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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h13.
Em vez do espetáculo do crescimento prometido pelo presidente Lula, o que a economia brasileira encenou no ano passado foi uma inesperada retração. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2% em 2003, a maior queda desde 1992, quando a crise política que culminou no impeachment do presidente Collor fez o indicador cair 0,5%. Desta vez, a queda do PIB está, de acordo com o IBGE, diretamente relacionada à diminuição do consumo das famílias, que foi de 3,3% (no mesmo período, o PIB per capita caiu 1,5%, a maior queda em dez anos).
A menor demanda se explica, segundo o gerente das contas nacionais do IBGE, Roberto Olinto, por uma dupla redução: da massa salarial e do crédito usado no consumo de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos. A taxa do PIB e os últimos indicadores medidos pelo IBGE foram divulgados nesta sexta-feira (27/02).
Outra variação significativa, segundo o IBGE, foi o declínio no volume dos impostos sobre os produtos (-1,7%), que reflete o comportamento de setores onde a incidência de tributos é maior, como produtos farmacêuticos, bebidas e automóveis. Esse indicador mostra como foi grande a queda na produção e no consumo desse tipo de produto , diz Olinto.
Os dados do PIB foram recebidos com desânimo pelos economistas. Na opinião do presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo e da Fundação Abrinq, Synésio Batista, os números do IBGE mostram que todos os esforços do Governo, do setor produtivo e da sociedade estão insuficientes para alavancar a economia brasileira. A continuarmos neste compasso, sem crescimento, 10 milhões de brasileiros vão continuar desempregados e outros tantos à beira de engrossar esse triste contingente , diz Batista. Assim, só o governo e os bancos, que vêm arrecadando mais e mais, ganham. Lamento que o Brasil esteja andando em marcha-à-ré."
Na comparação dos desempenhos de cada atividade da economia, a agropecuária foi o único setor que cresceu em 2003: uma alta de 5%, mantendo o ritmo de expansão do ano anterior, quando o setor cresceu 5,5%. O crescimento da agropecuária tem sido estável nos últimos anos, mantendo esse patamar de 5% , diz Olinto.
Já a indústria teve uma retração de 1%, enquanto o setor de serviços caiu 0,1%. Esperava-se um crescimento maior da indústria no último trimestre, o que não aconteceu , afirma Olinto. A expansão industrial nos últimos três meses foi de 1,2% em relação ao trimestre anterior. De acordo com o IBGE, a taxa negativa da indústria em 2003 foi um reflexo da queda na construção civil (-8,6%), o único setor industrial que caiu em 2003. As outras atividades industriais foram marcadas por crescimentos menores que os detectados em 2002. A principal diferença na comparação entre os dois anos se deu no setor de comunicações, que inclui telefonia fixa, telefonia móvel e correios: um aumento de 0,1% em 2003, contra alta de 9,8% em 2002. Houve uma retração na telefonia fixa e nos correios que não foi compensada pelo crescimento da telefonia móvel , disse Olinto.
Entre os serviços, foi registrada uma maior queda no comércio (-2,6%, contra 0,2% em 2002) e nos transportes (-0,8%, após uma alta anual de 3,4%). A redução mais acentuada no comércio é mais um reflexo da queda no consumo das famílias.
Os dados do instituto apontaram que a retração da economia poderia ter sido maior não fosse o desempenho positivo do comércio exterior no ano passado. A queda na demanda foi compensada, em parte, pelo saldo das exportações e importações de bens e serviços , disse Olinto. Em 2003, as exportações de bens e serviços cresceram 14,2%, enquanto a alta no ano anterior tinha sido de 7,9%. Já as importações caíram 1,9% no ano passado (a queda acumulada em 2002 foi bem maior: 12,3%). No quarto trimestre, a importação teve um aumento expressivo de 8,3% em relação ao trimestre anterior , disse Olinto. O consumo de serviços importados contribuiu muito para essa taxa.
A queda na demanda da economia também atingiu as despesas do governo e das empresas. No ano passado, o consumo do governo cresceu 0,6%, uma taxa menor que a de 2002, quando esse gasto aumentou 1,4%. Já os investimentos das empresas na produção ou expansão de seus negócios caíram 6,6%, uma queda ainda maior que a do ano anterior (-4,2%).