Mesmo com acordos, Pequim diz que diferenças com os EUA são grandes
Os EUA propuseram impor tarifas sobre cerca de 50 bilhões de dólares de bens chineses, e estas podem entrar em vigor em junho
Reuters
Publicado em 4 de maio de 2018 às 09h40.
Pequim - Autoridades de primeiro escalão da China e dos Estados Unidos chegaram a um consenso a respeito de alguns aspectos de sua disputa comercial, mas os desentendimentos sobre outras questões continuam "relativamente grandes", disse o governo chinês nesta sexta-feira.
Uma reportagem da agência oficial de notícias Xinhua ao final do encontro deu poucas indicações de que houve acordo sobre os temas principais, destacando, em vez disso, que houve troca de opiniões. Os dois lados, porém, se comprometeram a resolver suas desavenças comerciais através do diálogo, segundo a Xinhua.
Os norte-americanos ainda não se manifestaram a respeito dos resultados da reunião.
Em relação às queixas do lado chinês, os negociadores dos EUA concordaram em abordar com o presidente norte-americano, Donald Trump, a questão da proibição a que empresas dos EUA vendam bens e softwares à fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicação ZTE, segundo a agência. A ZTE foi submetida a uma proibição de sete anos, segundo Washington, por não manter um acordo que fez depois de violar sanções norte-americanas.
As conversas dos últimos dois dias envolveram uma delegação comercial de alto nível comandada pelo secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e autoridades chinesas graduadas, incluindo o vice-primeiro-ministro chinês Liu He, depois de meses de ameaças e contra-ameaças dos dois lados em uma série de disputas a respeito das práticas comerciais.
A equipe dos EUA já deixou Pequim e está voltando para casa, disse um funcionário dos EUA à Reuters na manhã desta sexta-feira.
As negociações comerciais foram "francas, eficientes e construtivas", segundo a Xinhua, que quase não deu detalhes sobre o que as autoridades acertaram.
As autoridades trocaram opiniões para resolver medidas relacionadas e não relacionadas a tarifas, sobre a ampliação do investimento bilateral e da proteção da propriedade intelectual e sobre a expansão das exportações dos EUA à China e o comércio de serviços bilateral, noticiou a Xinhua, sem dar indícios sobre quais ações podem ser adotadas com base nestas conversas.
"Minha impressão é que as conversas não foram boas, dada a retórica", disse Kevin Lai, economista sênior da Daiwa Capital Markets de Hong Kong. "Acho que a divisão ainda é muito grande".
Em um editorial publicado em sue site, o tablóide estatal chinês Global Times citou pessoas próximas às conversas dizendo que a China "rebateu com firmeza" as críticas dos EUA, deixando-os saber que a China não irá ceder.
Os EUA propuseram impor tarifas sobre cerca de 50 bilhões de dólares de bens chineses em cumprimento da chamada "Seção 301" de seu inquérito sobre propriedade intelectual, e estas podem entrar em vigor em junho, após a conclusão de um período de consultas de 60 dias, mas os planos de ativação ainda permanecem vagos.
De acordo com duas fontes com conhecimento das negociações, a delegação dos EUA enviou um documento aos chineses antes do encontro pedindo que Pequim reduza seu superávit comercial com os EUA em 200 bilhões de dólares até 2020 e reduza tarifas sobre todos os produtos a níveis não maiores que os impostos pelos EUA.
Autoridades chinesas consideraram a proposta injusta, de acordo com o Wall Street Journal.
Em uma proposta apresentada pelo lado chinês, Pequim ofereceu aumentar as importações de produtos norte-americanos e reduzir as tarifas sobre alguns produtos, incluindo carros, de acordo com as fontes.
Mas a China também pediu que Washington trate os investimentos chineses de forma igualitária em suas revisões de segurança nacional e pare de impor novas restrições aos investimentos chineses, e também exigiu que os EUA encerrem sua investigação sobre propriedade intelectual e não implementem as tarifas de 25 por cento sobre o aço propostas como parte dessa investigação, acrescentaram.