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Brasil deve se preocupar menos com China e Índia e ser mais criativo

Para Antoine van Agatmael, que criou o termo "mercados emergentes" na década de 80, a saída é ser proativo e descobrir nichos de mercado. Embraer é um caso exemplar, diz

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h59.

Brigar com outros emergentes pelos investimentos internacionais não é o melhor caminho para o Brasil conquistar um espaço de destaque no mercado mundial. Em vez de disputar a atenção dos investidores com a China e a Índia, por exemplo, o país deveria se preocupar em encontrar seu próprio caminho, o que significa buscar soluções criativas para desenvolver sua economia e projetar suas empresas no cenário internacional. A avaliação é do economista Antoine van Agatmael, um especialista no assunto. Foi Agatmael quem criou, em 1981, o termo "mercados emergentes" para designar as nações que começavam a despontar, quando atuava na International Finance Corporation, o braço do Banco Mundial para projetos privados. Atualmente, ele preside a Emerging Markets Management, consultoria de investimentos que fundou nos Estados Unidos.

"Ao contrário do que se pensa, o Brasil não está no mesmo grupo que a Índia, apesar de ambos fazerem parte dos chamados países em desenvolvimento. A Índia tem uma série de vantagens competitivas que o Brasil não tem", diz Agatmael. Para o Brasil, não há outra saída senão encontrar nichos de mercado, investir e, sobretudo, ser criativo. Agatmael cita a Embraer como o caso exemplar: uma empresa que soube explorar um segmento dominado por duas gigantes internacionais, a americana Boeing e a européia Airbus, e que hoje é referência mundial no segmento de jatos médios. A Petrobras e o setor bancário também se enquadram nesse perfil, segundo o economista.

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"É interessante observar que no setor onde o país conseguiu formar profissionais altamente qualificados, o resultado foi uma empresa que é uma obra-prima: a Embraer. Isso é uma solução criativa", diz Agatmael. "E é isso que a Índia tem de sobra gente qualificada , não apenas em uma indústria, mas em várias", completa.

Seus conselhos são duros, sobretudo para o empresariado brasileiro, que "deveria reclamar menos e ser mais proativo". "O perigo é o país, o governo, acomodar-se em ser o melhor no mercado de commodities e deixar de lado os investimentos em educação, pois é isso que gera tecnologia", diz.

De volta aos holofotes

Apesar de cada país em desenvolvimento ter suas peculiaridades, visto como um todo esse grupo de países nunca esteve tão bem. A boa fase é refletida, principalmente, no rendimento das empresas. Em 2005, o valor de mercado das empresas listadas em bolsas de países emergentes atingiu 5 trilhões de dólares. Há 25 anos, esse valor era de 80 bilhões.

"De 1980 para cá, muita coisa mudou e continua mudando. Os chamados países industrializados não são mais os ricos, e sim os emergentes. A China é hoje o centro manufatureiro do mundo", diz Agatmael, que está escrevendo um livro que reúne a análise de 50 empresas de países em desenvolvimento que fizeram sucesso. Ele adianta que quatro delas são brasileiras. A obra deve ser publicada no final deste ano.

Os países emergentes, que antes eram uma ameaça ao equilíbrio econômico do planeta com seus altos déficits em conta-corrente e reservas minguadas agora puxam o crescimento. O economista lembra que, atualmente, os mercados emergentes representam 20% do PIB mundial, mas que até meados do século esse número chegará a 50%. "Sem dúvida, este será o século dos países emergentes", diz.

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