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Levy participou de manifesto crítico ao governo em setembro

Em artigo, Levy defendeu que governo coloque uma trajetória clara de queda dos gastos correntes e da dívida pública e criticou desonerações do governo Dilma

Joaquim Levy, então secretário estadual do Rio de Janeiro, dando entrevista em Nova York em 2010 (Ramin Talaie/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de novembro de 2014 às 17h22.

São Paulo - Joaquim Levy passa a fazer parte do governo a partir desta quinta-feira, quando seu nome foi anunciado pelo Planalto para o Ministério da Fazenda .

Há poucos meses, no entanto, o economista do Bradesco não só colaborou informalmente com a campanha de Aécio Neves como participou de um documento que criticava ponto a ponto a política praticada pelo governo federal.

"Sob a Luz do Sol: uma Agenda para o Brasil" foi publicado em 25 de setembro deste ano pelo Centro de Debate de Políticas Públicas. uma organização "sem fins lucrativos, independente e apartidária" de orientação liberal.

O documento é "uma obra conjunta dos associados", entre os quais estão nomes como Edmar Bacha, Eduardo Gianetti, Pedro Malan, Celso Lafer e Samuel Pessôa.

Levy não é associado oficialmente, mas seu artigo "Robustez Fiscal e Qualidade do Gasto como ferramentas para o crescimento" foi uma das bases para o documento. Sua tese principal: "a responsabilidade fiscal continua essencial para o crescimento econômico do Brasil."

Gastos: "a trajetória da despesa pública não pode ser tratada com complacência"

Levy ficou conhecido como "mãos de tesoura" por seu rigor fiscal quando foi secretário do Tesouro de Lula entre 2003 e 2006 e secretário das Finanças do Rio de Janeiro entre 2007 e 2010. Não foi por acaso que seu nome acabou escolhido em um momento que requer um "cavalo de pau" nas contas públicas.

No trabalho, Levy destaca que os gastos federais cresceram 4 pontos percentuais como proporção do PIB entre 1999 e 2013, mesmo em um cenário de crescimento expressivo do PIB.

Além dos programas sociais, houve um aumento expressivo da previdência - desafio que só tende a crescer com o envelhecimento da população - e dos gastos com abono salarial e seguro desemprego -  que devem ser os primeiros alvos de cortes neste momento.

"As medidas tomadas nos últimos anos acabaram impedindo da dívida pública cair como proporção do PIB, não obstante a queda de juros e o relativo vigor do PIB nominal. Assim, a dívida bruta como proporção do PIB é ainda maior no Brasil do que a na maioria dos nossos pares entre emergentes, incluindo Rússia e China (empata com Índia)", diz Levy.

Ele mostra que uma queda sustentada da relação entre dívida e PIB significaria mais espaço para queda dos juros, mais financiamento de infraestrutura e uma possível melhora do rating do país.

Por enquanto, o desafio do Levy será evitar no mínimo mais um rebaixamento pelas agências internacionais. Perder o grau de investimento conquistado em 2008 implicaria em custos maiores de financiamento para as empresas e para o governo.

Receita: "quanto mais exceções se criam, mais complexa se torna a legislação, aumentando também as distorções"

No artigo, Levy também nota que a carga tributária brasileira está entre as mais altas dos países em desenvolvimento e prejudica o crescimento - tanto pelo seu tamanho como pela sua complexidade. Pior: o fato de que a maior parte dos tributos incide sobre o consumo piora a distribuição de renda.

Segundo ele, o governo "perdeu a oportunidade", mas uma reforma tributária "é primordial e viável", no mínimo com o fim da guerra fiscal: "A harmonização do ICMS reduziria enormemente o ônus sobre as empresas, e pode ser alcançada se houver liderança do governo."

Levy critica o uso de desonerações do governo Dilma: "Usar ferramentas fiscais para aumentar a competitividade de alguns setores da economia ou no combate à inflação tende a criar custos permanentes para ganhos fugazes. (...) [as desonerações] foram acompanhadas por artifícios contábeis a partir de 2012, prática infelizmente coincidente com o fim do ciclo de relaxamento monetário."

Ao longo do texto, Levy bate na tecla de que falta transparência, planejamento e monitoramento do gasto público, e que falta à União aproveitar melhor as experiências dos estados. E vai além:

"Uma regra poucas vezes utilizadas na análise das políticas públicas é a de medir não só o que foi alcançado com determinado programa, mas também o que foi sacrificado para financiá-lo. Esse sacrifício inclui não só outros programas com tanto ou mais mérito, mas o que deixou de ser feito pelo setor privado, por exemplo porque os impostos ou a burocracia que não foi combatida tornaram inviável atividades que poderiam ter impacto positivo na geração e difusão da riqueza nacional."

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Há poucos meses, no entanto, o economista do Bradesco não só colaborou informalmente com a campanha de Aécio Neves como participou de um documento que criticava ponto a ponto a política praticada pelo governo federal.

"Sob a Luz do Sol: uma Agenda para o Brasil" foi publicado em 25 de setembro deste ano pelo Centro de Debate de Políticas Públicas. uma organização "sem fins lucrativos, independente e apartidária" de orientação liberal.

O documento é "uma obra conjunta dos associados", entre os quais estão nomes como Edmar Bacha, Eduardo Gianetti, Pedro Malan, Celso Lafer e Samuel Pessôa.

Levy não é associado oficialmente, mas seu artigo "Robustez Fiscal e Qualidade do Gasto como ferramentas para o crescimento" foi uma das bases para o documento. Sua tese principal: "a responsabilidade fiscal continua essencial para o crescimento econômico do Brasil."

Gastos: "a trajetória da despesa pública não pode ser tratada com complacência"

Levy ficou conhecido como "mãos de tesoura" por seu rigor fiscal quando foi secretário do Tesouro de Lula entre 2003 e 2006 e secretário das Finanças do Rio de Janeiro entre 2007 e 2010. Não foi por acaso que seu nome acabou escolhido em um momento que requer um "cavalo de pau" nas contas públicas.

No trabalho, Levy destaca que os gastos federais cresceram 4 pontos percentuais como proporção do PIB entre 1999 e 2013, mesmo em um cenário de crescimento expressivo do PIB.

Além dos programas sociais, houve um aumento expressivo da previdência - desafio que só tende a crescer com o envelhecimento da população - e dos gastos com abono salarial e seguro desemprego -  que devem ser os primeiros alvos de cortes neste momento.

"As medidas tomadas nos últimos anos acabaram impedindo da dívida pública cair como proporção do PIB, não obstante a queda de juros e o relativo vigor do PIB nominal. Assim, a dívida bruta como proporção do PIB é ainda maior no Brasil do que a na maioria dos nossos pares entre emergentes, incluindo Rússia e China (empata com Índia)", diz Levy.

Ele mostra que uma queda sustentada da relação entre dívida e PIB significaria mais espaço para queda dos juros, mais financiamento de infraestrutura e uma possível melhora do rating do país.

Por enquanto, o desafio do Levy será evitar no mínimo mais um rebaixamento pelas agências internacionais. Perder o grau de investimento conquistado em 2008 implicaria em custos maiores de financiamento para as empresas e para o governo.

Receita: "quanto mais exceções se criam, mais complexa se torna a legislação, aumentando também as distorções"

No artigo, Levy também nota que a carga tributária brasileira está entre as mais altas dos países em desenvolvimento e prejudica o crescimento - tanto pelo seu tamanho como pela sua complexidade. Pior: o fato de que a maior parte dos tributos incide sobre o consumo piora a distribuição de renda.

Segundo ele, o governo "perdeu a oportunidade", mas uma reforma tributária "é primordial e viável", no mínimo com o fim da guerra fiscal: "A harmonização do ICMS reduziria enormemente o ônus sobre as empresas, e pode ser alcançada se houver liderança do governo."

Levy critica o uso de desonerações do governo Dilma: "Usar ferramentas fiscais para aumentar a competitividade de alguns setores da economia ou no combate à inflação tende a criar custos permanentes para ganhos fugazes. (...) [as desonerações] foram acompanhadas por artifícios contábeis a partir de 2012, prática infelizmente coincidente com o fim do ciclo de relaxamento monetário."

Ao longo do texto, Levy bate na tecla de que falta transparência, planejamento e monitoramento do gasto público, e que falta à União aproveitar melhor as experiências dos estados. E vai além:

"Uma regra poucas vezes utilizadas na análise das políticas públicas é a de medir não só o que foi alcançado com determinado programa, mas também o que foi sacrificado para financiá-lo. Esse sacrifício inclui não só outros programas com tanto ou mais mérito, mas o que deixou de ser feito pelo setor privado, por exemplo porque os impostos ou a burocracia que não foi combatida tornaram inviável atividades que poderiam ter impacto positivo na geração e difusão da riqueza nacional."

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