O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou nesta sexta-feira (13/12) mais três nomes para o ministério e confirmou a senadora Marina Silva (PT-AC) na pasta do Meio Ambiente. O anúncio foi feito em Brasília depois de reunião sobre a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Ecônomico e Social.

Foram anunciados: Luiz Fernando Furlan, para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Roberto Rodrigues, para a Agricultura; e Celso Amorim para o Ministério das Relações Exteriores. "Não são só pessoas de extraordinária competência em suas áreas específicas, mas são companheiros e companheiras que darão tudo o que têm de melhor", afirmou Lula.

Furlan, o exportador

O presidente do conselho da Sadia, Luiz Fernando Furlan, é respeitado pelo mercado por ser um conhecido e grande exportador. No Fórum Econômico Mundial, realizado no mês passado no Rio, ele já havia ressaltado a importância de o governo conhecer as empresas exportadoras para gerar uma ajuda mútua. "As empresas podem também ajudar o governo a traçar acordos mais claros e favoráveis ao país", afirmou. O executivo já havia expressado a esperança de que Lula realizasse a promessa de campanha de incluir empresários, e não apenas membros do PT, no ministério.

"Como o mercado interno continua bastante deprimido, o único caminho para a retomada do crescimento é via exportações", disse ele, em recente entrevista para a EXAME. Ao aceitar o posto, Furlan reafirmou que sua prioridade seá abrir mercado para produtos brasileiros em negociações internacionais da Alca e da OMC. Mas não excluiu incentivos a setores específicos por meio de políticas industriais: "Há setores competitivos e outros que precisam de apoio. Políticas de tecnologias e reequipamento setoriais poderão ser adotadas".

O executivo é neto do fundador da Sadia, Atílio Fontana. É o representante dos grupos familiares que controlam a empresa, ao lado de seu primo Walter Fontana Filho, presidente-executivo da empresa. A Sadia, que vende aves, suínos e uma linha de congelados para 60 países, quer fechar este ano com exportações equivalentes a 700 milhões de dólares, contra 642 milhões de dólares no ano passado. A participação das exportações na receita da empresa mais do que dobrou, de 18% em 1998 para 38% em 2001. "Por causa desse esforço de exportação, vamos fechar o ano com 1 000 funcionários a mais", disse Furlan.

Rodrigues, o agricultor

Roberto Rodrigues, considerado um dos papas da moderna agricultura brasileiro, é produtor de soja no Maranhão e de cana-de-açúcar no interior paulista, atual presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) _entidade que reúne toda a cadeia produtiva -- lavoura, fabricantes de insumos e indústria de transformação. "Depois de muitos e muitos anos, finalmente um agricultor assume o Ministério da Produção Rural, que é a locomotiva do desenvolvimento brasileiro", afirmou Rodrigues.

Ele é considerado uma das grandes referências do cooperativismo e é o primeiro latino-americano a presidir a Associação Internacional das Cooperativas. Também é membro do Comitê Empresarial de Comércio Exterior do Itamaraty. Foi Secretário de Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo e, atualmente, é diretor da Ceres Consultoria, especializada no setor de agribusiness.

Rodrigues nasceu em Cordeirópolis (interior de São Paulo) em 12 de agosto de 1942. Formou-se engenheiro agrônomo pela ESALQ-USP, com cursos de aperfeiçoamento em administração rural. A fazenda Santa Isabel, que pertence à família Rodrigues em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, há mais de 50 anos serve de modelo nas relações entre capital e trabalho. "Sempre nos baseamos num tripé formado pela busca de novas alternativas tecnológicas, valorização dos recursos humanos e defesa do ambiente", diz o agrônomo Paulo de Rodrigues, filho do novo ministro da Agricultura.

Casado com Eloisa Helena Araújo Rodrigues, tem ainda outros três filhos e quatro netos. Seu pai, Antônio Rodrigues Filho, foi vice-governador entre 1971-1974 no governo de Laudo Natel, em São Paulo.

Amorim, o diplomata

Celso Luiz Nunes Amorim atualmente é embaixador do Brasil em Londres. Como embaixador na ONU, foi responsável por relatórios sobre a situação iraquiana entre 1998 e 1999 e chefiou as comissões do Conselho de Segurança que discutiram o Iraque em 1999.

Amorim também foi ministro das Relações Exteriores do governo Itamar Franco (1993-1994). Sua principal característica foi dar prioridade à diplomacia multilateral e ao fortalecimento da presença brasileira no âmbito sul-americano. O diplomata nasceu em Santos (litoral de SP), em junho de 1942. É doutor em CIência Política e Relações Internacionais pela London School of Economics, do Reino Unido. Casado com Ana Amorim, tem quatro filhos.

Marina, a ambientalista

A senadora Marina Silva, 44 anos, conhecida como a "Senhora da Floresta", conseguiu expandir seu campo de atuação no Congresso a partir da bandeira ambiental. É apontada como uma liderança com trânsito em todos os partidos. "Ela consegue uma mistura de doçura com firmeza. Passa a idéia de aliar seriedade e competência e sempre evita coflitos diretos", diz o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).

Sobre o polêmico cultivo de transgênicos, ela é prudente: "O Brasil proíbe o cultivo comercial dos transgênicos por um princípio de precaução", diz Marina. "Enquanto não estiver provado que eles não causam danos ao meio ambiente e à saíde, temos de ser cautelosos."

"Ela tem o perfil ideal para o ministério. Tem um conhecimento muito grande na área", diz João Paulo Capobianco, do Instituto Sócio-Ambiental. "É uma lutadora, uma liderança dentro e fora do Brasil." Premiada internacionalmente por sua luta pelo desenvolvimento sustentável das áreas verdes, foi apontada pela ONU (Organização das Nações Unidas) com uma das 25 mulheres mais importantes do mundo no assunto.

O anúncio dos novos ministros foi feito durante o encontro no Hotel Naoum, em Brasília, que discute a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Participam aproximadamente 150 pessoas, representantes das classes empresariais, trabalhadores, ONGs e do governo eleito.