Mercado eleva projeções de inflação e reduz as de exportações

O relatório de mercado do Banco Central (BC) divulgado hoje indica um maior conservadorismo nas projeções para o ano. Economistas e analistas de quase 100 instituições ouvidos pelo BC revisaram as perspectivas em relação ao levantamento anterior, divulgado há uma semana: aumentaram a perspectiva de inflação e reduziram o saldo da balança comercial. Dentro da perspectiva de que a inflação pode demorar a ceder e comprometer o crescimento da economia, o mercado passou a projetar uma Selic (taxa básica de juros) de 22,20% para este ano, contra os 22% sinalizados nos últimos 30 dias. A previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) manteve a curva de queda e ficou em 1,95%. Há uma semana, o mercado sinalizava crescimento de 1,97% para o PIB de 2003. Há um mês, de 2%.

No relatório divulgado hoje pelo BC, as Top 5, grupo que reúne as instituições com maior número de acertos em previsões para a economia, elevaram a perspectiva de inflação medida pelo Índice Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 11,83% para 12,63% neste ano. O IPCA, calculado pelo IBGE, é o índice utilizado pelo governo para baliza as metas de inflação acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). As Top 5 seguiram uma tendência. A maioria das outras instituições financeiras também adotou uma postura menos otimista em relação ao desempenho da economia brasileira neste ano. Na pesquisa para o relatório, encerrada na sexta-feira passada (11/04), o mercado sinalizou um IPCA de 12,30% para este ano. Na semana anterior, havia acreditado na queda do indicador e projetado um IPCA de 12,22% para este ano.

Apesar de ainda estimar um dólar cotado a 3,50 reais para este ano, o mercado também revisou as projeções para a balança comercial. Relatório da consultoria Global Invest chama atenção para o fato de, pela primeira vez desde dezembro, o mercado projetar queda nas exportações. O saldo de 16,40 bilhões de dólares, estimado na semana passada foi reduzido para 16,25 bilhões de dólares. O mercado também passou a esperar uma queda dos investimentos diretos estrangeiros (IDEs): contabiliza o ingresso de 12,6 bilhões de dólares para 2003, depois de projetar que os IDEs poderiam fechar o ano em 13 bilhões de dólares. Seguindo a idéia de que menos dólares podem entrar no país, os analistas elevaram as projeções para o déficit em conta corrente de 3,95 bilhões de dólares para 4 bilhões de dólares.

A postura do mercado em parte pode ser atribuída ao comportamento da inflação e do câmbio nas últimas semanas. O IPCA fechou o mês de março cotado a 1,23%, cerca de 0,4 ponto percentual acima do que o mercado esperava. O IPCA acumula alta de 5,13% no primeiro trimestre, contra 1,49% registrado em igual período de 2002. O dólar, por sua vez, registrou queda média de 8% nos últimos 30 dias. Chegou a fechar vendido a 3,16 reais na terça-feira da semana passada (8/04). Em janeiro havia atingido a cotação máxima no ano: 3,66 reais.