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Lula e Serra trocam provocações e não mudam estratégias no último debate

Uma arena, dois oponentes, 50 indecisos, milhões de telespectadores atentos a cada movimento do duelo. O último debate da campanha presidencial 2002 na TV inovou, um formato que fez lembrar as disputas pelos cinturões de boxe em Las Vegas nos Estados Unidos. Dois pesos pesados da política brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h24.

Uma arena, dois oponentes, 50 indecisos, milhões de telespectadores atentos a cada movimento do duelo. O último debate da campanha presidencial 2002 na TV inovou, um formato que fez lembrar as disputas pelos cinturões de boxe em Las Vegas nos Estados Unidos. Dois pesos pesados da política brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra, do PSDB, responderam a mais de 10 perguntas de eleitores indecisos escolhidos pela Rede Globo. Petista e tucano ficaram em um círculo cercado por arquibancadas cheias de indecisos, e diante do mediador, o apresentador William Bonner.

Lula e Serra não mudaram o discurso nem a estratégia usada durante toda a campanha: Serra apresentou números sociais alcançados pelo governo FHC, voltou a dizer que suas propostas são concretas e que ele é mais preparado para viabilizá-las; Lula atacou o governo, explorou as mazelas da desigualdade social no país e se intitulou o melhor nome para negociar a recuperação econômica do país e criar o pacto social.

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Igualmente alinhados em ternos pretos e gravatas vermelhas, caminharam o tempo todo, chamaram cada eleitor pelo nome e imprimiram ao debate um tom coloquial. As perguntas lidas pelos eleitores presentes e também pelo apresentador global foram fáceis e abrangentes. Em nenhum momento deixaram os candidatos sem reação ou resposta.

Embora a plástica tenha sido bonita, com cenário bem acabado e muitas câmeras procurando ângulos novos para mostrar Lula e Serra no tablado, o tão esperado e "debatido debate" muito se aproximou de um palanque eletrônico para que cada candidato voltasse a repetir as mesmas promessas de crescimento econômico, combate ao desemprego e à criminalidade e controle da inflação. Sem ataques, sem revelações explosivas, mas com constantes provocações e, algumas vezes, diálogos com direito a "olho no olho".

Ninguém venceu a luta, nenhum dos candidatos saiu da arena nocauteado pelo adversário. Mesmo sem as tradicionais perguntas entre os candidatos, Lula e Serra trocaram acusações, provocaram-se e tentaram, durante quase duas horas, dizer porque se consideram os melhores para o país.

"Eu sou a única possibilidade que o Brasil tem para realizar um pacto social", disse Lula quando perguntado sobre o combate a inflação. Serra rebateu: "Eu não me apresento como a única possibilidade. Numa eleição eu me apresento como a melhor possibilidade. Não tenho essa arrogância." Na sua vez de falar, Lula voltou ao tema: "Eu disse que sou a única possibilidade não porque sou arrogante. Disse porque meu adversário está há oito anos no governo e só se reuniu duas vezes com os governadores".

Em outro momento, nova provocação petista: "Eu estranho a facilidade que o meu adversário tem em vender facilidade", disse Lula sobre a proposta de transporte público de Serra. Na resposta, o tucano afirmou que não vende facilidades, mas propostas e soluções para os problemas brasileiros.

Frases que comovem

Sem perguntas que os acuassem, os dois candidatos desfilaram dezenas de frases impactantes, as melhores para conquistar o voto que falta a dois dias da eleição e diante de milhões de telespectadores.

Um eleitor gaúcho perguntou sobre aplicações financeiras e o risco de um novo confisco. "Já teve um irresponsável que já seqüestrou o que o povo poupou. Eu não vou fazer isso", disse Lula. "O importante é ter nesse país capitalista mais dinheiro circulando". José Serra também afirmou que confisco é coisa do passado. "Eu tenho o meu dinheiro em caderneta de poupança", disse o tucano. "Não tem seqüestro. O Lula tem razão. O Collor acusou o Lula, em 89, mas foi ele quem fez. Estou aqui concorrendo com o Lula, mas preciso reconhecer que quem fez isso foi o Collor".

O tema favela, sorteado por Bonner, foi outro que veio a calhar para os dois candidatos, que subiram novamente no palanque. "O governo federal tem ajudado o favelado", disse Serra. "A grande solução não é tirar a favela do lugar, mas transformá-la num bairro". Lula citou o programa de reurbanização de favelas do município de Santo André, em São Paulo, administrado pelo PT, que ganhou prêmio da ONU. "Nós chegamos num ponto em que morar em favela virou até luxo", disse o petista. "Eu morei, aos 12 anos de idade, em Santos, em favela, e foi uma experiência muito dura".

Sobre custo de vida, uma pergunta curta feita por um eleitor do Rio Grande do Sul: por que a inflação está aumentando de novo? Serra afirmou que a alta dos preços é o problema econômico que mais o preocupa hoje e explicou que a pressão inflacionária é provocada pela alta expressiva do dólar. "Para que a inflação permaneça baixa é preciso ter responsabilidade na administração do dinheiro público", disse o tucano. "Não podemos permitir que aconteça de novo". Lula também prometeu briga séria contra a alta dos preços. "Comecei minha vida política brigando contra a inflação. Tirando meia dúzia de especuladores que ganham com ela, 100% dos brasileiros não querem a volta da inflação", disse o petista.

A geração de empregos também foi defendida como prioridade dos dois candidatos. "Gerar emprego é meu objetivo. Quem perde o emprego, perde a dignidade", afirmou Lula. Serra também ressaltou a importância do emprego como garantia de cidadania. "O emprego é fundamental. Já fui desempregado no exílio e senti isso na carne", afirmou. Os dois candidatos disseram apoiar a flexibilização da CLT como saída para geração de novos postos de trabalho.

Outro eleitor de São Paulo perguntou sobre os programas sociais e quis saber se as promessas sairiam do papel. "Os programas sociais custaram só 3,6 bilhões de reais para o governo federal", disse Lula. "Não estamos confundindo programas sociais com esmolas". Serra questionou o número apresentado pelo petista, garantindo que o governo FHC investiu 28 bilhões de reais nesses programas. "Temos de somar tudo: seguro desemprego, aposentadoria rural e outros benefícios", afirmou o tucano. "A ONU vai premiar o Brasil pelo seu avanço no Índice de Desenvolvimento Humano. O importante é fazer acontecer, não só criticar". Lula, então, voltou a criticar: "Eu não quis confundir programa social com direitos adquiridos do trabalhador, como a aposentadoria rural. Está na cara do bóia-fria que ele trabalhou debaixo do sol por muitos anos".

Os dois candidatos terminaram o debate pedindo o voto do telespectador. Serra confiante na virada. Lula, na vitória. E, mais uma vez, o debate serviu para troca de provocações entre tucano e petista. "No domingo, o eleitor terá um dia para decidir quatro anos. Quatro anos podem mudar décadas", disse Serra. "É por isso que ofereço meu conhecimento do Brasil. E que não é só de viajar". O candidato do PSDB encerrou sua consideração final com a mesma proposta que fez no horário eleitoral: "eu peço que cada eleitor que vá votar em mim convença outro. Assim teremos o "V" da vitória".

Sorrindo, Lula abriu seu encerramento ironizando Serra. "Eu não posso fazer o mesmo pedido de Serra porque senão a gente passa de 100% dos votos", disse o petista. "A esperança vencerá o medo no próximo domingo". Encerrado o debate, Lula e Serra se cumprimentaram, esboçaram um abraço quase fraterno, e foram aplaudidos pelos eleitores presentes. Resta saber se ainda são indecisos ou não.

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