Economia

O dólar sobe porque as fichas caem

A alta é fruto de pura especulação do mercado financeiro. A diferença, desta vez, é que ela é um pouco mais "explicável"

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h00.

O dólar não perde o fôlego e continua a subir sem parar. A moeda americana subiu e fechou cotada a 3,76 reais, uma alta de 2,56% em relação à véspera. Ele chegou a um máximo de 3,80 reais, e os profissionais do mercado não descartavam a hipótese de que o dólar batesse um novo recorde nesta quinta-feira.

O que, afinal, está puxando as cotações? Olhando friamente os números da economia, não há motivos para uma alta tão expressiva nem para a moeda brasileira voltar a valer menos que o peso argentino (3,71 pesos compram um dólar nesta tarde em Buenos Aires). O Brasil continua exportando e os números da dívida pública vêm permanecendo sob controle. A saída de quase 60 bilhões de reais dos fundos de investimento nos últimos quatro meses não provocou uma fuga de dinheiro do setor bancário, o que até poderia justificar uma "corrida" em direção ao dólar.

Qual a explicação, então? A alta é fruto de pura especulação do mercado financeiro. A diferença, desta vez, é que ela é um pouco mais "explicável". A justificativa é a percepção de que o Banco Central (BC) descobriu que não tem escolha a não ser corrigir o grave erro estratégico que cometeu há um ano e meio, e os profissionais do mercado financeiro estão bem conscientes disso.

Vamos recordar um pouco. Logo após o pico da desvalorização, em março de 1999, o dólar ficou parado por bastante tempo entre 1,80 e 1,95 reais. Essa estabilidade (antes da Argentina, do apagão e do 11 de setembro) levou o governo a aumentar a emissão de dívidas em dólar, que agradaram bastante ao mercado financeiro.

Quando a moeda começou a ser pressionada no início de 2002, o BC tinha duas escolhas. A primeira era deixar o dólar subir e ameaçar o cumprimento das metas de inflação. A segunda era vender títulos cambiais ao mercado financeiro, que serviriam como proteção e não custariam preciosos dólares das reservas do governo. Naquele momento, o mais adequado parecia ser vender dívida em dólar, que foi o que o Banco Central fez com gosto. Como temiam uma alta do dólar e queriam proteger seus ativos, os bancos e as empresas engoliram uma enorme quantidade desses papéis.

A inundação de títulos cambiais sossegou o dólar por algum tempo. Só que deixou o BC na incômoda posição de grande devedor em dólares. Com o risco eleitoral e a alta das cotações, a fatura que o BC teria de pagar superou todas as expectativas. Por isso, o BC tomou a decisão de não mais rolar dívidas em dólar. Quando vencessem, cerca de 1,5 bilhão de reais em títulos em dólar seriam simplesmente pagos.

Isso fez o dólar subir. Há poucos negócios no mercado a vista e é fácil comprar dólares e puxar as cotações para ganhar mais reais na hora de o governo pagar sua fatura. O dólar está tão escasso que o BC terá de injetar 3,6 bilhões de dólares na economia só no último trimestre do ano para atender as necessidades da indústria, disse Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central. Só em setembro, 1,3 bilhão de dólares das reservas brasileiras foram despejadas no sistema financeiro.

Como o Banco Central não tem, agora, nenhuma opção a não ser resgatar sua dívida vinculada ao dólar nem poderá torrar uma quantidade ilimitada de reservas para conter a alta dos preços, espera-se que as cotações continuem subindo (ou não caiam) nas próximas semanas, quando ainda há um expressivo lote de títulos cambiais que vão vencer e serão pagos pelo BC.

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