Economia

Para Merrill Lynch, não há alternativa populista na eleição de 2010

Banco acredita que eleição será vencida por Dilma ou Serra. A petista representaria a continuidade e o tucano controlaria mais os gastos públicos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2009 às 08h59.

O próximo presidente brasileiro, que será eleito em outubro de 2010, terá poucas razões para não adotar uma política econômica considerada amigável no mercado financeiro, segundo os analistas do Banc of America/Merrill Lynch Research. Em relatório, o banco avalia como bastante provável uma vitória da petista Dilma Rousseff ou do tucano José Serra no pleito.

Se Dilma for a vencedora, deve haver a continuidade das políticas vigente no governo Lula, como a austeridade fiscal, as metas de inflação e o câmbio flutuante. Além disso, o Estado deverá aumentar a presença na economia com gastos sociais (como o Bolsa Família e o programa Minha Casa, Minha Vida) e em infraestrutura (por meio do Programa de Aceleração do Crescimento).

No caso de vitória de José Serra, os investidores poderiam ficar otimistas por dois motivos: 1) maior empenho do governo com reformas que visem reduzir os gastos públicos; e 2) reorientação das agências reguladores no sentido de reduzir a intervenção do estado na economia.

A conclusão do banco é que hoje não existe uma "alternativa populista" viável para chegar ao Planalto em 2010. Ao contrário, o próximo governo não terá motivos para deixar de conciliar as políticas industriais com iniciativas de cunho social, como programas de distribuição de renda.

Apesar de ver uma probabilidade pequena de erro, a Merrill Lynch também avaliou como seria o próximo governo em caso de vitória de um candidato populista. Isso seria altamente prejudicial para a economia brasileira pois provocaria, dentre outros efeitos, o enfraquecimento da moeda, levando a aversão ao risco e ao possível rebaixamento do Brasil da categoria de grau de investimento, com impacto no crescimento no longo prazo.

Caso esse cenário se concretize, o banco recomenda aos investidores que comprem ações de empresas que pagam altos dividendos (como AES Tietê, Telesp e Souza Cruz), companhias que se beneficiariam com a alta do dólar (como Suzano e Vale) ou então aquelas pouco endividadas e que não dependem muito do crédito em suas vendas (como AmBev e Pão de Açúcar).

Reformas
A principal aposta do banco, entretanto, é que as eleições confirmem a expectativa de que o Brasil alcançará patamares de referência global no que diz respeito a seu mercado de ações, taxas de juros e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Para o Merrill Lynch, há uma lacuna no crescimento do PIB brasileiro que pode ser preenchida se algumas reformas forem feitas no próximo mandato. (Continua)


À medida que o debate presidencial ganhe força, será necessário que a discussão de alguns temas ocupe o foco dos candidatos. Medidas para promover ascensão social e aumento da renda, com maior penetração do crédito, e investimentos para aumentar a produtividade no país serão os catalisadores do crescimento sustentável do país e deverão estar no centro desse debate. 

Na visão da Merrill Lynch, o aumento do consumo privado, com incremento das vendas no varejo, é um dos potenciais propulsores do desenvolvimento da economia. Sob essa perspectiva, segundo os analistas, as medidas do próximo governo deveriam apontar para a redução do emprego informal e o crescimento do crédito - cenário favorável ao aumento da renda.

A questão de diminuir a informalidade é relevante porque, em condições de trabalho regulares, a população é beneficiada pelo aumento da renda e pelo maior acesso ao crédito, dado que os riscos de inadimplência diminuem, favorecendo o consumo. O banco ressalta que essa situação deve ser aliada aos esforços para manter as taxas de juros em níveis aceitáveis.

Outra preocupação do próximo governo, ainda visando o crescimento do consumo, deve ser a contenção da inflação, sobretudo para preservar a população de baixa renda, mais afetada pelo aumento dos preços. Nessa linha, políticas sociais para promover ganhos reais ao salário mínimo e programas para aumento da renda, como o Bolsa Família, são consideradas importantes pelos analistas para dar maior poder aquisitivo às camadas inferiores.

Produtividade
"O próximo presidente deveria ter foco na qualidade dos gastos do governo, para assegurar ao país futuros aumentos nos ganhos de produtividade", diz o relatório do Merrill Lynch. Na visão do banco, investimentos em educação e infraestrutura são áreas essenciais para garantir um crescimento rápido e sobre bases sustentáveis.

Um elevado nível de educação da força de trabalho está diretamente relacionado a ganhos de produtividade no longo prazo. O Brasil, segundo o Fórum Econômico Mundial, tem uma brecha significativa na qualidade da educação primária que precisa ser preenchida.

Um índice elaborado pelo Fórum mostra que o país também tem problemas relacionados à infraestrutura. O Brasil ocupa o 98º lugar em uma lista de 134 países avaliados com base neste critério. Para o Merrill Lynch, os governantes em toda a América Latina deveriam se apoiar em investimentos privados, como concessões e parcerias público-privadas, para promover melhoras na infraestrutura da região e elevar o crescimento sustentável do PIB.

O banco observa que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo Lula, deve direcionar investimentos da ordem de 646 bilhões de reais para desenvolver os setores energético, de transportes e logística e de infraestrutura urbana e social. "O governo atual poderá apontar a necessidade de investimentos de mesma magnitude no próximo mandato presidencial", diz o relatório.


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