Polarização política tem afetado investimentos no mundo, diz Banco Central
Presidente da instituição, Roberto Campos Neto também afirmou que decisões futuras sobre uma nova queda na taxa de juros devem ser feitas com cautela
Reuters
Publicado em 20 de novembro de 2019 às 15h42.
Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 15h51.
Brasília - A polarização política é tema no mundo que tem afetado investimentos e o crescimento econômico, afirmou o presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, nesta quarta-feira (20), também chamando a atenção para a queda no comércio mundial.
"Tem um tema muito importante também, além da guerra comercial, da tensão comercial, que é o tema geopolítico que nós estamos vendo em diversas partes do mundo, a polarização política. Tudo isso tem afetado os investimentos de uma forma mais definitiva", afirmou ele.
Em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso, Campos Neto voltou a defender que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional da Selic (a taxa básica de juros) "de igual magnitude ao realizado na reunião de outubro". No mês passado, o BC cortou a Selic em 0,50 ponto porcentual, de 5,50% para 5,00% ao ano.
Esta avaliação consta de apresentação, publicada no site do BC, que Campos Neto faz nesta tarde em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Campos Neto também repetiu a ideia de que a conjuntura econômica atual prescreve "política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da estrutural". O juro estrutural é aquele em que, em tese, há crescimento econômico sem gerar inflação.
"Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", acrescentou Campos Neto.
O presidente do Banco Central voltou a destacar que, com a Selic (a taxa básica de juros) em níveis mais baixos, "as pessoas também começam a diversificar investimentos". Atualmente, a Selic está em 5,00% ao ano, o menor valor da série histórica, o que torna aplicações em renda fixa menos atrativas.
Campos Neto destacou o aumento do número de pessoas que investem pela Bolsa de Valores e afirmou que este movimento deve continuar em 2020.
Campos Neto afirmou ainda que o mundo vem passando por um período de revisões de crescimento para baixo. Segundo ele, em 2020 grande parte do crescimento global virá da Ásia, em especial de países como Índia e Indonésia.
"Na América Latina, o crescimento em 2020 deve ser maior", acrescentou Campos Neto. Para ele, Brasil e Argentina devem se recuperar no próximo ano, mas o cenário para o Chile ainda é incerto. "Ainda não está claro se acontecimentos recentes no Chile vão afetar o ano que vem", pontuou, em referência à crise política no país latino-americano.
Crescimento de 2019
Campos Neto voltou a afirmar que o crescimento econômico de 2019 no Brasil foi afetado por diversos choques. Em apresentação durante audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, Campos Neto indicou que o choque trazido pela economia argentina retirou 0,18 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano.
Já o choque da economia global foi responsável pela perda de 0 29 ponto porcentual do PIB. O choque trazido pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), por sua vez, retirou 0,20 ponto porcentual do PIB.
Um gráfico que consta na apresentação de Campos Neto mostra que a expectativa de crescimento do PIB de 2019 sem os choques era de 1,59%. Em função deles, essa projeção caiu para 0,92%.
Campos Neto afirmou que a inflação baixa é o que traz crescimento contínuo. "Perguntas sobre a inflação têm aparecido em menor frequência, o que é ótimo para um banqueiro central", comentou Campos Neto aos parlamentares. "Mas a memória inflacionária ainda é alta no Brasil", acrescentou.
O presidente do BC pontuou ainda que a instituição tem a capacidade de fazer intervenções na Selic (a taxa básica de juros), "o que tem feito". Atualmente, a Selic está em 5,00% ao ano, o menor patamar da série histórica.
(Com Reuters e Estadão Conteúdo)