Orçamento de 2023 não tem lugar para R$ 142,7 bilhões em promessas
Economistas de fora do governo avaliam que o projeto orçamentário corre o risco de se transformar numa peça de "ficção" para campanha de Bolsonaro
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de agosto de 2022 às 09h27.
Última atualização em 10 de agosto de 2022 às 09h27.
O Orçamento de 2023, que o governo precisa enviar até o fim do mês para análise do Congresso, já tem um buraco de R$ 142,7 bilhões caso todas as principais promessas do presidente Jair Bolsonaro sejam atendidas. Entre elas, estão a manutenção do valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil ; a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF); o reajuste salarial para os servidores; e a prorrogação da desoneração dos impostos federais sobre o diesel, gás de cozinha e gasolina.
Economistas de fora do governo avaliam que o projeto orçamentário corre o risco de se transformar numa peça de "ficção", que serviria mais para turbinar a campanha à reeleição de Bolsonaro.
A área econômica já reservou R$ 17 bilhões para a correção da tabela do IR e outros R$ 11,7 bilhões para o funcionalismo, mas ainda tenta demover o Palácio do Planalto da promessa de manter a desoneração da gasolina, deixando apenas a prorrogação da desoneração do diesel. Se a desoneração valer para os dois, o custo extra chegaria a R$ 54 bilhões. O projeto de Orçamento não deverá especificar como a reserva para o aumento dos salários será dividida entre as carreiras, tampouco o modelo de correção do IR.
Em entrevista recente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acenou com a possibilidade de correção dos salários com base na inflação prevista para o ano que vem, mas técnicos do governo preferem priorizar algumas carreiras que têm hoje salários mais defasados em relação à iniciativa privada.
Os técnicos do Ministério da Economia buscam ainda uma saída técnica para não incluir o Auxílio Brasil de R$ 600 no projeto de Orçamento por falta de espaço no teto de gastos, mas Bolsonaro tem cobrado a elevação do piso do benefício social. Ele até já se adiantou e acenou com o envio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para acomodar o aumento de gastos.
Com o valor do Auxílio em R$ 400, o custo das promessas a serem "incluídas" no projeto de Orçamento cai para R$ 92,8 bilhões. Nesse cenário, segundo apurou o Estadão, o orçamento do Auxílio Brasil subiria R$ 10,1 bilhões no ano cheio, passando de R$ 89 bilhões para R$ 99,145 bilhões. Com R$ 600, o valor chegaria a R$ 150 bilhões, sem considerar mais recursos para os benefícios adicionais previstos no programa - como o auxílio rural, urbano e creche.
DOIS ORÇAMENTOS
Técnicos do governo avaliam que a elaboração do projeto está sendo mais complexa porque existiria um Orçamento do "candidato" e outro do "presidente". Um dos riscos é o governo prever gastos menores do que é esperado para acomodar as demandas do presidente.
O espaço poderia ser maior se o Ministério da Economia não tivesse ainda de acomodar cerca de R$ 19 bilhões em emendas parlamentares de relator, provenientes do chamado orçamento secreto. O presidente acertou que não vai vetar essas emendas na sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Para o coordenador do Observatório Fiscal da Fundação Getulio Vargas, Manoel Pires, o custo do lado da redução das receitas seria mais fácil de ser acomodado com o aumento do déficit previsto para o ano que vem. Já do lado das despesas, o teto de gastos é um limitador legal. Segundo ele, é possível incorporar as renúncias de tributos no Orçamento sem precisar compensação com o corte de despesas ou aumento de tributos.
"Está ficando evidente que tem muita coisa fora, e que o Orçamento está ficando cada vez mais distante do que o País precisa", diz Pires. Para a economista da Tendências Juliana Damasceno, seria "enorme" a probabilidade de o Orçamento a ser enviado para o Congresso ficar mais próximo de uma "peça de ficção". "A gente já viu isso acontecer antes. E, neste ano, por motivo eleitoral, o Orçamento acabou se desvirtuando do seu compromisso."
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