OCDE: 75% da população latino-americana tem pouca confiança nos governos
Segundo a OCDE, a crise entre a população e as instituições públicas na América Latina se agravou com a crise financeira mundial
AFP
Publicado em 9 de abril de 2018 às 16h03.
Última atualização em 9 de abril de 2018 às 16h04.
A relação entre cidadãos latino-americanos e suas instituições se deteriorou nos últimos anos, colocando em risco os avanços socioeconômicos recentes, alertaram nesta segunda-feira a OCDE e outros organismos internacionais em um relatório sobre a região.
"A falta de confiança se aprofundou desde a crise financeira mundial, de modo que a proporção da população latino-americana que tem pouca ou nenhuma confiança nos governos alcançou níveis próximos a 75% em 2017", aponta o relatório "Perspectivas Econômicas da América Latina 2018".
Esta desconfiança é cerca de 20 pontos superior à de 2006, segundo o documento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), A Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (Cepal) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina, em cooperação com a Comissão Europeia.
Exceto no sistema judiciário - no qual 34% dos cidadãos da América Latina e do Caribe disseram confiar em 2016 -, os indicadores de confiança nas instituições públicas recuaram no decênio 2006-2016 e ficaram abaixo dos registrados pela OCDE.
Apenas um em cada quatro latinos expressou, em 2016, sua confiança na honestidade das eleições. Apenas 15% achavam que seu governo estava afastado da corrupção e cerca de 29% confiavam no Executivo nacional.
"Esta desconexão crescente entre a cidadania e as instituições públicas (...) está colocando em risco os avanços socioeconômicos dos últimos 15 anos da região", alerta o relatório sobre instituições.
A insatisfação é causada pelas maiores aspirações de uma classe média crescente e pelos desafios ainda pendentes, como as "grandes desigualdades" entre os grupos socioeconômicos da região.
A perda de confiança nas instituições e nos serviços públicos também se reflete em uma disposição menor dos cidadãos para cumprir suas obrigações com o Estado. Em 2015, por exemplo, 52% estavam dispostos a sonegar impostos, se fosse possível (contra 46% em 2011).
Os autores do relatório sugerem aos países da América Latina e do Caribe "repensarem suas instituições (...) para responder melhor às necessidades e demandas da sociedade".
Incentivar uma maior integração comercial, fortalecer os sistemas de prestação de contas e aumentar a eficiência dos gastos públicos e a arrecadação de impostos são algumas das recomendações para alcançar uma renda mais elevada e melhores empregos, bem como Estados que prestam bons serviços.