Milhares de mexicanos protestam contra Donald Trump na capital do país em 12/02/2017 (Jose Luis Gonzalez/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 13h21.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2017 às 12h58.
São Paulo - O México já está planejando seu contra-ataque a Donald Trump.
Uma pista foi dada pelo senador Armando Rios Piter, líder do comitê de relações internacionais no Congresso mexicano, durante um protesto anti-Trump na Cidade do México no domingo.
"Vou mandar um projeto sobre o milho que compramos do Meio-Oeste [americano] mudando para Brasil ou Argentina", disse ele para a CNN.
Os Estados Unidos são o maior produtor e exportador de milho do mundo, seguido por China e Brasil, e o cereal é parte importante da culinária mexicana.
As exportações de milho dos americanos para os mexicanos explodiram desde que foi celebrado o NAFTA, acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México - que agora está sendo renegociado.
Outro alvo do presidente americano é a imigração ilegal de mexicanos, e ele promete construir um muro físico na fronteira. A conta seria enviada para o México, que já avisou que não vai pagar.
Trump passou então a afirmar que o dinheiro seria alocado agora e compensado depois, talvez por meio de tarifas comerciais de até 20% sobre produtos mexicanos.
De acordo com especialistas, esses tipos de restrições elevariam os custos para os consumidores americanos e tornariam a indústria americana menos competitiva, além de fortalecer o dólar, pressionando novamente para cima os déficits comerciais.
Política no México e oportunidades no Brasil
A tensão entre México e EUA está fortalecendo Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, um populista de esquerda que perdeu por pouco nas últimas duas eleições presidenciais.
Ele deve ser candidato novamente em 2018 e está em primeiro nas pesquisas. Obrador começou no domingo, em Los Angeles, uma pequena turnê por cidades americanas com grandes comunidades mexicanas.
Após uma reunião com o embaixador dos EUA no Brasil, Michael Mckinley, o diretor do departamento de Relações Institucionais e Comércio Exterior (Derex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, afirmou ao Estadão Conteúdo que Trump não preocupa o Brasil.
Entre as questões discutidas, ele citou a sinergia dos setores do agronegócio, “que não tem sido devidamente explorada”.
“Se você pegar os países do Mercosul e os EUA, nós somos a resposta à segurança alimentar no mundo. Então podemos trabalhar nisso", disse ele.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou recentemente que as políticas de Trump estão abrindo oportunidades para o Brasil e que uma rodada de negócios com empresários mexicanos está agendada para o dia 20 de fevereiro.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima safras recordes de soja e milho no Brasil na atual temporada graças ao clima favorável na maior parte do país e a um aumento no cálculo da área semeada do cereal.
O Brasil é uma das grandes economias mais fechadas do planeta e tem déficit comercial com os americanos. Isso faz com que o país não seja alvo privilegiado de Trump ao mesmo tempo em que tem espaço para ampliar suas relações com parceiros deixados de escanteio.
Mas uma guerra comercial de proporções globais teria consequências inesperadas, e a agência de classificação de riscos Fitch apontou em relatório recente que o Brasil é vulnerável pelo alto estoque de investimento americano na sua manufatura.