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Fracasso da Cúpula das Américas evidencia aposta na Rodada de Doha

Tanto os EUA, quanto os principais países da América do Sul, adotaram a estratégia de priorizar a liberalização comercial no âmbito da OMC

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h06.

A um mês do próximo encontro interministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC), em Hong Kong, a falta de resultados práticos da 4ª Cúpula das Américas deve ser vista mais como uma mudança estratégica dos principais participantes, do que propriamente como um fracasso. Tanto os Estados Unidos, como os principais países sul-americanos liderados pelo Brasil e pela Argentina enxergam a OMC como o ambiente mais adequado para negociar a liberalização do comércio, dividindo com todos os países eventuais ônus políticos por quedas de barreiras alfandegárias e o fim de subsídios (se você é assinante, leia ainda reportagem de EXAME sobre o apoio dos EUA ao Brasil).

O próprio presidente George W. Bush, em sua visita ao Brasil, no sábado, afirmou que não é apenas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem precisa ser "convencido" das vantagens da criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O próprio "povo americano" também deveria ser persuadido. "Nos EUA, também há uma grande rejeição à Alca", diz o professor Gunter Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).

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Segundo Rudzit, enquanto a maioria dos países emergentes encara a Alca como um ardil americano para conquistar seus mercados, os próprios trabalhadores dos Estados Unidos temem que a área de livre comércio leve para outros lugares seus empregos o chamado outsourcing. Assim, negociar concessões no âmbito da OMC seria um modo do governo americano minimizar sua responsabilidade perante seus próprios eleitores, em relação a eventuais concessões que prejudiquem a geração de empregos.

"Na OMC, o ônus político será diluído entre todos os participantes. Na Alca, seria praticamente uma negociação bilateral entre os americanos e os outros países", diz Rudzit. Isso também é verdade para o Brasil, que prefere negociar em bloco, sobretudo na questão do fim dos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos. O país foi um dos articuladores, por exemplo, do G-20, grupo de 20 países emergentes que pleiteiam mais acesso aos mercados de nações mais ricas.

Em bloco

Isto não significa que Bush voltou sem nada para Washington. O presidente americano fracassou ao tentar incluir, na declaração final da Cúpula das Américas, uma data para a retomada das conversas sobre o bloco econômico ocidental. Mas conseguiu dividir fortemente os demais países, ao ponto de circunscrever o foco de resistência praticamente ao Mercosul leia-se, Brasil e Argentina e à Venezuela.

Os países da América Central já aceitaram a idéia de uma área de livre comércio. Já os presidentes de Peru, Colômbia e Equador aproveitaram sua passagem pela Argentina para adiantar conversações sobre a liberalização do comércio com os americanos. E, por fim, o presidente do México, Vicent Fox, chegou a declarar que, se o Mercosul não quer a Alca, que se crie o bloco sem esses países. "A capacidade de articulação dos Estados Unidos mostrou-se grande", diz Rudzit.

Para o professor da Faap, o Brasil também marcou alguns pontos no encontro de 34 nações Cuba foi o único país latino-americano que não foi convidado a participar. A importância do Brasil para a região foi atestada, segundo Rudzit, pela visita de Bush ao país, no sábado. Diferentemente de sua ida à Argentina, que ocorreu no âmbito de um encontro multilateral, a viagem do presidente americano a Brasília teve status de visita oficial. "Somos vistos como mediadores das questões locais", diz.

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