Economia

Mistério da inflação nos EUA pegou mal para economistas em 2017

Foi o ano da ruptura na conexão entre inflação e desemprego. Os profissionais ficaram tão desnorteados que erraram as projeções para as duas variáveis

Compras em Nova York: trajetória de preços no país surpreende (Eduardo Munoz Alvarez/Getty Images)

Compras em Nova York: trajetória de preços no país surpreende (Eduardo Munoz Alvarez/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de dezembro de 2017 às 07h00.

Última atualização em 30 de dezembro de 2017 às 07h00.

Há um ano, a Bloomberg solicitou previsões dos economistas para os EUA em 2017. Comparando essas projeções com o que aconteceu de fato, os resultados não são nada bons.

Este foi o ano da ruptura na consagrada conexão entre inflação e desemprego. Os profissionais ficaram tão desnorteados pela realidade que erraram para cima as projeções para as duas variáveis. Geralmente, o erro de uma variável para um lado corresponde a erro na outra para o lado oposto. Não foi o que ocorreu em 2017.

“Definitivamente podemos aprender com isso”, disse Christopher Low, economista-chefe da FTN Financial, em Nova York, um dos que mais acertou a inflação (e um dos que mais errou a taxa de desemprego). “Agora é tentar compreender onde a relação entre inflação e desemprego se rompeu.”

Apenas uma instituição, a Desjardins Group, fez estimativas para desemprego e inflação com distância de apenas 0,3 ponto percentual dos números de fato.

Mistério da inflação

A influência dos resultados de 2017 sobre as projeções de 2018 depende basicamente da continuidade ou não do mistério da inflação baixa. Um número maior de profissionais passou a acreditar que a inflação baixa não é totalmente explicada por fatores transitórios.

“Não acho que seja um fenômeno de um ano”, disse Stephen Gallagher, economista-chefe para os EUA do Société Générale, em Nova York. “É como um novo paradigma.”

Quem tem Ph.D. em Economia que se prepare para uma lição de humildade.

Em novembro de 2016, a taxa de desemprego já estava em 4,6 por cento, considerada por muitos economistas o menor nível sustentável. Poucos apostavam que 2 milhões de vagas abririam nos EUA neste ano, derrubando o desemprego para 4,1 por cento.

Se os economistas previram que o desemprego seria maior do que de fato ocorreu, o lógico seria que tivessem estimado inflação baixa demais, certo? Errado.

É este o “mistério” de 2017, conforme colocou Janet Yellen, a presidente do Federal Reserve (o banco central dos EUA). A surpresa foi generalizada. A inflação nos 12 meses até novembro permaneceu preocupantemente baixa, em 1,5 por cento, apesar da forte criação de empregos.

O que dizem nossos economistas

“Uma das maiores barreiras às projeções para 2017 foi compreender a natureza do período de inflação baixa. Muitos economistas interpretaram mal os sinais e esperavam recuo rápido, quando, na verdade, era uma reflexão do fraco desempenho econômico ocorrido quatro a seis trimestres antes. Quem atribuiu a esse último fator não se surpreendeu com a duração por vários meses. É por este exato motivo que a Bloomberg Economics espera que o quadro se mantenha no primeiro semestre de 2018.”-- Carl Riccadonna, Bloomberg Economics.

Os últimos dados de PIB se referem ao terceiro trimestre. As previsões foram bastante sólidas e a mediana ficou muito próxima do resultado. No entanto, ninguém previa tantos furacões devastadores. Os dados do terceiro trimestre sofreram pequeno impacto negativo das tempestades, mas não contemplam o subsequente aumento da atividade por causa das obras de reconstrução no quarto trimestre. Isso sugere que a estimativa mediana errou mais do que aparenta.

Acompanhe tudo sobre:DesempregoEstados Unidos (EUA)Inflação

Mais de Economia

Contas externas têm saldo negativo de US$ 5,88 bilhões em outubro

Mais energia nuclear para garantir a transição energética

Boletim Focus: mercado reduz para 4,63% expectativa de inflação para 2024

Lula se reúne hoje com Haddad para receber redação final do pacote de corte de gastos