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Palestinos celebram Ramadã em delicada situação econômica

Ao contrário de anos anteriores, comerciantes decidem vender apenas alimentos básicos durante o mês de jejum, o Ramadã, devido a recessão econômica

Bandeira palestina: "a renda do povo diminuiu notavelmente", diz comerciante (Ahmad Gharabli/AFP)
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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2014 às 10h23.

Gaza - Ao contrário de anos anteriores, Saher Abu Zeid, proprietário de uma pequena loja de comida no empobrecido bairro de Zeitoun, na capital Gaza, decidiu vender apenas alimentos básicos durante o mês de jejum, o Ramadã, que começou na alvorada de domingo.

Ele não é o único. Muitos comércios similares ao seu, tanto na Cisjordânia como em Gaza, ofertam neste ano uma variedade muito menor de produtos, com prioridade para os alimentos de primeira necessidade.

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"A recessão econômica e a tensão com Israel nos obrigou a adquirir menos produtos para nossas lojas porque sabemos que o povo atravessa uma situação complicada e não pode se permitir a comprar tudo o que queria para o Ramadã", declarou Abu Zeid, de 56 anos.

Em seu negócio familiar oferece aos clientes pequenas quantidades de tâmaras, produtos lácteos, e poucas quantidades de queijo e embutidos.

Os outros estabelecimentos do enclave litorâneo também não têm excedentes, como antes era habitual.

"Nos últimos três meses, a renda do povo diminuiu notavelmente. Por isso temos agora esta limitada capacidade de compra que afetou negativamente a economia no início do Ramadã", explicou Abu Zeid sobre o mês sagrado do Islã .

Deixar de comer, beber, fumar e de manter relações sexuais durante o dia são as obrigações de um período no qual o muçulmano deve se entregar a Deus, evitar os prazeres terrenais e se dedicar à vida espiritual.

Gaza e Cisjordânia - esta com maior poder aquisitivo - não são nesse sentido nenhuma exceção, apesar de na primeira os níveis de observância serem muito mais estritos.

"O que posso vender a cada dia é apenas suficiente para pagar minhas dívidas", lamentou com tristeza Abu Zeid, reflexo individual da difícil situação vivida na Faixa há oito anos.

Os índices de desemprego e pobreza nesse território de apenas 360 quilômetros quadrados aumentaram vertiginosamente desde a imposição do bloqueio israelense após a tomada de controle do Hamas em junho de 2007 e o posterior fechamento da fronteira com o Egito.


Os palestinos esperavam que o recente acordo de reconciliação entre os rivais Fatah e Hamas, que iluminou em 2 de junho um governo de unidade transitório para ambos territórios, ajudasse a erradicar esta situação e despertasse sua precária economia. Não aconteceu assim.

No mercado da Cidade Antiga de Gaza, a cena não é mais esperançadora para estes 30 dias de jejum e contrasta com a de anos anteriores nos quais as ruas estavam abarrotadas de compradores na busca por produtos.

Abdel Kader Abu Shaban, dono de uma loja situada nesta outra zona da cidade, diz que a atividade comercial é muito mais frágil.

"Mesmo oferecendo poucos produtos aos clientes, não conseguimos que o povo consuma", afirmou.

O vendedor lembra que mais de 50 mil funcionários adscritos ao governo anterior do Hamas não receberam ainda seus salários de maio e junho, e assegura que "enquanto não tenham seus salários, o comércio em Gaza será frágil".

Antes da formação do governo de unidade, os funcionários eram pagos pelo movimento islamita, que agora sustenta que devem ser remunerados pelo novo Executivo.

O economista Rami Abdo considera que esta disputa afeta cerca de um quarto dos quase dois milhões de pessoas que vivem na Faixa, e adverte sobre um possível aumento do sentimento de desespero entre a população e de seu impacto na economia, especialmente durante este crucial período, se não for solucionado rapidamente.

Além da crise econômica, a crescente tensão com Israel e o medo de mais violência também influenciam na celebração do Ramadã deste ano.

A região vive uma nova escalada desde o desaparecimento há 19 dias de três adolescentes judeus, fato pelo qual Israel acusa o Hamas e que se traduziu na pior espiral de violência na região desde o final de 2012.

Quatro milicianos e um menor de 7 anos morreram na Faixa de Gaza pelos ataques israelenses, assim como uma menina por um foguete palestino errático dos mais de 65 que as milícias dispararam contra o sul de Israel.

Na Cisjordânia, as batidas israelenses deixaram seis palestinos mortos, e entre 370 e 500 detidos.

Tareq Al Hajj, economista de Ramala, opina que esta operação israelense impediu muita gente de comparecer a seus trabalhos ou sair para compras, com o natural impacto na atividade comercial.

Uma opinião que é compartilhada por Taysir Amro, funcionário do Ministério da Economia, e Mohammed Asfour, proprietário de um modesto supermercado no centro de Ramala.

Para Amro, a disponibilidade de alimentos e bens de consumo durante este Ramadã não é muito distinta na Cisjordânia à de anos anteriores, mas a situação de segurança, sim, prejudica gravemente sua economia.

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