Na economia criativa, dificuldades brasileiras podem virar oportunidade
"O brasileiro não precisa pensar fora da caixa porque não tem caixa", diz Luis Justo, do Rock in Rio. "Nós somos sobreviventes"
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 10h44.
Última atualização em 14 de dezembro de 2018 às 12h34.
São Paulo - " Economia criativa é para onde está indo a economia mundial. A bola está quicando; será que vamos perder mais essa oportunidade?".
A provocação de André Lahoz Mendonça de Barros, diretor do grupo EXAME, deu o tom do primeiro debate do EXAME Fórum Cultura e Economia Criativa realizado nesta sexta-feira (14) em São Paulo.
Pierre Mantovani, presidente da Omelete Company, resumiu o novo momento dizendo que para as gerações antigas, entretenimento era a sobremesa, e ara as novas gerações, é o arroz com feijão.
“Nós temos um DNA criativo e por muito tempo ninguém parou para olhar isso como um gerador de receita e valor agregado para o nosso pais", aponta Pierre Mantovani, presidente da Omelete Company.
O Omelete tem um case de sucesso: a CCXP, evento de cultura pop que trouxe para São Paulo na última semana celebridades como Sandra Bullock.
Ao contrário do que se imagina, o CCXP não é um licenciamento internacional e mesmo assim se tornou o maior evento do gênero do mundo, algo que Mantovani atribui ao diferencial brasileiro.
"O brasileiro não precisa pensar fora da caixa porque não tem caixa", diz Luis Justo, do Rock in Rio. "Nós somos sobreviventes e nossa capacidade de adaptação é o nosso maior diferencial competitivo".
Fábio Cesnik, da CQS Advogados, disse que ainda há um desafio no Brasil de pensar internacional pois sem escala, algumas indústrias novas não tem como se sustentar, citando o exemplo dos games.
Em outras áreas como música e cinema, por muito tempo o tamanho do mercado interno bastou e foi para ele que os artistas olharam, mas agora a coisa mudou.
Ele citou artistas que já entenderam isso e estão despontando com um olhar internacional, como Anitta e Kondzilla, e também descentralização de recursos trazida por mudanças como o setor de streaming.
Isso permite produtos globais que não são em inglês e trazem elencos e equipes internacionais, citando a série Narcos como um marco. Mas para produzir localmente, ele ainda vê um gargalo na falta de formação técnica.
Sérgio Alexandre, da PwC Brasil, apontou que os exemplos de outros países que despontam na economia criativa mostra outra lacuna brasileira: maior planejamento de longo prazo, tanto no setor público quanto no privado.