Lucro de bancos é maior que o superávit de todos os estados brasileiros

Bancos, instituições financeiras e seguradoras atingiram o topo da lista dos setores mais lucrativos da economia brasileira. Segundo pesquisa da Economática com 274 empresas de capital aberto, os bancos e seguradoras listados na Bolsa de São Paulo (Bovespa) alcançaram um lucro de 9,9 bilhões de reais no ano passado. É um resultado surpreendente, principalmente levando-se em conta que o ano de 2002 foi de prejuízo para a grande maioria das companhias , diz Fernando Exel, presidente da Economática.

O lucro de 17 bancos e seguradoras superou o desempenho de 205 empresas de capital aberto não-financeiras (incluindo a Petrobrás), que segundo outro levantamento da Economática registram juntas um lucro líquido de 9,2 bilhões de reais no ano passado. Para ter uma idéia da dimensão do resultado do setor financeiro basta lembrar que os 9,9 bilhões registrados pelos bancos bateram o superávit primário de 8,5 bilhões de reais alcançado com o esforço de caixa dos 27 estados brasileiros.

Para Exel, a dianteira dos bancos pode ser atribuída, em parte, ao baixo desempenho de outros setores da economia, que tiveram seus lucros corroídos pela variação cambial. A grande maioria das companhias abertas busca juros menores em capitações no exterior e tem dívidas em dólar , diz. As empresas de energia, por exemplo, as mais endividadas, são as lanterninhas, com um prejuízo de 11,4 bilhões de reais. Mas há três anos representavam o quinto setor em lucratividade, com um resultado positivo de 4 bilhões de reais.

O setor financeiro brasileiro já esteve em posição igualmente delicada e até precisou de um programa de salvamento, o Proer. Na segunda metade dos anos 90, também passou a conviver com a concorrência de bancos e seguradoras internacionais e sofreu grandes ajustes antes de galgar posições no ranking dos setores mais lucrativos. Em 2000 era o terceiro colocado, com lucro de 4,8 bilhões de reais. Seu resultado ficava atrás dos 5,9 bilhões registrados pelo setor telecomunicações, e dos 14 bilhões contabilizados pelo setor de petróleo e gás. Em 2001, o lucro cresceu para 7,6 bilhões de reais, mas ainda ficava atrás das empresas petrolíferas, que lucraram 13 bilhões.

As pessoas pensam que basta colocar uma placa com os dizeres aqui banco e vai chover dinheiro , diz Keyler Carvalho Rocha, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF). Mas, para ser lucrativo nesse setor, competência é fundamental. As quatro maiores instituições por lucratividade em 2002, por exemplo, fecharam agências, demitiram, reestruturaram tesourarias e informatizaram os serviços. São elas: Banespa (2,8 bilhões), Itaú (2,4 bilhões), Banco do Brasil (2 bilhões) e Bradesco (2 bilhões).

Na avaliação do Keiller, os bancos ganham, sim, com operações envolvendo títulos do governo, com altas tarifas por um número incontável de serviços - da administração do cartão de crédito ao boleto de pagamento - e com os spreads (a diferença entre o que pagam para capitar o dinheiro e cobram para emprestá-los aos seus clientes). Mas as taxas são altas para cobrir os altos riscos , diz. Em um cenário de juros baixos e câmbio estável, os bancos eficientes vão até ganhar mais, porque podem cobrar menos e ampliar o número de clientes.