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O namoro do crédito com a população de baixa renda

Em vez de propor aos sem banco a possibilidade de abrir uma conta corrente, há quem ofereça a essa população algo mais sedutor: crédito. É o caso, do Unibanco e do Lloyds, que nos últimos anos decidiram marcar presença no mercado de financeiras. No final de 2000, o Unibanco adquiriu 100% da Fininvest. No ano […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Em vez de propor aos sem banco a possibilidade de abrir uma conta corrente, há quem ofereça a essa população algo mais sedutor: crédito. É o caso, do Unibanco e do Lloyds, que nos últimos anos decidiram marcar presença no mercado de financeiras. No final de 2000, o Unibanco adquiriu 100% da Fininvest. No ano seguinte, assumiu 50% das financeiras Investcred (Ponto Frio) e Luizacred (Magazine Luiza) para atender ao público que faz compras a prazo nas redes varejistas. A Losango, que há mais de 30 anos atua no Brasil em parceria com o comércio varejista, em 1997 passou para as mãos do Grupo Lloyds TSB. Dessa forma, tanto o Lloyds como o Unibanco fincaram o pé no mercado de baixa renda sem misturar a imagem das duas instituições com esse público.

Nas agências do Unibanco, de modo geral, o foco é na população que ganha pelo menos R$ 500 , diz Rogério Estevão, diretor de produtos do banco.

A melhor estratégia de acesso à população não-bancarizada, diz ele, é oferer o que mais ela precisa: crédito: No futuro, é possível que por meio das próprias financeiras possamos oferecer a esses clientes produtos bancários, como abertura de conta corrente, seguros e títulos de capitalização".

Mas a forma de desenvolver e vender esses produtos para o público das classes mais baixas não é a mesma usada para os clientes das classes A, B e C. "Há um ano e meio o Unibanco está desenvolvendo um estudo para entender as práticas, necessidades e carências da população de baixa renda , diz Carlos Ximenes de Melo, diretor da Fininvest.

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No final de novembro, em parceria com o Banco Mundial, o Unibanco criou a Microinvest, empresa de microcrédito para pequenos empreendedores como costureiras ou cabeleireiras. O prazo dos empréstimos varia de 12 a 18 meses, com taxas de 3,5% a 4% ao mês. Por enquanto, há um projeto piloto no Rio, que deve ser estendido a todo o país. O capital disponível hoje é de R$ 1,25 milhão, mas deve chegar a R$ 20 milhões em três anos, afirma o diretor da Fininvest. Ainda estamos estudando o conceito de risco desse mercado. Estamos aprendendo , diz Melo. Ele ressalta que o projeto não é filantropia, mas visa, sim, a dar lucro: O próprio Banco Mundial deixa claro que negócios que não têm auto-sustentabilidade não têm futuro .

Para isso, vários obstáculos devem ser vencidos. O conceito de que a população pobre é melhor pagadora do que as classes mais abastadas é correto, mas ela não tem fôlego financeiro. Como não possui poupança, qualquer coisa que dê errado, seja a perda do emprego ou um filho que fique doente, compromete a capacidade de honrar os empréstimos. O risco é grande , diz Leandro Vilain, diretor de novos negócios da Losango. Não à toa, a empresa também comercializa um seguro-desemprego por R$ 15. O produto é oferecido ao cliente que faz algum financiamento com a empresa. Se perder o emprego ou ficar hospitalizado, terá as dívidas com a Losango quitadas até o limite de R$ 1.200.

Mais uma vez, a escala é uma questão fundamental para a expansão do crédito à população de baixa renda. No mercado brasileiro de cartões de crédito, por exemplo, a participação da população que ganha mensalmente entre R$ 300 e R$ 500 passou de 9,8% em 1999 para 22,2% este ano, de acordo com a Credicard. O número de transações passou de 2% para 6%. Ainda é pequeno, mas cresceu três vezes em três anos , diz Fernando Chacon, vice-presidente de Marketing da Credicard. Eis como ele resume a situação:

-- Os riscos de inadimplência são maiores, a contribuição da baixa renda no faturamento é menor, e o custo de manutenção de um cartão de crédito é igual para todo cliente. Mesmo assim, se houver escala e análise de concessão de crédito apurada, as possibilidades de crescimento com a população de baixa renda são grandes. A integração desse público no mercado financeiro é algo relativamente novo. As empresas ainda estão aprendendo a lidar com ele. É o começo de um namoro.

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