em afrouxamento total da política monetária e aumento dos gastos públicos, os principais parceiros comerciais que foram atingidos pelo impacto sobre as exportações, cadeias de suprimentos, commodities e turismo podem sofrer um efeito de curto prazo seguido por uma rápida recuperação.
O choque econômico deverá dominar as discussões na reunião desta semana de ministros das Finanças e bancos centrais durante a cúpula do Grupo dos 20 em Riad, na Arábia Saudita. Na sexta-feira, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, sugeriu que pode haver necessidade de “medidas sincronizadas ou, ainda melhor, coordenadas para proteger a economia mundial”.
Muito vai depender das medidas tomadas pela China. As opções de curto prazo incluem cortes adicionais das taxas de financiamento do banco central e isenção de impostos para setores mais afetados, além de liberar liquidez para o sistema financeiro. A ênfase ainda é de evitar exageros, embora haja sinais de que essa resolução esteja perdendo força.
O Banco Popular da China poderia reduzir ainda mais a proporção de depósitos que os bancos devem manter como reserva. Os governos locais estão sendo autorizados a acelerar a venda de títulos para financiar projetos de infraestrutura, como rodovias e centros de saúde.
Economistas do Goldman Sachs, UBS e BNP Paribas esperam mais medidas de flexibilização à frente.
O PIB real da China deve crescer 5,8% este ano, segundo pesquisa da Bloomberg, abaixo dos 5,9% do mês passado. Seria o resultado mais fraco em três décadas.
Ainda não se sabe se as autoridades realmente relaxarão as restrições aos empréstimos em uma economia em que a dívida total se aproxima de 300% da produção nacional, tornando a estabilidade financeira uma prioridade política.
“A chave para os parceiros comerciais da China não é tanto a composição do estímulo da China, mas, antes, que o estímulo seja adaptado para refletir as características do choque”, disse Nathan Sheets, um ex-representante do Fed que agora é economista-chefe da PGIM Fixed Income.
Efeito China
Economistas do HSBC Bank liderados por Janet Henry estimam que o impacto nas receitas do turismo será o maior obstáculo para a Ásia. Eles também destacam que o papel central da China na cadeia global de suprimentos de eletrônicos atrasará uma recuperação preliminar após a prolongada crise.
O banco, focado na Ásia, cortou a previsão de crescimento do PIB global em 2020 de 2,5% para 2,3% devido ao efeito da China.
Segundo análise de Tom Orlik, da Bloomberg Economics, Austrália, Coreia do Sul, Japão, Cingapura, Hong Kong e Tailândia estão entre as mais expostos na região, enquanto Brasil, Alemanha e África do Sul estão no topo da lista de vulnerabilidade global.
O presidente Xi Jinping destacou que o impacto no crescimento será de curto prazo e aproveitou oportunidades como uma conversa de meia hora por telefone com o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, para garantir que as consequências serão minimizadas.