Economia

Para Mansueto, Brasil tem desafio de continuar com ajuste fiscal

Para secretário do Tesouro, um déficit primário em torno de 10% do PIB para 2020 pode ser considerado "otimista"

Mansueto Almeida: "A nossa falha em não continuar com o ajuste fiscal, e perder a âncora fiscal, é um país que vai ter dívida muito alta, um gasto muito alto, e os juros vão subir, e essa dívida vai se tornar impagável" (Adriano Machado/Reuters)

Mansueto Almeida: "A nossa falha em não continuar com o ajuste fiscal, e perder a âncora fiscal, é um país que vai ter dívida muito alta, um gasto muito alto, e os juros vão subir, e essa dívida vai se tornar impagável" (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 5 de junho de 2020 às 20h55.

Última atualização em 5 de junho de 2020 às 20h59.

O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, afirmou nesta sexta-feira que a projeção para um déficit primário em torno de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2020 pode ser considerada, na conjuntura atual, "otimista".

"Dez por cento do PIB para o déficit primário em 2020 passou a ser uma estimativa otimista. Se algum dos programas (de auxílio) for renovado para além de três meses, e parte da arrecadação para ser paga no segundo semestre postergada, o déficit primário será maior", afirmou Mansueto em videoconferência promovida pela Verde Asset Management.

O secretário também apontou que o grande desafio do país é continuar avançando com a agenda do ajuste fiscal, mirando na estabilização da trajetória da dívida pública no longo prazo, de forma que ela não se torne impagável.

"A nossa falha em não continuar com o ajuste fiscal, e perder a âncora fiscal, é um país que vai ter dívida muito alta, um gasto muito alto, e os juros vão subir, e essa dívida vai se tornar impagável", pontuou.

Mansueto também afirmou que, caso o programa de auxílio emergencial fosse tornado permanente pelo governo federal, isso implicaria uma despesa primária de mais de 8% do PIB. "A gente teria que aumentar a carga tributária do Brasil em mais de 10 pontos do PIB. É possível? Não é possível, então não faz o mínimo sentido", explicou.

Segundo Mansueto, uma eventual extensão até o fim do ano, sob os valores atuais, do pagamento do benefício para trabalhadores informais, autônomos e desempregados em meio à crise provocada pela pandemia do Covid-19, iria fazer com que a dívida do país ultrapassasse 100% do PIB em 2020.

"A gente está falando aí de uma despesa de mais de 4% do PIB, despesa primária. Nosso déficit nominal ia para mais de 20% do PIB. A nossa dívida, tranquilamente, passaria de 100% do PIB. Essa conta, no próximo ano, eu não teria dúvida, ficaria muito salgada", relatou.

O presidente Jair Bolsonaro já anunciou que acertou com a equipe econômica o pagamento de uma quarta e quinta parcelas do auxílio, em valor inferior aos 600 reais pagos nas três primeiras tranches, mas não houve ainda um anúncio oficial da prorrogação.

Nesta sexta, o secretário Especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou que o pagamento adicional de mais duas parcelas do auxílio emergencial, em valor somado de 600 reais, iria custar mais 51 bilhões de reais aos cofres públicos, elevando a despesa total com o programa a cerca de 200 bilhões de reais.

Pagamento do BNDES

Em relação ao pagamento de dívidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional, Mansueto afirmou que haverá o desembolso de valor firmado em contrato ainda durante o governo do ex-presidente Michel Temer, entre 24 a 26 bilhões de reais, neste ano.

"Acredito que a partir do próximo ano, enfim, os pagamentos extras voltem, o que vai contribuir para a dívida pública também", complementou.

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