Economia

Modelo de inflação do BC está desatualizado, diz Mendonça de Barros

Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, a expansão dos prazos do crediário e os contratos vinculados à inflação passada não são captados pelo modelo analítico do Banco Central

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h24.

O Banco Central (BC) está correto em usar os juros como principal instrumento de sua política monetária, mas erra ao usar um modelo desatualizado de projeção de inflação que não incorpora importantes mudanças da economia brasileira. A avaliação é do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso e atual sócio da Quest Investimentos. "A equação econométrica do Banco Central está ultrapassada", diz.

De acordo com Mendonça de Barros, esse descolamento entre o modelo e a realidade coloca o governo numa situação desconfortável. Quando iniciou o ajuste da taxa básica de juros (Selic) em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) havia afirmado que os aumentos seriam graduais. O mercado, então, passou a trabalhar com a hipótese de que o ciclo de altas se encerraria em dezembro passado e a Selic voltaria a cair no final do primeiro semestre deste ano. Mas a persistência da inflação já levou o Copom a cogitar elevações mais acentuadas dos juros, bem como a manutenção da Selic em um patamar elevado por mais tempo que o previsto inicialmente.

Para o economista, essas falhas de projeção poderiam ser corrigidas se o modelo de simulação da inflação, usado pelo BC, considerasse importantes mudanças ocorridas no Brasil nos últimos anos. A principal delas é o alongamento dos prazos de crediário ao consumidor e às empresas. Os prazos para o consumidor, que há cinco anos eram de, no máximo 12 meses, hoje podem atingir até 36 meses. Assim, a extensão dos prazos tende a diluir os juros mais altos, estabelecidos para inibir o consumo e frear a inflação. "Se as parcelas cabem no orçamento do consumidor, ele não vai parar de comprar", diz Mendonça de Barros.

Com a estabilidade econômica, os fundos de investimento também são mais encorajados a aplicar recursos em carteiras de recebíveis vendidas pelos bancos. A principal vantagem para os bancos é que, ao repassar seus recebíveis para os fundos, [ é que ] podem continuar enquadrados nos índices do Acordo de Basiléia e seguir emprestando dinheiro para empresas e consumidores finais.

Inflação contratada

A correção dos contratos pela inflação passada também gera uma inércia de preços não captada pelo modelo do BC, segundo Mendonça de Barros. "O Banco Central não percebeu que o universo de preços livres sobre o qual pode atuar com o aumento dos juros é muito pequeno", afirma.

O economista afirma que as imprecisões nas análises do BC acabam se refletindo numa apreensão do mercado. "A elevação dos juros não é ineficaz no combate à inflação, mas ninguém hoje sabe qual é a taxa Selic capaz de segurar o consumo", afirma. Segundo Mendonça de Barros, o cenário mais provável incorpora ainda mais três aumentos de 0,5 ponto percentual da Selic. A partir daí, a taxa permaneceria inalterada até o último trimestre, quando recuaria para os níveis de janeiro (18,25% ao ano).

Segundo Mendonça de Barros, não se pode contar apenas com o aumento de juros para conter a inflação. O governo precisa, também, adotar uma "política fiscal contracionista", ou seja, reduzir as despesas e, por tabela, a carga tributária que as financia, sem abrir mão do superávit primário de 4,5%, acertado com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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