Bolsas: o maior enigma é a magnitude e a velocidade da desaceleração do crescimento chinês, motor da atividade mundial na última década (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2015 às 17h39.
As preocupações sobre o crescimento mundial afundam os mercados financeiros, com a desaceleração do motor chinês, a economia europeia hesitante e perspectivas imprecisas sobre uma elevação das taxas de juros nos Estados Unidos.
Depois da agitação no mercado de divisas, a queda contínua dos preços do petróleo e o colapso de Wall Street na quinta-feira, todas as bolsas asiáticas fecharam fortemente em baixa nesta sexta-feira, levando em sua queda as bolsas europeias.
"Mais que uma degradação da economia mundial, é o contexto internacional que não melhora como o esperado", explicou à AFP Jean-Louis Mourier, economista da corretora Aurel BGC.
"A recuperação nos EUA e, em menor medida, na zona do euro e no Japão, será compensada pela atual desaceleração na China, o crescimento frágil e negativo na América Latina, e a Rússia que se recupera muito lentamente da recessão do ano passado", afirmou em nota Marie Diron, funcionária da política de crédito da agência classificadora Moody's.
Mas o maior enigma é a magnitude e a velocidade da desaceleração do crescimento chinês, motor da atividade mundial na última década.
"Aumenta a incerteza sobre a desaceleração da China", confirmou o banco americano Citi em nota, na qual prevê também que o crescimento da segunda economia mundial "seguirá sem dúvidas frágil".
Um temor levantado nesta sexta-feira pelo anúncio de um novo retrocesso da atividade industrial da china em agosto, a seu nível mais baixo em seis anos, segundo o Índice de Gerente de Compra (IGC) de referência, calculado pela empresa Markit.
Ainda assim, o FMI prevê um crescimento de 6,8% neste ano (frente aos 7,4% em 2014), mas vários analistas colocam em dúvida os dados oficiais chineses.
Queda de matérias-primas
A incerteza vai durar "ao menos até o final do ano", afirma Nigel Green, diretor da consultora deVere. No final do ano, teremos "uma visão melhor dos riscos de uma 'aterrissagem violenta' chinesa".
"A desvalorização foi vista como a última opção do governo chinês que não conseguia reativar o crescimento", completa Jean-Louis Mourier.
A desaceleração chinesa pesa também sobre os mercados de matérias primas, cujos preços tem caído drasticamente, o que penaliza sobretudo os países emergentes, principalmente os da América Latina".
"Muitos país se viram afetados, já que dependem da exportação de matérias-primas, especialmente de minerais", detalhou Mourier.
O Brasil, sétima economia mundial, se funde na recessão com inflação, desemprego em alta e uma moeda em declive, o que se soma a uma grave crise política.
Por outro lado, o crescimento na zona do euro se desacelerou ligeiramente no segundo trimestre a 0,3% (contra o 0,4% no primeiro trimestre), principalmente por causa da França, enquanto a Alemanha teve melhores resultados do que no primeiro trimestre, mas piores que o esperado, segundo as primeiras estimativas publicadas em 14 de agosto pela organização europeia de estatísticas, Eurostat.
Contudo, enquanto a recuperação não é suficientemente rápida para os analistas, no longo prazo as perspectivas na zona do euro são animadoras.
O crescimento da atividade privada se acelerou em agosto na zona do euro, graças à Alemanha e apesar de uma desaceleração na França, informou nesta sexta-feira o gabinete privado Markit ao publicar uma primeira estimativa do índice PMI.
"O euro está desvalorizado, e isto ajudará a fortalecer a recuperação da economia europeia", afirma Nigel Green, que também prevê que o preço baixo do petróleo será um fator positivo para as economias europeias.
Os preços do ouro negro seguiam caindo nesta sexta-feira, aproximando-se dos 40 dólares na Ásia.
Além disso, a política monetária americana parece desorientar os analistas, outro fator que pressiona a baixa dos mercados financeiros.
Na ata de sua última reunião, os funcionários do Federal Reserve (Banco Central americano) mostraram que a entidade não tem pressa para aumentar as taxas de interesse dos Estados Unidos.