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Para analistas, só acordo melhora fluxo Brasil-Argentina

Somente um acordo político poderia evitar uma queda pronunciada do comércio entre os dois países

Peso argentino: Argentina caminha para o terceiro trimestre consecutivo de retrocesso em sua economia (Diego Giudice/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2014 às 19h07.

Buenos Aires - Somente um acordo político para financiar as importações argentinas de produtos brasileiros poderia evitar uma queda pronunciada do comércio entre os dois países.

A Argentina caminha para o terceiro trimestre consecutivo de retrocesso em sua economia, marcando uma recessão que promete durar todo o ano, conforme analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

"O governo está segurando as importações para melhorar o fluxo de dólares com o fim de preservar as reservas e essa política deve permanecer", disse o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.

Neste cenário, ponderou, "se houver algum tipo de compromisso do governo argentino com o brasileiro, o comércio poderia melhorar um pouco com a Argentina soltando levemente o pé no freio das importações de produtos brasileiros".

A referência é sobre as negociações em andamento entre os dois países para criar linhas especiais de crédito destinadas ao financiamento das importações argentinas, especialmente de automóveis e autopeças brasileiras, setor responsável por mais de 50% do fluxo comercial.

"Esse acordo é interessante para os dois lados porque, por exemplo, permitiria a entrada de peças necessárias para as montadoras, as quais, em vários casos, têm deixado de produzir por causa das restrições", explicou o especialista em negociações internacionais, Raúl Ochoa.

Recuo

Ochoa estimou que a economia argentina encolheu 0,6% no primeiro trimestre do ano, comparado com os últimos três meses de 2013, e deve manter a tendência de queda no segundo trimestre, recuando entre 0,5% e 0,6%.

Dados oficiais do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) mostraram, na última sexta-feira, que entre outubro e dezembro a economia já havia recuado 0,4% comparado com o trimestre anterior, pressionada pela queda do comércio exterior (-7% das exportações) e do consumo doméstico (-2,6%).

A economia argentina deve retroceder entre 1% e 2% em 2014, nas estimativas de Sica e Ochoa.

Ambos concordam que o governo de Cristina Kirchner vai manter a política de controle das importações e do câmbio se não conseguir consolidar as reservas por meio da entrada de divisas.

Desde dezembro, as restrições às importações, que vinham sendo aplicadas somente pela Secretaria de Comércio por meio da demora na liberação das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importações (DJAI), foram reforçadas pelo Banco Central, que começou a atrasar a liberação para o pagamento das compras realizadas pelos importadores.

"Não há nenhum elemento que aponte a uma mudança dessa situação nos próximos 3 ou 6 meses. A Argentina vai continuar com dificuldades e restrições", disse Ochoa.

Dólares

Ochoa explicou que, além das divisas que entram pelas exportações da soja, não há perspectivas de ingressos de dólares.

"Salvo algum investidor, mas isso ocorreria após uma definição positiva nas negociações de pagamento ao Clube de Paris e aos holdouts (credores de dívida não reestruturada que travam disputa legal com o país). Mas não há decisão firme de que o governo vai por este caminho", duvidou Ochoa.

Para o analista, a "situação é de recessão e a tendência é negativa para o comércio com o Brasil". A recessão argentina vem acompanhada por uma elevada inflação, em torno de 30% anuais, e uma disparada das taxas de juros acima de 50%.

No caso do setor automotivo, o principal motor da indústria, os juros aplicados nos financiamentos ao consumidor são de 70% anuais e as taxas do crédito para pessoas físicas oferecido pelos bancos estão em torno de 50% por ano, apontou o economista.

Ochoa destacou que a conjuntura da economia argentina tem sido agravada pelas políticas ruins de restrições não só de importações, mas também de exportações.

A decisão de controlar a venda externa de alimentos, desde 2006, provocou uma reação de recuo dos produtores agrícolas e a Argentina deixa de exportar cerca de US$ 5 bilhões por ano.

Somente em trigo, o país deixa de receber divisas em torno de US$ 1,5 bilhão, dos quais cerca de US$ 1,2 bilhão do Brasil, principal comprador do cereal.

"Esse valor poderia estar somando na balança comercial bilateral em favor da Argentina", comentou.

No setor de leite, o país poderia estar exportando US$ 1 bilhão a mais.

No segmento de carne bovina são outros US$ 2 bilhões que poderiam estar reforçando as reservas. Nos últimos anos, foram fechados 120 frigoríficos e 15 mil operários perderam o emprego.

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A Argentina caminha para o terceiro trimestre consecutivo de retrocesso em sua economia, marcando uma recessão que promete durar todo o ano, conforme analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

"O governo está segurando as importações para melhorar o fluxo de dólares com o fim de preservar as reservas e essa política deve permanecer", disse o economista Dante Sica, da consultoria Abeceb.

Neste cenário, ponderou, "se houver algum tipo de compromisso do governo argentino com o brasileiro, o comércio poderia melhorar um pouco com a Argentina soltando levemente o pé no freio das importações de produtos brasileiros".

A referência é sobre as negociações em andamento entre os dois países para criar linhas especiais de crédito destinadas ao financiamento das importações argentinas, especialmente de automóveis e autopeças brasileiras, setor responsável por mais de 50% do fluxo comercial.

"Esse acordo é interessante para os dois lados porque, por exemplo, permitiria a entrada de peças necessárias para as montadoras, as quais, em vários casos, têm deixado de produzir por causa das restrições", explicou o especialista em negociações internacionais, Raúl Ochoa.

Recuo

Ochoa estimou que a economia argentina encolheu 0,6% no primeiro trimestre do ano, comparado com os últimos três meses de 2013, e deve manter a tendência de queda no segundo trimestre, recuando entre 0,5% e 0,6%.

Dados oficiais do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) mostraram, na última sexta-feira, que entre outubro e dezembro a economia já havia recuado 0,4% comparado com o trimestre anterior, pressionada pela queda do comércio exterior (-7% das exportações) e do consumo doméstico (-2,6%).

A economia argentina deve retroceder entre 1% e 2% em 2014, nas estimativas de Sica e Ochoa.

Ambos concordam que o governo de Cristina Kirchner vai manter a política de controle das importações e do câmbio se não conseguir consolidar as reservas por meio da entrada de divisas.

Desde dezembro, as restrições às importações, que vinham sendo aplicadas somente pela Secretaria de Comércio por meio da demora na liberação das Declarações Juramentadas Antecipadas de Importações (DJAI), foram reforçadas pelo Banco Central, que começou a atrasar a liberação para o pagamento das compras realizadas pelos importadores.

"Não há nenhum elemento que aponte a uma mudança dessa situação nos próximos 3 ou 6 meses. A Argentina vai continuar com dificuldades e restrições", disse Ochoa.

Dólares

Ochoa explicou que, além das divisas que entram pelas exportações da soja, não há perspectivas de ingressos de dólares.

"Salvo algum investidor, mas isso ocorreria após uma definição positiva nas negociações de pagamento ao Clube de Paris e aos holdouts (credores de dívida não reestruturada que travam disputa legal com o país). Mas não há decisão firme de que o governo vai por este caminho", duvidou Ochoa.

Para o analista, a "situação é de recessão e a tendência é negativa para o comércio com o Brasil". A recessão argentina vem acompanhada por uma elevada inflação, em torno de 30% anuais, e uma disparada das taxas de juros acima de 50%.

No caso do setor automotivo, o principal motor da indústria, os juros aplicados nos financiamentos ao consumidor são de 70% anuais e as taxas do crédito para pessoas físicas oferecido pelos bancos estão em torno de 50% por ano, apontou o economista.

Ochoa destacou que a conjuntura da economia argentina tem sido agravada pelas políticas ruins de restrições não só de importações, mas também de exportações.

A decisão de controlar a venda externa de alimentos, desde 2006, provocou uma reação de recuo dos produtores agrícolas e a Argentina deixa de exportar cerca de US$ 5 bilhões por ano.

Somente em trigo, o país deixa de receber divisas em torno de US$ 1,5 bilhão, dos quais cerca de US$ 1,2 bilhão do Brasil, principal comprador do cereal.

"Esse valor poderia estar somando na balança comercial bilateral em favor da Argentina", comentou.

No setor de leite, o país poderia estar exportando US$ 1 bilhão a mais.

No segmento de carne bovina são outros US$ 2 bilhões que poderiam estar reforçando as reservas. Nos últimos anos, foram fechados 120 frigoríficos e 15 mil operários perderam o emprego.

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